sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
1245 - Balanço prospectivo do ano velho
Cada vez mais, acho menos graça a datas fixas pelo calendário. Gosto de algumas que fazem sentido ligadas à Natureza e às estações do ano, outras não fazem muito sentido. Acreditar que por se rasgar uma folha de calendário tudo mudará num toque de mágica já deixou de fazer sentido para mim...
No entanto... É sempre bom pensar no que ocorreu na espuma dos dias e neste vai e vem constante para recordar o bom e para evitar os erros cometidos. Isso sim, ajuda a melhorar o novo ano que agora entra
Da minha parte, gostei de ter recomeçado esta semana a andar de transportes públicos (acabou a lufa-lufa da formação, a gasolina está cada vez mais cara e gastando quase o mesmo tempo, ganho tempo para ler). Entre ontem e hoje devorei já um livro e tive a grata alegria de voltar a ver as cores de Lisboa ao por do sol. Que lindas são as cores de Lisboa e as suas colinas quando se lhe dá o poente. Que pena não ter a máquina ao pé de mim para registar o momento (fica na memória) Hoje que tinha a máquina já vim mais tarde e choviscava...
---
Irei fazer meus dois textos que me podem ajudar a ter um ano extraordinário (apesar de tudo o que aí vem)
De Charlie Chaplin
Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.
Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas
quando nunca pensei me decepcionar,
mas também decepcionei alguém.
Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.
Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
“quebrei a cara muitas vezes”!
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial
(e acabei perdendo).
Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!
Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é “muito” pra ser insignificante.
Charles Chaplin
(16 de Abril de 1889 — 25 de Dezembro de 1977)
E, sobre a gestão do tempo (que é um defeito meu)
Há cada vez menos tempo para terminar todas as tarefas que temos diariamente. Tarefas profissionais e domésticas podem levar-nos à exaustão por incapacidade de fazer tudo aquilo que tínhamos planeado no início do dia. Para melhorar precisamos de dominar a técnica de Gestão do Tempo.
À primeira vista podemos pensar que a gestão do tempo é estarmos a perder ainda mais tempo precioso que podíamos usar para implementar mais rapidamente, mas os estudos existentes mostram que não é verdade.
O problema de gerir o tempo não é apenas o facto de termos muitas coisas para fazer durante o dia, é principalmente uma questão de não gerirmos o tempo a nosso favor para fazer o que tem de ser feito de importante na altura em que estamos mais produtivos. Muitas vezes estamos ocupados a fazer as coisas urgentes mesmo que não sejam as coisas mais importantes. Aliás podemos até estar a perder tempo com coisas insignificantes que prejudicarão em muito a nossa gestão do tempo mais tarde.
Após vários estudos na área da gestão de tempo, concluiu-se que os maiores gastadores de tempo são:
- Interrupções mal geridas. Não podemos acabar com as interrupções, mas podemos aprender a geri-las eficientemente.
- Atitude. Passar o dia sem qualquer objectivo real, deixando as horas passarem e adiando todas as tarefas até à última hora possível.
- Não delegar correctamente. Não partilhar o trabalho com os outros e tentar fazer tudo sozinho, mesmo que saiba que não será possível.
Uma má gestão do tempo leva a que fiquemos irritados com os colegas, cansados física e psicologicamente, dificuldades de concentração, não dormir bem (que afecta toda a sua performance do dia) e em casos extremos, uma depressão.
Princípios de Gestão do Tempo
Aqui ficam algumas formas correctas de gestão do tempo:
Aprenda a reconhecer em si o problema da gestão do tempo e como se manifesta em si. Stress? Cansaço?
Não trabalhe mais horas só porque não consegue ter o trabalho pronto. Aprenda a gerir o tempo e a usar as horas que dispõe da forma mais produtiva possível, depois esqueça o trabalho e vá para casa.
Planeie o seu tempo antes de começar a trabalhar. Isto dar-lhe-á uma excelente sensação de estar com as coisas controladas.
Preocupe-se em mostrar resultados durante o tempo que passa na empresa e não em trabalhar mais horas do que os outros. O seu chefe vai reconhecê-lo como sendo uma pessoa que age rapidamente, não perde tempo com coisas insignificantes e entrega os resultados que a empresa necessita.
Técnicas de Gestão do Tempo
Se tem funções de gestão ou supervisão, verá que tem muitas coisas a correrem em simultâneo e a empresa deseja que entregue os resultados em todos os projectos paralelos, mesmo que você seja apenas um.
Por isso, o objectivo de gestão de tempo não deverá ser o de encontrar mais tempo nas horas do dia, mas sim usar o tempo que tem de forma eficiente. É preciso praticar para ir conhecendo o sistema que melhor funciona com o seu corpo. Por exemplo, pode ser uma pessoa madrugadora ou não e isso influenciará a forma como abordar os problemas do dia.
