Talvez seja preciso reaprendermos
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
1826 (da condição humana) - Para haver Natal este Natal
Talvez seja preciso reaprendermos
domingo, 11 de dezembro de 2016
1825 (do íntimo e pessoal) - Aqui sou (ao pé do mar)
Aqui regresso ciclicamente,
ao pé do mar.
Aqui sou.
Revisito o passado,
sou o presente,
antecipo o futuro.
Aqui sou.
Vejo,
revejo,
encontro,
reencontro,
parto,
e chego para partir de novo.
Estou aqui
ao pé do mar
estou de chegada?
estou de partida?
Aqui sou.
João P.
Dez 16
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
1824 (do amor) - Em poucas palavras
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
1823 (Do íntimo e pessoal) - Portugal Sacro-profano Vila do Conde
O lugar onde o coração se esconde
é onde o vento norte corta luas brancas no azul do mar
e o poeta solitário escolhe igreja pra casar
O lugar onde o coração se esconde
é em dezembro o sol cortado pelo frio
e à noite as luzes a alinhar o rio
O lugar onde o coração se esconde
é onde contra a casa soa o sino
e dia a dia o homem soma o seu destino
O lugar onde o coração se esconde
é sobretudo agosto vento música raparigas em cabelo
feira das sextas-feiras gado pó e povo
é onde se consente que nasça de novo
àquele que foi jovem e foi belo
mas o tempo a pouco e pouco arrefeceu
O lugar onde o coração se esconde
é o novo passado a ida pra o liceu
Mas onde fica e como é que se chama
a terra do crepúsculo de algodão em rama
das muitas procissões dos contra-luz no bar
da surpresa violenta desse sempre renovado mar?
O lugar onde o coração se esconde
e a mulher eterna tem a luz na fronte
fica no norte e é Vila do Conde
Ruy Belo
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
1822 (do amor) - Tu está aqui
TU ESTÁS AQUI
Estás aqui comigo à sombra do sol
escrevo e oiço certos ruídos domésticos
e a luz chega-me humildemente pela janela
e dói-me um braço e sei que sou o pior aspeto do que sou
Estás aqui comigo e sou sumamente quotidiano
e tudo o que faço ou sinto como que me veste de um pijama
que uso para ser também isto este bicho
de hábitos manias segredos defeitos quase todos desfeitos
quando depois lá fora na vida profissional ou social só sou um nome e sabem o que sei o
que faço ou então sou eu que julgo que o sabem
e sou amável e seleciono cuidadosamente os gestos e escolho as palavras
e sei que afinal posso ser isso talvez porque aqui sentado dentro de casa sou outra coisa
esta coisa que escreve e tem uma nódoa na camisa e só tem de exterior
a manifestação desta dor neste braço que afeta tudo o que faço
bem entendido o que faço com este braço
Estás aqui comigo e à volta são as paredes
e posso passar de sala para sala a pensar noutra coisa
e dizer aqui é a sala de estar aqui é o quarto aqui é a casa de banho
e no fundo escolher cada uma das divisões segundo o que tenho a fazer
Estás aqui comigo e sei que só sou este corpo castigado
passado nas pernas de sala em sala. Sou só estas salas estas paredes
esta profunda vergonha de o ser e não ser apenas a outra coisa
essa coisa que sou na estrada onde não estou à sombra do sol
Estás aqui e sinto-me absolutamente indefeso
diante dos dias. Que ninguém conheça este meu nome
este meu verdadeiro nome depois talvez encoberto noutro
nome embora no mesmo nome este nome
de terra de dor de paredes este nome doméstico
Afinal fui isto nada mais do que isto
as outras coisas que fiz fi-las para não ser isto ou dissimular isto
a que somente não chamo merda porque ao nascer me deram outro nome que não merda
e em princípio o nome de cada coisa serve para distinguir umas coisas das outras coisas
Estás aqui comigo e tenho pena acredita de ser só isto
pena até mesmo de dizer que sou só isto como se fosse também outra coisa
uma coisa para além disto que não isto
Estás aqui comigo deixa-te estar aqui comigo
é das tuas mãos que saem alguns destes ruídos domésticos
mas até nos teus gestos domésticos tu és mais que os teus gestos domésticos
tu és em cada gesto todos os teus gestos
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas
perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
perdoa eu revelar que há muito pagas tão alto preço por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui
Poema de Ruy Belo in "O tempo das suaves raparigas e outros poemas de amor", edição Assírio & Alvim (1402), Julho 2010
domingo, 27 de novembro de 2016
1821 (do espanto de viver) - Oh as casas, as casas, as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas.
houses are born and live and die
While alive they stand out from each other
they stand out namely by their smell
they differ even from room to room
Ah the houses I built in my childhood
where might I be today in my childhood?
