terça-feira, 30 de novembro de 2010
1223 - protelar
Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!
Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros.
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte... Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.
Álvaro de Campos
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
1222 - Outono(s)
Definitivamente o Outono chegou ao meu jardim...
há por aqui uma explosão de amarelos, vermelhos e castanhos. As tarefas agora são de ir juntando as folhas caídas para posteriormente as deitar na lareira. Não me canso de achar sublime que as cinzas das folhas deste ano, podem ser o adubo que as faz renascer na próxima Primavera neste mesmo jardim!
Um ciclo contínuo de vida, morte, vida...
Tempo ainda para me admirar de como as árvores se fizeram tão grandes desde a Primavera.
Ainda a propósito deste ciclo de vida e da beleza que também pode ter o Outono, não deixo de surpreender ao descobrir que existe gente que pensa como eu e que percorre quilómetros só para ter o prazer de captar um momento. A Cena passa-se no círculo polar ártico...
The Last Sun from Daniel Kuipers on Vimeo.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
1220 - O guardador...
O GUARDADOR DE REBANHOS (IX)
Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Alberto Caeiro
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
1219 - Sinais TSF
1218 - A Arte do Encontro II
O Quereres
Caetano Veloso
Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és
Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock?n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim
Do que em ti é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente impessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim
domingo, 21 de novembro de 2010
1217 - perfeito
Perfeito - porque a leitura é uma abertura a novos sentidos
sábado, 20 de novembro de 2010
1216 - Tatuagem
tatuagens
Mafalda Veiga
Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti
Fazes pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar
Em cada grito da alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim
Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão
Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti
Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar
Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim
Faço pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão
1215 - A arte do encontro
A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"
Sérgio Godinho
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
1214 - entardeceres...
Que belo! que bela comunhão!
Que génio este Mozart!
Todos haveriam de ter pelo menos 5 minutos diários tipo "zen"
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
1213 - Que triste não saber florir
Há Poetas Que São Artistas
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...
Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.
Alberto Caeiro
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
1212 - Cubismo
Eu não possuo o meu corpo - como posso eu possuir com ele? Eu não possuo a minha alma - como posso possuir com ela? Não compreendo o meu espírito - como através dele compreender?
Não possuímos nem o corpo nem uma verdade - nem sequer uma ilusão. Somos fantasmas de mentiras, sombras de ilusões, e a nossa vida é oca por fora e por dentro.
Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu?
Mas sei que o que eu sinto, sinto-o eu.
Quando outrem possui esse corpo, possui nele o mesmo que eu? Não. Possui outra sensação.
Possuímos nós alguma coisa? Se nós não sabemos o que somos, como sabemos nós o que possuímos?
(...)
PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p.229
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
1211 - Meses de intenso trabalho
(Este blogue tem ficado um pouco para trás, com grande pena minha, mas tenho dado prioridade às urgências das coisas urgentes)
Felizmente tenho conseguido pequenos momentos de relax:
- Uma aula que corre excepcionalmente bem e em que consigo tirar algo dos alunos
- As aulas de natação à hora de jantar que me têm descomprimido
e, principalmente, a hora e meia de condição, bi-semanal, em que, às 9h ou 10h da noite, com a sensação de dever cumprido, ponho a música a tocar numa estrada quase deserta...
Ontem fiquei extasiado com esta! que ouvi para lá e para cá... Não consigo deixar de me lembrar da beleza do tejo já na lezíria ao entardecer...
O Meu Olhar Azul como o Céu
O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...
Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...
(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol ...
Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIII"
Heterónimo de Fernando Pessoa
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
livros pop-up... Um dos meus pontos fracos
É absolutamente fabuloso e acerta em cheio num dos meus pontos fracos: O livro pop-up
Obrigado Teresa
1209 - qualquer coisa de fabuloso
É absolutamente fabuloso e acerta em cheio num dos meus pontos fracos: O livro pop-up
Obrigado Teresa
domingo, 7 de novembro de 2010
1208 - Palavras minhas
A Maria P. publicou no seu blogue um texto que postei há alguns tempos aqui.
Fiquei deveras surpreendido! Li, reli e espantei-me por aquele que ali estava ser eu...
Alberto Caeiro
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
1206 - Dia de sol
Hoje foi um dia de "sol" que aqueceu por dentro.
4ª é dia de escola. Chegado lá, vejo esta e aquele, sorrisos, conversas...
"Agora não te vejo tanto!"
"como vais?"
"ainda no outro dia pensei em ti!"
Pusemos algumas conversas em dia. consciencializei que já trabalho com algumas/alguns há mais de 10 anos. Sentimos falta uns dos outros e vamo-nos apoiando
Sorrisos francos, olhos nos olhos, algum calor!
Foi bom mesmo porque foram logo 5 ou 6 pessoas que reencontrei e com quem falei uns bons minutos!
É bom fazer caminho assim!
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
1205 - dia de ventania
O meu damasqueiro partiu-se! A única árvore que realmente dava frutos que se vissem, partiu-se ontem com o temporal
E como já estava grande!!!
Veremos como a amendoeira, que precisava de sol, se dará na sua, que era dele, nova "casa"!
(Era a pequena árvore no canto inferior direito e que agora estava enooorme. Partou-se com o vento)
1204 - Mais sereno...
A consciencialização de que há gente que se mantém sempre ao lado e que me dão provas de assim se manterem apenas porque sim.
A consciencialização de que faço algumas coisas bem e que isso faz sentido para os outros e para mim.
A consciencialização de que consigo acabar bem as tarefas a que me vou propondo
A consciencialização de que há muitos outros iguais a mim e que as questões não podem ser pessoalizadas
A consciencialização que este desejo de infinito e de tudo abarcar é inerente à condição humana e é mola e motor do agir e da não acomodação
A consciencialização de que há coração e que há cérebro sempre numa dupla tensão
A consciencialização de que há dias felizes que devem servir para nos aquecer as mãos nas noites de inverno como dizia ontem o António Lobo Antunes (ver post anterior)
Se Eu Pudesse Trincar a Terra Toda
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"
Heterónimo de Fernando Pessoa
1902 (da resiliência) - Do que um homem é capaz
Do que um homem é capaz? As coisas que ele faz Pra chegar aonde quer É capaz de dar a vida Pra levar de vencida Uma razão de viver A vida é ...
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Coisas que acontecem e que aquecem o coração Esta manhã fui às compras ao Continente, encontrei uma criança que me agarrou e ria, ria. (nu...
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A sala de espectáculos não fica em nossa casa CRÓNICA 1 de Abril de 2018, por BÁRBARA WONG Quando os vejo entrar na sala com baldes de ...
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Mais outro livro que se lê num só fôlego tal a forma como nos embrenhamos nela (até ia ficando fechado no metro, na última estação, por não ...