Uma forma de analisar a forma como gasta o seu tempo é fazendo um diário das tarefas e do tempo que gastou. Aponte tudo o que fez, tarefas importantes, tarefas insignificantes, pausas e deslocações. Faça isso durante uma semana e analise os resultados no final, para ver se gastou o tempo nos sítios em que devia ou não.
Faça uma lista de tarefas do dia, antes de começar a trabalhar. Idealmente essa lista deveria ser feita no final do dia anterior, com a indicação da importância. No dia seguinte, comece logo a trabalhar sem interrupções na tarefa mais importante e vá seguindo para as tarefas menos importantes. Se não conseguir fazer tudo durante o dia, pelo menos sabe que fez as tarefas mais importantes.
Aprenda também a deixar o seu local de trabalho organizado no final do dia. Não perde mais de cinco minutos e quando chegar no dia seguinte vai ter uma sensação muito agradável.
Aprenda a fazer a distinção entre as tarefas que pode delegar e as tarefas que tem mesmo de fazer. Escolha fazer aquelas que mais ninguém poderá fazer e que tenham a máxima importância na sua função para o bem da empresa onde trabalha.
Quando está a trabalhar nas tarefas importantes, faça tudo o que estiver ao seu alcance para não ser interrompido. Desligue o telefone, não veja o e-mail, coloque um sinal a dizer ‘ocupado’.
Não esteja constantemente a ver o seu e-mail. Desligue os alertas e leia os e-mails todos durante horas certas do dia. Por exemplo, duas vezes por dia, uma de manhã e outra de tarde.
Aprenda a organizar a sua informação para não perder tempo à procura, quando devia estar a trabalhar.
É muito importante deixar espaços vagos na agenda, para pequenos imprevistos e principalmente para poder parar frequentemente e analisar o que já fez, o que falta fazer e retomar o rumo certo para ter um dia produtivo.
Aprenda a gerir reuniões, porque são uma das principais formas de perder tempo das empresas.
A gestão de tempo é uma disciplina que requer algum planeamento e muita vontade de ser produtivo. Mas é também uma forma de fazer o seu trabalho motivado durante o tempo em que está na empresa e depois ir para sua casa e aproveitar o resto do tempo para si, para relaxar com a família e ganhar forças para o dia seguinte. Com uma correcta gestão do tempo irá viver mais saudavelmente.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
1244 - Jó, Romance de um Homem simples
Este foi mesmo o que se chama de amor à primeira vista. Li a crítica no "Expresso" de 18 de Dezembro, anotei na minha lista de compras, nas trocas de Natal fui a correr comprá-lo e li-o em dois dias...
A história é a conhecida da Bíblia...
"Numa cidadezinha russa do início do século XX vivia um judeu muito simples e religioso. Seu nome era Mendel Singer. Homem comum, modesto e temente a Deus, Mendel exercia o ofício de professor, transmitindo os ensinamentos da Bíblia às crianças. Com a mulher, Débora, teve três filhos: Jonas, Schemariah e Miriam. Mas o nascimento do quarto filho dá início a uma série de tormentos: Menuhim é uma criança doente, vitimada pela fraqueza, pela deformidade física e pela epilepsia.
A eclosão da guerra traz novos infortúnios à família Singer. Entre alistamento e deserção, os dois filhos saudáveis de Mendel e Débora tomarão decisões opostas: uma conduzirá aos campos de batalha; a outra, à emigração para a América. Auxiliado pelo filho no estrangeiro e atormentado pelos namoros constantes da filha com os cossacos, também Mendel tomará a decisão de partir. Ao fazê-lo, porém, terá de deixar para trás o filho doente."
Se o leitor já está à espera de uma romance sobre o sofrimento do justo, bem depressa se enamora do relato e se centra na questão central que está muito bem contada: "por que sofre o homem justo?"
É um tema clássico, Saramago também pega muito bem nele em alguns dos seus romances: O evangelho de Jesus Cristo, Caim, O memorial do convento...
Neste romance o drama vai crescendo e chega a ser empolgante a cena da luta entre o bom Mendel e Deus.
«Não blasfemes, Mendel», disse Skowronnek após um longo silêncio. «Sabes melhor do que eu, pois estudaste muito mais, que os golpes de Deus têm um sentido oculto. Nós não sabemos porque somos castigados.» «Mas eu sei, Skowronnek», respondeu Mendel. «Deus é cruel e quanto mais lhe obedecemos, mais severo é connosco.
É mais poderoso do que os poderosos, a quem pode aniquilar com a unha do seu dedo mindinho, mas não o faz. Os fracos é que ele gosta de destruir. A fraqueza de um homem desafia a sua força e a obediência desperta a sua ira. É um grande e cruel ispravnik. Se cumpres a lei, ele diz-te que só a cumpriste em proveito próprio. Se infringes um mandamento que seja, ele persegue-te com cem castigos. Se o queres corromper, põe-te um processo. E se te comportas honestamente com ele, ele fica a aguardar o suborno. Em toda a Rússia não existe pior ispravnik! »
É um grande romance sobre o mistério da vida e da morte
Jó - Romance de um homem simples
A história é a conhecida da Bíblia...