Where might I be in a little while from these verses?
Will I have a house to store all of this in
or will I always be just this instability?
Unlike me houses seem stable
but they’re so fragile poor houses
Oh houses houses houses
silent witnesses of life
they die not only when demolished
they die with the death of people
Houses look at us through their windows
Builders landlords and real estate agents
know nothing about houses
Rich people have their palaces
but the house of the poor is the whole world
it’s the poor who know about houses
the poor know everything
I loved houses their nooks and corners
I visited houses I fondled houses
Only houses can explain
why a word like intimacy exists
Without houses there would be no streets
the streets where we cross paths with others
and especially with ourselves
In a house I was born and I’ll die
in a house I suffered I lived with others I loved
in a house I went through the seasons
I breathed – O life simple problem of respiration
Oh houses houses houses
sábado, 26 de novembro de 2016
1820 (das palavras) - Quando, um dia
terça-feira, 22 de novembro de 2016
1819 (do espanto de existir) - Assim como falham as palavras
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
A entrada
de Singapura, manhã subindo, cor verde,
O coral das Maldivas em passagem cálida,
Macau à uma hora da noite... Acordo de repente...
Yat-lô--ô-ôôô-ô-ô-ô-ô-ô-ô...Ghi-...
E aquilo soa-me do funase de Zanzibar ao sol...
Dar-es-Salaam (a saída do de uma outra realidade...
A estatura norte-africana qué difícil)...
Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar...
Tempestades em torno ao Guardafui...
E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada...
E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo...
Viajei
por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações
que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
A certos
momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste
auge,
Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira
da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranquila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência
iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e
as Canárias.
Não
sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consanguinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cómoda
e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de
sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as
sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu
penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.
Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?
Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,
Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra.
Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos.
Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
Tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?
Como um bálsamo que não consola senão pela idéia
de que é um bálsamo,
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai.
Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de
partir entre mim e ti.
Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...
Torna-me humano, ó noite, torna-me fraterno e solícito.
Só humanitariamente é que se pode viver.
Só amando os homens, as ações, a banalidade dos trabalhos,
Só assim - ai de mim! -, só assim se pode viver.
Só assim, o noite, e eu nunca poderei ser assim!
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não
conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula,
o espasmo.
Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti.
Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito,
Mágoa externa na Terra, choro silencioso do Mundo.
Mãe suave e antiga das emoções sem gesto,
Irmã mais velha, virgem e triste, das idéias sem nexo,
Noiva esperando sempre os nossos propósitos incompletos,
A direção constantemente abandonada do nosso destino,
A nossa incerteza pagã sem alegria,
A nossa fraqueza cristã sem fé,
O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem êxtases,
A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência de fracos,
A nossa vida, o mãe, a nossa perdida vida...
Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser
quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Unia razão para descansar, uma necessidade de me distrair,
Uma cousa vinda diretamente da natureza para mim.
Por isso sê para mim materna, ó noite tranqüila...
Tu, que tiras o mundo ao mundo, tu que és a paz,
Tu que não existes, que és só a ausência da
luz,
Tu que não és uma coisa, rim lugar, uma essência,
uma vida,
Penélope da teia, amanhã desfeita, da tua escuridão,
Circe irreal dos febris, dos angustiados sem causa,
Vem para mim, ó noite, estende para mim as mãos,
E sê frescor e alívio, o noite, sobre a minha fronte...
Tu, cuja vinda é tão suave que parece um afastamento,
Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,
Tem ondas de carinho morto, frio de mares de sonho,
Brisas de paisagens supostas para a nossa angústia excessiva...
Tu, palidamente, tu, flébil, tu, liquidamente,
Aroma de morte entre flores, hálito de febre sobre margens,
Tu, rainha, tu, castelã, tu, dona pálida, vem...
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma ideia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
São-me simpáticos os homens superiores porque são
superiores,
E são-me simpáticos os homens inferiores porque são
superiores também,
Porque ser inferior é diferente de ser superior,
E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
1818 (do olhar) - Um homem na cidade
Um Homem na Cidade
como se fosse uma criança,
uma roseira entrelaçada,
uma videira de esperança.
Tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem, por força da vontade,
de trabalhar nunca se cansa.
Vou pela rua desta lua
que no meu Tejo acendo cedo,
vou por Lisboa, maré nua
que desagua no Rossio.
Eu sou o homem da cidade
que manhã cedo acorda e canta,
e, por amar a liberdade,
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresce na vela da canoa.
Sou a gaivota que derrota
tudo o mau tempo no mar alto.
Eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada,
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada,
um malmequer azul na cor,
o malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém,
o malmequer desta cidade
que me quer bem, que me quer bem.
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também,
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem,
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis, que me quer bem.
José Carlos Ary dos Santos
sábado, 29 de outubro de 2016
1817 (da paixão) - Sem fantasia
Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perder-te em meus braços
Pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu
Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus
Chico Buarque
1967
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
(Da cidadania) - for the times they are a-changin'
Come gather 'round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You'll be drenched to the bone
If your time to you is worth savin'
Then you better start swimmin' or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'
Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no tellin' who that it's namin'
For the loser now will be later to win
For the times they are a-changin'
Come senators, congressmen
Please heed the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There's a battle outside and it is ragin'
It'll soon shake your windows and rattle your walls
For the times they are a-changin'
Come mothers and fathers
Throughout the land
And don't criticize
What you can't understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is rapidly agin'
Please get out of the new one if you can't lend your hand
For the times they are a-changin'
The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is rapidly fadin'
And the first one now will later be last
For the times they are a-changin'
Bob Dylan
terça-feira, 11 de outubro de 2016
1815 (do amor) - Teresinha
O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada, e assustada, eu disse não
O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada, e assustada, eu disse não
O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração.
Chico Buarque
domingo, 25 de setembro de 2016
1335 (Do espanto) - Outono
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
1334 (Do espanto) - April come she will
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
1812 - (dos sonhos desfeitos) - New York
If I can make it here, I can make it anywhere, that's what they say
Seeing my face in lights or my name on marquees found down on Broadway
Baby, I'm from New York
Concrete jungle where dreams are made of
There's nothing you can't do
Now you're in New York
These streets will make you feel brand new
Big lights will inspire you
Hear it from New York, New York, New York!
Such a melting pot, on the corner selling rock, preachers pray to God
Hail a gypsy-cab, takes me down from Harlem to the Brooklyn Bridge
Some will sleep tonight with a hunger far more than an empty fridge
Baby, I'm from New York
Concrete jungle where dreams are made of
There's nothing you can't do
Now you're in New York
These streets will make you feel brand new
Big lights will inspire you
Hear it from New York, New York, New York!
Street lights, big dreams all looking pretty
No place in the world that can compare
Put your lighters in the air, everybody say yeah, yeah, yeah, yeah
Concrete jungle where dreams are made of
There's nothing you can't do
Now you're in New York
These streets will make you feel brand new
Big lights will inspire you
Hear it from New York!
LYON, ANDRE CHRISTOPHER / VALENZANO, MARCELLO / MARKS, WALTER / COPELAND, RUTH / WAGNER, DICK / SMITH, REMY KIONI
terça-feira, 6 de setembro de 2016
1332 (do indizível) - à noite, num beco sem saída
Eu sentado
...
Estou sentado à porta de casa
à noite
existe um beco sem saída.
Ouço
Observo
No beco sem saída
ladram cães,
camufla-se um gato nas roseiras.
No beco sem saída
e à noite
chegam carros.
A vizinha chegou tarde
saiu de novo
Irá aonde?
Existe um beco sem saída,
é noite,
estou sentado à porta de casa.
Passam carros
(não sabia que havia tanto movimento aqui)
Ouvem-se outros mais ao longe.
Passam quinze aviões,
a maioria vai para norte
(E que curvas apertadas fazem alguns!)
dois, certamente para sul,
Um para oeste, Espanha?
De um outro perdi-lhe o rasto.
É noite
Estou sentado à porta de casa
Existe um beco sem saída.
Um cão passeia o dono...
É noite
...
João P
2016
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
1331 (Do amor) - i hate u, i love u
Feeling used
But I'm
Still missing you
And I can't
See the end of this
Just wanna feel your kiss
Against my lips
And now all this time
Is passing by
But I still can't seem to tell you why
It hurts me every time I see you
Realize how much I need you
I hate you I love you
I hate that I love you
Don't want to, but I can't put
Nobody else above you
I hate you I love you
I hate that I want you
You want her, you need her
And I'll never be her
I miss you when I can't sleep
Or right after coffee
Or right when I can't eat
I miss you in my front seat
Still got sand in my sweaters
From nights we don't remember
Do you miss me like I miss you?
