Rua do Ouro 
            
            Fui rejeitado a  cotovelo pêlos saldos
            Vi um ourives  preso ao alfinete da gravata
            a caprichar em  filigranas
            com uma  pé-de-avestruz americana
            O cheiro do  café recém-moído transportou-me a outras plagas
            Vi as sangrentas luvas pinares  sobre as cabeças transeuntes
            Ouvi dizer a um  tipo que bela forma,
            e pensei que  terás tu para lhe meter dentro?
            Li num  cabeçalho o passado tem os olhos do presente postos no futuro
            Embarquei em  sapatos enforquei-me em gravatas
            Descompus Cesário  Verde que atravessava a rua
            sobraçando uma  chave-inglesa o descuidado
            Contei os  buracos duma roda de gruyère na montra
            daquela  charcutaria que tem uns rissóis sabes de camarão
            Comprei um  candeeiro diz que nórdico
            a sua luz  acompanha a mão de quem escreve e pára quando a mão pára
            Ouvi pedir compra-me  o comboio eléctrico
            e ouvi adiar se  passares compro
            Senti o cheiro  das revistas recém-postas à venda
            e pensei que  bom estarmos na Europa
            Escorreguei os  olhos pelas tabuletas dos advogados
            Fisguei a  abelha do trabalho que o Cesariny transformou em mosca
            e também vi vou  sempre ver o pelicano do frontão
            reflectido na  montra faz um figuralhão
            Subi ao de  Santa Justa e para dominar os complexos
            deitei lá de  cima um avião
            Vi à noite os casais que vêm  ver as montras
            Gente que faz o  quilo de nariz contra o vidro
            Ouvi dizer a  Banca é muitas vezes detestada porque pouca gente sabe o que
            é um  Banco Sigo as  recomendações dos lojistas da artéria
            PREFIRO A RUA DO OURO.
 Alexandre O´Neill
            
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