Se o leitor já está à espera de uma romance sobre o sofrimento do justo, bem depressa se enamora do relato e se centra na questão central que está muito bem contada: "por que sofre o homem justo?"
É um tema clássico, Saramago também pega muito bem nele em alguns dos seus romances: O evangelho de Jesus Cristo, Caim, O memorial do convento...
Neste romance o drama vai crescendo e chega a ser empolgante a cena da luta entre o bom Mendel e Deus.
«Não blasfemes, Mendel», disse Skowronnek após um longo silêncio. «Sabes melhor do que eu, pois estudaste muito mais, que os golpes de Deus têm um sentido oculto. Nós não sabemos porque somos castigados.» «Mas eu sei, Skowronnek», respondeu Mendel. «Deus é cruel e quanto mais lhe obedecemos, mais severo é connosco.
É mais poderoso do que os poderosos, a quem pode aniquilar com a unha do seu dedo mindinho, mas não o faz. Os fracos é que ele gosta de destruir. A fraqueza de um homem desafia a sua força e a obediência desperta a sua ira. É um grande e cruel ispravnik. Se cumpres a lei, ele diz-te que só a cumpriste em proveito próprio. Se infringes um mandamento que seja, ele persegue-te com cem castigos. Se o queres corromper, põe-te um processo. E se te comportas honestamente com ele, ele fica a aguardar o suborno. Em toda a Rússia não existe pior ispravnik! »
É um grande romance sobre o mistério da vida e da morte
1243 - Leituras recentes
Recentemente acabei de ler estas dois livros de Helena Marques. Retratam um universo muito feminino. confesso que gostei mais de ler o Último Cais pela força das personagens femininas e por relatar a vida na madeira no séc XIX. O segundo (continuação do primeiro) é mais uma história de amor que imagino que seja mais ou menos comum na literatura destinada ao público feminino (preconceito meu, claro está). Como o romance se passa em Malta onde estive à pouco tempo, a leitura interessou-me de um modo particular...
Luciana é a mulher livre, que antecipa o século XX.
Leituras recentes - De Helena Marques
Clara é a outra filha de Raquel, cândida e harmoniosa.
Luciana é a mulher livre, que antecipa o século XX.
A DEUSA SENTADA Em 1994, Marques publica A deusa sentada. Esta obra é a continuação da anterior. Em O último cais, Raquel dá à luz Clara. Em A deusa sentada, Clara é a avó de Laura A autora continua o tema da busca da identidade da feminina e do retorno às raízes. Como é esta mulher do século XX? As personagens principais são Laura e Matilde, duas mulheres independentes e profissionais. Laura e Matilde estão unidas por um profundo elo afetivo Ambas são mulheres maduras, que revêem a condição feminina na meia-idade. Pode-se amar ansiar pelo amor mesmo com mais idade. Laura é casada com Lourenço, que não aparece na obra. Ela é dona de uma livraria. Matilde é descasada. Matilde fora casada com Artur, vítima da guerra e um desadaptado social É tradutora de livros e faz traduções simultâneas. Trata-se de um romance “detetivesco”: achar o paradeiro de André Villa (ou Vella), em Malta. “Detetive de factos contemporâneos, investigador de papéis antigos, qual é a diferença? Apenas uma questão de presente e passado - ou não será?” Por que Malta? “Porque Malta fôra terra de incessante migração, em que poderia servi-las?” Porque Malta tem a pequenez e a fragilidade aparente das mulheres. A capital de Malta, onde se desenrola o romance, é La Valletta, nome de um dos grão-mestres; capital com uma história antiga. De lá, muitos emigraram para o Funchal. Marques faz uma revisão histórica, sobretudo porque a de Malta costuma passar despercebida. A História, ou melhor, o passado é fundamental para Laura: “Pessoalmente, tenho de confessar-me muito mais seduzida pelo passado, afinal é ele que me justifica, é nele que me reencontro e entendo, é apoiada nele que me projecto no futuro”. Na História estão as raízes. Laura e Matilde encontram suas raízes nesta viagem a Malta, numa figura simbólica feminina: no templo de Hagar Qim, [que] é a de uma mulher sentada, pés e mãos minúsculos, reduzidos a uma mera sugestão, toda a força emana dos poderosos troncos e coxas, os joelhos estão dobrados lateralmente e repousam no chão afastados um do outro, o pé esquerdo aflorando a perna direita, numa posição cheia de placidez a que só a linha dos ombros bem erguidos imprime altivez e dignidade. “Malta é como a pequena Deusa Sentada, Malta é a própria Deusa Sentada”. A mulher portuguesa é esta deusa sentada, “ensinando o seu povo a resistir e a preservar os valores tradicionais e também lucidamente, a distinguir e a assimilar os valores que os outros iam deixando”. Esta Deusa Sentada é a Mulher, mulher universal. É uma mulher-deusa: “ilha-mãe acolhedora, sedutora, misteriosa, terna e eterna. |
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Poema do menino Jesus
Bom Natal
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
1241 - Ficam as boas recordações e também faz parte da playlist
Canção da América
Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração
Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.