Fucked around and got attached to you
Friends can break your heart too, and
I'm always tired but never of you
If I pulled a you on you, you wouldn't like that shit
I put this real out, but you wouldn't bite that shit
I type a text but then I nevermind that shit
I got these feelings but you never mind that shit
Oh oh, keep it on the low
You're still in love with me but your friends don't know
If u wanted me you would just say so
And if I were you, I would never let me go
I don't mean no harm
I just miss you on my arm
Wedding bells were just alarms
Caution tape around my heart
You ever wonder what we could have been?
You said you wouldn't and you fucking did
Lie to me, lie with me, get your fucking fix
Now all my drinks and all my feelings are all fucking mixed
Always missing people that I shouldn't be missing
Sometimes you gotta burn some bridges just to create some distance
I know that I control my thoughts and I should stop reminiscing
But I learned from my dad that it's good to have feelings
When love and trust are gone
I guess this is moving on
Everyone I do right does me wrong
So every lonely night, I sing this song
I hate you I love you
I hate that I love you
Don't want to, but I can't put
Nobody else above you
I hate you I love you
I hate that I want you
You want her, you need her
And I'll never be her
All alone I watch you watch her
Like she's the only girl you've ever seen
You don't care you never did
You don't give a damn about me
Yeah all alone I watch you watch her
She's the only thing you've ever seen
How is it you'll never notice
That you are slowly killing me
I hate you I love you
I hate that I love you
Don't want to, but I can't put
Nobody else above you
I hate you I love you
I hate that I want you
You want her, you need her
And I'll never be her
Written by Olivia O'brien, Gnash
domingo, 28 de agosto de 2016
Do amor - À primeira vista
À Primeira Vista
Daniela Mercury
Quando não tinha nada, eu quis
Quando tudo era ausência, esperei
Quando tive frio, tremi
Quando tive coragem, liguei
Quando chegou carta, abri
Quando ouvi Prince, dancei
Quando o olho brilhou, entendi
Quando criei asas, voei
Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei
Quando não tinha nada, eu quis
Quando tudo era ausência, esperei
Quando tive frio, tremi
Quando tive coragem, liguei
Quando chegou carta, abri
Quando ouvi Salif Keita, dancei
Quando o olho brilhou, entendi
Quando criei asas, voei
Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei
Ohhh amara zaia zoie di zaia di zaia zaiii ingado annn
Ohhh amara zaia zoie di zaia di zaia zaiii ingado annn....
sábado, 16 de julho de 2016
1328 (Do indizível) - Revelações e regressos
O Deus de que vos falo
Não é um Deus de afagos.
É mudo. Está só. E sabe
Da grandeza do homem
(Da vileza também)
E no tempo contempla
O ser que assim se fez.
É difícil ser Deus
As coisas O comovem.
Mas não da comoção
Que vos é familiar:
Essa que vos inunda os olhos
Quando o canto da infância
Se refaz.
A comoção divina
Não tem nome.
O nascimento, a morte
O martírio do herói
Vossas crianças claras
Sob a laje,
Vossas mães
No vazio das horas.
E podereis amá-lo
Se eu vos disser serena
Sem cuidados,
Que a comoção divina
Contemplando se faz?
Hilda Hilst
1327 (Do Abjeto) - Enquanto
e um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
para ver como é;
enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
e correr pelos interstícios das pedras,
pressuroso e vivo como vermelhas minhocas despertas;
enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas,
órfãs de pais e de mães,
andarem acossadas pelas ruas
como matilhas de cães;
enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
num silêncio de espanto
rasgado pelo grito da sereia estridente;
enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio
cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
amassando na mesma lama de extermínio
os ossos dos homens e as traves das suas casas;
enquanto tudo isto acontecer, e o mais que se não diz por ser
verdade,
enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,
o poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:
ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA
António Gedeão
domingo, 10 de julho de 2016
1326 (Da condição humana) - A Humanidade
Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.
[...]
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa do regresso
A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
1325 (Do espanto de viver) - Pensamento do dia
Amo os abismos, as torrentes, os desertos..."
