domingo, 7 de novembro de 2010

1208 - Palavras minhas


















A Maria P. publicou no seu blogue um texto que postei há alguns tempos aqui.

Fiquei deveras surpreendido! Li, reli e espantei-me por aquele que ali estava ser eu...


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.


Alberto Caeiro

2 comentários:

  1. Porque às vezes há palavras que fazem todo o sentido. Ou não...

    Beijo, João.

    ResponderEliminar
  2. Maria:

    É estranho... deixam de ser nossas

    Beijo

    João

    ResponderEliminar

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