Milton Nascimento
Rap de Natal
O rap do Natal_2
1240 - Testemunhos de Natal
No último dia de aulas acompanhei uma turma numa festa de Natal organizada pela DT e conselho de Turma.
Cantaram, riram e também disseram, à maneira de um jogral, o poema abaixo. É mesmo um poema delicioso que foi escrito para ser dito e não apenas para ser lido.
Veja-se a fonética e a onomatopeia! Belo.
Quem o escreveu? Vinicius, pois claro
Testemunhos de Natal
De repente o sol raiou
E o galo cocoricou:
— Cristo nasceu!
O boi, no campo perdido
Soltou um longo mugido:
— Aonde? Aonde?
Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:
— Em Belém! Em Belém!
Eis senão quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:
— Foi sim que eu estava lá!
E o papagaio que é gira
Pôs-se a falar: — É mentira!
Os bichos de pena, em bando
Reclamaram protestando.
O pombal todo arrulhava:
— Cruz credo! Cruz credo!
Brava
A arara a gritar começa:
— Mentira! Arara. Ora essa!
— Cristo nasceu! canta o galo.
— Aonde? pergunta o boi.
— Num estábulo! — o cavalo
Contente rincha onde foi.
Bale o cordeiro também:
— Em Belém! Mé! Em Belém!
E os bichos todos pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe aplicaram
Uma grandíssima surra.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
1239 - A minha playlist
Hoje em dia, já não estou certo de poder dizer o "tu não" que dizia com convicção há anos atrás...
Tive que aprender a ser "hábil" e a "calar-me", no entanto há outros "tu não" que me orgulho de poder continuar a afirmar.
Do que mais me orgulho é o de ainda falhar os cálculos e ir de mãos dadas com o perigo. Como dizia alguém esta semana, "quem nunca arriscou, nunca deu o beijo da sua vida". Felizmente que continuo vivo! Felizmente que não vou à sombra dos abrigos e procuro manter um rumo.
Voa alto... voltamos ao início do blogue!
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andersen
domingo, 19 de dezembro de 2010
1238 - Lá vem ele com uma de ingenuidade e sentimentalismo
O tom é mais profundo e prende-se com uma mundividência. Esta semana foi repleta de momentos intensos e de verdadeira comunhão e sentimento de fraternidade (compreendendo desde já que esta palavra está carregada de múltiplas leituras e que corro um risco ao usa-la) entre colegas de vários ambientes de trabalho onde me movo...
Na escola, após uma ausência de uns dias o acolhimento foi caloroso. Como estás? que fazes? contrastando com um ambiente de chumbo que se sente na sala de professores. Uma mãe conversa comigo e elogia o meu trabalho de uma forma que me deixou sem jeito (e logo eu que acho que só faço a minha obrigação) e que acredita que marcarei a filha para o futuro.
Nos outros trabalhos também um ambiente de profunda empatia: O final de uma formação intensa na qual se sentiu estabelecer uma relação pessoal, um almoço no dia seguinte em que me senti muito bem acolhido...
Mais adiante um almoço e um jantar profundamente calorosos com gente que quero muito e muito me ampara para o bem e para o mal
Que diabo! depois de experimentar o excelente não me contento com a mediocridade nas relações entre as pessoas. Esta coisa de estar sempre na defensiva... de sacanear,de passar por cima para...
É possível viver de outro modo!
Sim sou crente, mas não sou daqueles que vivem esta vida no sentido do coitadinho ou do batam-me ou de servir de capacho para depois ter uma recompensa lá num assento etéreo ou lá o que é!
Quero já o Céu ou o que quer que seja já aqui e agora. É possível! Basta querer
(bom já vi que devo ser pouco crente pois cada vez tenho menos paciência para perdoar a quem me sacaneia vezes sem fim)
(obrigado Maria pelo link)
Padre Pueblo PATXI ANDION
Padre Pueblo que estás en la Tierra,
elevados sean tus hombres.
Traigamos tu reino,
y se haga tu voluntad
así en la tierra como en la mar.
El pan de todos de cada día
ganémosle hoy,
y perdónanos el haber nacido.
No permitas que perdonemos nunca a nuestros deudores,
y haznos caer en la tentación de la libertad.
Y líbranos del mal de la soledad.
Amén.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
1237 - A minha playlist
Ouvi-a pela primeira vez com os meus 12/13 anos na casa de uma amiga cuja mãe era viúva recente. Pelos vistos a mãe ouvia-a muito...