José Régio
quinta-feira, 7 de julho de 2016
1324 - (Do espanto de viver) - Lisboa
Lisboa | |||
Alguém diz com lentidão: «Lisboa, sabes…» Eu sei. É uma rapariga descalça e leve, um vento súbito e claro nos cabelos, algumas rugas finas a espreitar-me os olhos, a solidão aberta nos lábios e nos dedos, descendo degraus e degraus e degraus até ao rio. Eu sei. E tu, sabias?
© EUGéNIO DE ANDRADE
Coração do Dia, 1958 |
domingo, 3 de julho de 2016
1323 - (do belo) As fontes
"Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal,
E calma subirei até às fontes.
Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.
Irei beber a luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser."
Sophia de Mello Breyner Andresen
segunda-feira, 27 de junho de 2016
1322 (Leituras) - Amantes
Há dias de sorte! Em Pombal, a propósito do encontro de Literatura Infanto Juvenil,deparo-me, numa feira do livro, com uma preciosidade para a alma! refiro-me aos "Amantes" escrito e ilustrado por Ana Juan.
Trata-se de um livro de contos todos relacionados com a temática do amor. É simplesmente belo e extraordináriamente ilustrado!
(Obrigado pela dica Margarida C.) Não sairá da minha prateleira dos livros mágicos e belos.
El Amor Lejano
Yo no tengo más palabras,
solo lágrimas,
Y quiro que guardes
solo mi sonrisa
no mi llanto.
Pero no puedo separarme de ti...
... sin um beso.
Aunque sé que volverás.
tu ausencia
me duele ya.
terça-feira, 21 de junho de 2016
1321 (De Amor) - Eu tenho num fraquinho por ti
tu não me dás atenção
tu não me passas cartão
quando me ponho a teu lado
tremo nervoso de agrado
e meto os pés pelas mãos
tu vais gozando um bocado
a beber vinho tostão
eu com o discurso engasgado
fico a um canto, que arrelia
de toda a cervejaria
onde vais rasgar a noite
se te olho com ternura
olhas-me do alto da burra
que mais parece um açoite
é um susto um arrepio
que me malha em ferro frio.
Eu tenho um fraquinho por ti
que me vai de lés a lés
tu dás-me sempre com os pés
quando me atiro enamorado
num estilo desajeitado
disfarço em bagaço e café
tu fumas o teu cruzado
e fazes troça, pois é,
já tenho o caldo entornado
esqueces-me da noite p´ro dia
em alegre companhia
de batidas e rodadas
tu ficas nas sete quintas
marimbas, estás-te nas tintas
p´ra que eu ande às três pancadas
basta um toque sedutor
eu cá sou um pinga-amor.
Eu tenho um fraquinho por ti
que me abrasa o coração
quase me arrasa a razão
a tua risada rasteira
põe-me de rastos, à beira
do enfarte da congestão
encharco-me em chá de cidreira
mofas de mim atiras-te ao chão
zombando à tua maneira
lá fazes a despedida
ao grupo que vai de saída
dos amigos da Trindade
mas no fim da noite, à noitinha,
tu ficas triste e sozinha
à procura de amizade
e como é costume teu
chamas o parvo que sou eu.
Afino uma voz de tenor
ensaio um ar duro de macho
quando estás na mó de baixo
quero ver-te arrependida
mas numa manobra atrevida
rufia, muito mansinha,
dás-me um beijo e uma turrinha
que me põe num molho num cacho
estremeço com pele de galinha
e gosto de ti trapaceira
da tua piada certeira
do teu aparte final
do teu jeito irreverente
do teu aspecto contente
do teu modo bestial
noutra palavra mais quente
eu tenho um fraquinho por ti.
Fausto Bordalo Dias
domingo, 19 de junho de 2016
1320 - (do amor) - no dia do 72º aniversário de Chico Buarque
Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora
Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama
Quando me encara e desata os cabelos
Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual
Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente
O que mente para mim
Serei eu meramente
Mais um personagem efêmero
Da sua trama
Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão
Me clama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz
Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito
Cantar outra vez
Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração
e quando o meu coração
Se inflama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim.
Chico Buarque
quinta-feira, 16 de junho de 2016
1319 (do espanto) - A propósito de uma árvore
II - O meu olhar é nítido como um girassol.