Foi a primeira vez que consciencializei que podia haver ausência de um amor... ausência
Confesso que não a entendi muito bem nessa altura, mas logo que pude comprei o disco
Marcou-me... Sempre fui muito ingénuo e um pouco despreocupado (se calhar ainda o sou). Por essa altura tive o meu primeiro choque epistemológico.
Tenho-a ouvido ao longo destes anos em fases de ausência e saudades do futuro, de um não sei quê, que surge não sei de onde...
L'absence
C'est un volet qui bat
C'est une déchirure légère
Sur le drap où naguère
Tu as posé ton bras
Cependant qu'en bas
La rue parle toute seule
Quelqu'un vend des mandarines
Une dame bleu-marine
Promène sa filleule
L'absence, la voilà
L'absence
D'un enfant, d'un amour
L'absence est la même
Quand on a dit je t'aime
Un jour...
Le silence est le même
C'est une nuit qui tombe
C'est une poésie aussi
Où passaient les colombes
Un soir de jalousie
Un livre est ouvert
Tu as touché cette page
Tu avais fêlé ce verre
Au retour d'un grand voyage
Il reste les bagages
L'absence, la voilà
L'absence
D'un enfant, d'un amour
L'absence est la même
Quand on a dit je t'aime
Un jour...
Le silence est le même
C'est un volet qui bat
C'est sur un agenda, la croix
D'un ancien rendez-vous
Où l'on se disait vous
Les vases sont vides
Où l'on mettait les bouquets
Et le miroir prend des rides
Où le passé fait le guet
J'entends le bruit d'un pas
L'absence, la voilà
L'absence
D'un enfant, d'un amour
L'absence est la même
Quand on a dit je t'aime
Un jour...
Le silence est le même.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
1236 - Outono, quase Inverno
Chuva
Ponto a ponto se transcrevem os dias.
Cansou-se o sal de ser demais pujante
e ei-lo que esmorece numa palidez de trégua. Fia
mais fino o vento. Gota a gota
a chuva toma o seu lugar que, por direito,
nas horas que decorrem lhe pertence.
é então que a água fértil nos inunda
e enquanto bebemos vinho novo
há um campo de amor que é possuído
no amor em que a água e terra se repartem.
e caem folhas acenando a despedida
de um tempo em que o tempo estava feito.
mas nada atinge o belo nesta vida
a não ser que a chuva regue um amor-perfeito
Nuno Gomes dos Santos
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
A trégua de Primo Levi
Trata-se de "a Trégua" de Primo Levi (Turim, 1919-87)
A trégua narra a longa e incrível viagem de volta para casa depois da libertação de Auschwitz e do fim da guerra (Ver mapa) . Numa Europa semi destruída, o autor e vários companheiros de estrada viajam sem destino pelo Leste até a URSS, premidos entre as ruínas da maior de todas as guerras e o absurdo da burocracia dos vencedores.
Afinal a libertação tão ansiada não conduziu ninguém logo de volta a casa
Deixo aqui um excerto do magnífico relato:
Mas bem cedo, logo desde as primeiras horas de viagem, tivemos de perceber que a hora da impaciência não tinha ainda soado: aquele itinerário feliz perspectivava-se longo e laborioso e não isento de surpresas: uma pequena odisseia ferroviária dentro da nossa odisseia maior. Precisávamos ainda de muita paciência, em doses imprevisíveis: de outra paciência.
o nosso comboio tinha mais de meio quilómetro de comprimento; os vagões encontravam-se em mau estado, as linhas também, a velocidade era irrisória, não superior aos quarenta ou cinquenta quilómetros horários. A linha era de via única; eram poucas as estações que dispunham de uma derivação tão comprida que permitisse a paragem, muitas vezes o comboio tinha de ser separado em duas ou três partes, e empurrado para as linhas de estacionamento com manobras complicadas e lentíssimas, para permitir a passagem de outros comboios.
Não existiam autoridades a bordo, à excepção do maquinista e da escolta, constituída pelos sete soldados de dezoito anos que tinham vindo da Áustria para nos aprisionarem. Estes, embora armados até aos dentes, eram criaturas cândidas e bem-educadas, de espírito ingénuo e pacífico, vivos e despreocupados como colegiais em férias, e absolutamente privados de autoridade e de sentido prático. A cada paragem do comboio, víamo-los passear pela plataforma para cima e para baixo, com a parabellum a tiracolo e de ar feroz e oficioso. Davam-se ares de muita importância, como se escoltassem um transporte de perigosos bandidos, mas era tudo aparências: em breve nos apercebemos de que as suas inspecções se centravam cada vez mais nos dois vagões das famílias, a meio do comboio. Não eram atraídos pelas mulheres jovens, mas pela atmosfera vagamente doméstica que emanava daqueles aciganados lares ambulantes, e que talvez lhes recordasse a casa longínqua e a infância que praticamente só agora terminava"
1235 - A trégua de Primo Levi
Trata-se de "a Trégua" de Primo Levi (Turim, 1919-87)
A trégua narra a longa e incrível viagem de volta para casa depois da libertação de Auschwitz e do fim da guerra (Ver mapa) . Numa Europa semi destruída, o autor e vários companheiros de estrada viajam sem destino pelo Leste até a URSS, premidos entre as ruínas da maior de todas as guerras e o absurdo da burocracia dos vencedores.
Afinal a libertação tão ansiada não conduziu ninguém logo de volta a casa
Deixo aqui um excerto do magnífico relato:
Mas bem cedo, logo desde as primeiras horas de viagem, tivemos de perceber que a hora da impaciência não tinha ainda soado: aquele itinerário feliz perspectivava-se longo e laborioso e não isento de surpresas: uma pequena odisseia ferroviária dentro da nossa odisseia maior. Precisávamos ainda de muita paciência, em doses imprevisíveis: de outra paciência.
o nosso comboio tinha mais de meio quilómetro de comprimento; os vagões encontravam-se em mau estado, as linhas também, a velocidade era irrisória, não superior aos quarenta ou cinquenta quilómetros horários. A linha era de via única; eram poucas as estações que dispunham de uma derivação tão comprida que permitisse a paragem, muitas vezes o comboio tinha de ser separado em duas ou três partes, e empurrado para as linhas de estacionamento com manobras complicadas e lentíssimas, para permitir a passagem de outros comboios.
Não existiam autoridades a bordo, à excepção do maquinista e da escolta, constituída pelos sete soldados de dezoito anos que tinham vindo da Áustria para nos aprisionarem. Estes, embora armados até aos dentes, eram criaturas cândidas e bem-educadas, de espírito ingénuo e pacífico, vivos e despreocupados como colegiais em férias, e absolutamente privados de autoridade e de sentido prático. A cada paragem do comboio, víamo-los passear pela plataforma para cima e para baixo, com a parabellum a tiracolo e de ar feroz e oficioso. Davam-se ares de muita importância, como se escoltassem um transporte de perigosos bandidos, mas era tudo aparências: em breve nos apercebemos de que as suas inspecções se centravam cada vez mais nos dois vagões das famílias, a meio do comboio. Não eram atraídos pelas mulheres jovens, mas pela atmosfera vagamente doméstica que emanava daqueles aciganados lares ambulantes, e que talvez lhes recordasse a casa longínqua e a infância que praticamente só agora terminava"
domingo, 12 de dezembro de 2010
1234 - A minha playlist
A razão desta escolha é tão óbvia que nem necessita descrição. Basta ler a letra e navegar no blogue...
Um auto-retrato de que gosto e me identifico desde que a ouvi a primeira vez, no tempo em que ainda via (já não tão assiduamente como antes)o festival da Canção.
Por esta altura o grupo de amigos e as opções de futuro marcavam muito(íssimo) os meus dias e noites!
Silêncio e tanta gente
Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
Ou um grito
Que nasce em qualquer lugar
Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um lugar onde não estou
Às vezes sou também
O tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar
Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão
Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou um grito
De um amor por acontecer
Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d'aquilo que sou
sábado, 11 de dezembro de 2010
1233 - A minha playlist
Encontro de corpos claro, mas encontro de pessoas e de afinidades/cumplicidades e esta versão é tão cúmplice!
Tentando imaginar loucuras
A gente faz amor por telepatia
No chão, no ar, na lua, na melodia
Mania de você
Imaginar
Na melodia
Nada melhor que não fazer nada
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
1232 - Como em frente a um espelho
Perante um espelho
Eis-me perante um espelho
Quem vejo?
O que vejo?
Como me vejo?
Que imagem fica gravada?
Tu quem vês?
O que vês?
Como vês?
Eis-me perante um espelho
Vejo?
Sou eu?
Revejo-me?
Um espelho vê?
Um espelho julga?
Uma espelho sabe o que vê?
Um espelho?
Quem perante um espelho
Se vê?
Se julga?
Se revê?
Imagens?
Miragens?
Instantes?
Juízos?
O que se vê diante de um espelho?
...
Um espelho tem o direito de fazer juízos?
Um espelho tem o direito de...
Um espelho...
Espelhos
Imagens
Miragens
Pois
É puro narcicismo
espelho espelho meu, existe alguém?...
É isso
João P.
Dez 10
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(Felizmente que já vou compreendendo o que me põe fora de mim em certas alturas... identifico claramente, Agora só falta saber o como lidar...
Come chocolates pequena, come chocolates!)
Não, a música não é deprimente! é uma das músicas da minha infância que guardo muito cá dentro... Recorda-me bons momentos
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
1231 - Humores
Pela manhã andei deprimidissimo às voltas com a minha auto-estima e com a imagem que os outros têm ou não de mim
Pela tarde não me saía da cabeça a construção do Chico Buarque
Pelas 9 da noite uma entrevista no jornal das 9 que não consegui continuar a ver a propósito de políticas educativas (como o magalhães, ou o inglês do 1º Ciclo ou os agrupamentos deste ano) a implicar o sucesso dos alunos do 9º ano nos teste do Pisa do ano passado!
Pela noite ofereci-me a mim próprio uma noite de cinema (com o DVD - Cabaret). Mas que filme fabuloso, actualismo. Belo
E a mensagem final então... Life is a Cabaret... Let's take profite of it!
Não me apetece ser como a Elsie da canção...
What good is sitting alone in your room?
Come hear the music play.
Life is a Cabaret, old chum,
Come to the Cabaret.
Put down the knitting,
The book and the broom.
Time for a holiday.
Life is Cabaret, old chum,
Come to the Cabaret.
Come taste the wine,
Come hear the band.
Come blow your horn,
Start celebrating;
Right this way,
Your table's waiting
No use permitting
soem prophet of doom
To wipe every smile away.
Come hear the music play.
Life is a Cabaret, old chum,
Come to the Cabaret!
I used to have a girlfriend
known as Elsie
With whom I shared
Four sordid rooms in Chelsea
She wasn't what you'd call
A blushing flower...
As a matter of fact
She rented by the hour.
The day she died the neighbors
came to snicker:
"Well, thats what comes
from to much pills and liquor."
But when I saw her laid out like a Queen
She was the happiest...corpse...
I'd ever seen.
I think of Elsie to this very day.
I'd remember how'd she turn to me and say:
"What good is sitting alone in your room?
Come hear the music play.
Life is a Cabaret, old chum,
Come to the Cabaret."
And as for me,
I made up my mind back in Chelsea,
When I go, I'm going like Elsie.
Start by admitting
From cradle to tomb
Isn't that long a stay.
Life is a Cabaret, old chum,
Only a Cabaret, old chum,
And I love a Cabaret!
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
1229 - Noite de temporal
É Noite
Brilha a luz duma janela.
Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabeça.
É curioso que toda a vida do indivíduo que ali mora, e que não sei quem é,
Atrai-me só por essa luz vista de longe.
Sem dúvida que a vida dele é real e ele tem cara, gestos, família e profissão. Mas agora só me importa a luz da janela dele.
Apesar de a luz estar ali por ele a ter acendido,
A luz é a realidade imediata para mim.
Eu nunca passo para além da realidade imediata.
Para além da realidade imediata não há nada.
Se eu, de onde estou, só veio aquela luz,
Em relação à distância onde estou há só aquela luz.
O homem e a família dele são reais do lado de lá da janela.
Eu estou do lado de cá, a uma grande distância.
A luz apagou-se.
Que me importa que o homem continue a existir?
Alberto Caeiro
domingo, 5 de dezembro de 2010
1228 - Afinal há excepções à austeridade II
Saber viver é vender a alma ao diabo
Gosto dos que não sabem viver,
dos que se esquecem de comer a sopa
((Allez-vous bientôt manger votre soupe,
s... b... de marchand de nuages?»)
e embarcam na primeira nuvem
para um reino sem pressa e sem dever.
Gosto dos que sonham enquanto o leite sobe,
transborda e escorre, já rio no chão,
e gosto de quem lhes segue o sonho
e lhes margina o rio com árvores de papel.
Gosto de Ofélia ao sabor da corrente.
Contigo é que me entendo,
piquena que te matas por amor
a cada novo e infeliz amor
e um dia morres mesmo
em «grande parva, que ele há tanto homem!»
(Dá Veloso-o-Frecheiro um grande grito?..)
Gosto do Napoleão-dos-Manicómios,
da Julieta-das-Trapeiras,
do Tenório-dos-Bairros
que passa fomeca mas não perde proa e parlapié...
Passarinheiros, também gosto de vocês!
Será isso viver, vender canários
que mais parecem sabonetes de limão,
vender fuliginosos passarocos implumes?
Não é viver.
É arte, lazeira, briol, poesia pura!
Não faço (quem é parvo?) a apologia do mendigo;
não me bandeio (que eu já vi esse filme...)
com gerações perdidas.
Mas senta aqui, mendigo:
vamos fazer um esparguete dos teus atacadores
e comê-lo como as pessoas educadas,
que não levantam o esparguete acima da cabeça
nem o chupam como você, seu irrecuperável!
E tu, derradeira geração perdida,
confia-me os teus sonhos de pureza
e cai de borco, que eu chamo-te ao meio-dia...
Por que não põem cifrões em vez de cruzes
nos túmulos desses rapazes desembarcados p'ra
[morrer?
Gosto deles assim, tão sem futuro,
enquanto se anunciam boas perspectivas
para o franco frrrrançais
e os politichiens si habiles, si rusés,
evitam mesmo a tempo a cornada fatal!
Les portugueux...
não pensam noutra coisa
senão no arame, nos carcanhóis, na estilha,
nos pintores, nas aflitas,
no tojé, na grana, no tempero,
nos marcolinos, nas fanfas, no balúrdio e
... sont toujours gueux,
mas gosto deles só porque não querem
apanhar as nozes...
Dize tu: - Já começou, porém, a racionalização do
[trabalho.
Direi eu: - Todavia o manguito será por muito tempo
o mais económico dos gestos!
*
Saber viver é vender a alma ao diabo,
a um diabo humanal, sem qualquer transcendência,
a um diabo que não espreita a alma, mas o furo,
a um satanazim que se dá por contente
de te levar a ti, de escarnecer de mim...
Alexandre O´Neill
Poesias Completas
1951/1981
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
terça-feira, 30 de novembro de 2010
1223 - protelar
Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!
Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros.
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte... Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.
Álvaro de Campos
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
1222 - Outono(s)
Definitivamente o Outono chegou ao meu jardim...
há por aqui uma explosão de amarelos, vermelhos e castanhos. As tarefas agora são de ir juntando as folhas caídas para posteriormente as deitar na lareira. Não me canso de achar sublime que as cinzas das folhas deste ano, podem ser o adubo que as faz renascer na próxima Primavera neste mesmo jardim!
Um ciclo contínuo de vida, morte, vida...
Tempo ainda para me admirar de como as árvores se fizeram tão grandes desde a Primavera.
Ainda a propósito deste ciclo de vida e da beleza que também pode ter o Outono, não deixo de surpreender ao descobrir que existe gente que pensa como eu e que percorre quilómetros só para ter o prazer de captar um momento. A Cena passa-se no círculo polar ártico...
The Last Sun from Daniel Kuipers on Vimeo.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
1220 - O guardador...
O GUARDADOR DE REBANHOS (IX)
Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Alberto Caeiro
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
1219 - Sinais TSF
1218 - A Arte do Encontro II
O Quereres
Caetano Veloso
Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és
Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock?n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim
Do que em ti é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente impessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim
domingo, 21 de novembro de 2010
1217 - perfeito
Perfeito - porque a leitura é uma abertura a novos sentidos
sábado, 20 de novembro de 2010
1216 - Tatuagem
tatuagens
Mafalda Veiga
Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti
Fazes pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar
Em cada grito da alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim
Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão
Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti
Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar
Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim
Faço pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão
1215 - A arte do encontro
A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"
Sérgio Godinho
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
1214 - entardeceres...
Que belo! que bela comunhão!
Que génio este Mozart!
Todos haveriam de ter pelo menos 5 minutos diários tipo "zen"
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
1213 - Que triste não saber florir
Há Poetas Que São Artistas
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...
Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.
Alberto Caeiro
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
1212 - Cubismo
Eu não possuo o meu corpo - como posso eu possuir com ele? Eu não possuo a minha alma - como posso possuir com ela? Não compreendo o meu espírito - como através dele compreender?
Não possuímos nem o corpo nem uma verdade - nem sequer uma ilusão. Somos fantasmas de mentiras, sombras de ilusões, e a nossa vida é oca por fora e por dentro.
Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu?
Mas sei que o que eu sinto, sinto-o eu.
Quando outrem possui esse corpo, possui nele o mesmo que eu? Não. Possui outra sensação.
Possuímos nós alguma coisa? Se nós não sabemos o que somos, como sabemos nós o que possuímos?
(...)
PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p.229
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
1211 - Meses de intenso trabalho
(Este blogue tem ficado um pouco para trás, com grande pena minha, mas tenho dado prioridade às urgências das coisas urgentes)
Felizmente tenho conseguido pequenos momentos de relax:
- Uma aula que corre excepcionalmente bem e em que consigo tirar algo dos alunos
- As aulas de natação à hora de jantar que me têm descomprimido
e, principalmente, a hora e meia de condição, bi-semanal, em que, às 9h ou 10h da noite, com a sensação de dever cumprido, ponho a música a tocar numa estrada quase deserta...
Ontem fiquei extasiado com esta! que ouvi para lá e para cá... Não consigo deixar de me lembrar da beleza do tejo já na lezíria ao entardecer...
O Meu Olhar Azul como o Céu
O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...
Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...
(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol ...
Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIII"
Heterónimo de Fernando Pessoa
1902 (da resiliência) - Do que um homem é capaz
Do que um homem é capaz? As coisas que ele faz Pra chegar aonde quer É capaz de dar a vida Pra levar de vencida Uma razão de viver A vida é ...
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Coisas que acontecem e que aquecem o coração Esta manhã fui às compras ao Continente, encontrei uma criança que me agarrou e ria, ria. (nu...
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A sala de espectáculos não fica em nossa casa CRÓNICA 1 de Abril de 2018, por BÁRBARA WONG Quando os vejo entrar na sala com baldes de ...
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Mais outro livro que se lê num só fôlego tal a forma como nos embrenhamos nela (até ia ficando fechado no metro, na última estação, por não ...