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
terça-feira, 14 de junho de 2016
908 - (Do indizível) Go insane
I like to crawl back in my brain
I think you know the game I mean
I mean the game called "go insane"
Now you should try this little game
Just close your eyes forget your name
Forget the world, forget the people
And we'll erect a different steeple
This little game is fun to do
Just close your eyes, no way to lose
And I'm right there, I'm going too
Release control, we're breaking through
Jim Morrison
segunda-feira, 13 de junho de 2016
68 (do indizível) - "Confortably Numb"
Is there anybody in there?
Just nod if you can hear me.
Is there anyone at home?
Come on now
I hear you're feeling down
Well, I can ease your pain
And get you on your feet again
Relax
I'll need some information first
Just the basic facts
Can you show me where it hurts?
There is no pain, you are receding
A distant ship smoke on the horizon
You are only coming through in waves
Your lips move but I can't hear what you're saying
When I was a child I had a fever
My hands felt just like two balloons
Now I've got that feeling once again
I can't explain, you would not understand
This is not how I am
I have become comfortably numb
I have become comfortably numb
O.K.
Just a little pin prick
There'll be no more aaaaaaaah!
But you may feel a little sick
Can you stand up?
I do believe it's working, good
That'll keep you going through the show
Come on, it's time to go.
There is no pain you are receding
A distant ship smoke on the horizon
You are only coming through in waves
Your lips move but I can't hear what you're saying
When I was a child
I caught a fleeting glimpse
Out of the corner of my eye
I turned to look but it was gone
I cannot put my finger on it now
The child is grown
The dream is gone
I have become comfortably numb.
domingo, 12 de junho de 2016
67 - (da loucura) - The end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end
Of our elaborate plans, the end
Of everything that stands, the end
No safety or surprise, the end
I'll never look into your eyes...again
Can you picture what will be
So limitless and free
Desperately in need...of some...stranger's hand
In a...desperate land
Lost in a Roman...wilderness of pain
And all the children are insane
All the children are insane
Waiting for the summer rain, yeah
There's danger on the edge of town
Ride the King's highway, baby
Weird scenes inside the gold mine
Ride the highway west, baby
Ride the snake, ride the snake
To the lake, the ancient lake, baby
The snake is long, seven miles
Ride the snake...he's old, and his skin is cold
The west is the best
The west is the best
Get here, and we'll do the rest
The blue bus is callin' us
The blue bus is callin' us
Driver, where you taken' us
The killer awoke before dawn, he put his boots on
He took a face from the ancient gallery
And he walked on down the hall
He went into the room where his sister lived, and...then he
Paid a visit to his brother, and then he
He walked on down the hall, and
And he came to a door...and he looked inside
Father, yes son, I want to kill you
Mother...I want to...fuck you
C'mon baby, take a chance with us
C'mon baby, take a chance with us
C'mon baby, take a chance with us
And meet me at the back of the blue bus
Doin' a blue rock
On a blue bus
Doin' a blue rock
C'mon, yeah
Kill, kill, kill, kill, kill, kill
This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end
It hurts to set you free
But you'll never follow me
The end of laughter and soft lies
The end of nights we tried to die
This is the end
Jim Morrison
sexta-feira, 10 de junho de 2016
66 (da condição humana) The Carpet Crawlers
The Carpet Crawlers
For my second sight of people, theyve more lifeblood than before.
Theyre moving in time to a heavy wooden door,
Where the needles eye is winking, closing in on the poor.
The carpet crawlers heed their callers:
You gotta get in to get out
There's only one direction in the faces that I see;
It's upward to the ceiling, where the chambers said to be.
Like the forest fight for sunlight, that takes root in every tree.
They are pulled up by the magnet, believing theyre free.
The carpet crawlers heed their callers:
You gotta get in to get out
Mild mannered supermen are held in kryptonite,
And the wise and foolish virgins giggle with their bodies glowing bright.
Through a door a harvest feast is lit by candlelight;
Its the bottom of a staircase that spirals out of sight.
The carpet crawlers heed their callers:
You gotta get in to get out
The porcelain mannikin with shattered skin fears attack.
The eager pack lift up their pitchers - they carry all they lack.
The liquid has congealed, which has seeped out through the crack,
And the tickler takes his stickleback.
The carpet crawlers heed their callers:
You gotta get in to get out
segunda-feira, 6 de junho de 2016
65 - (Do amor) Não sei de amor senão
“Não sei de amor senão o amor perdido
o amor que só se tem de nunca o ter
procuro em cada corpo o nunca tido
e é esse que não pára de doer.
Não sei de amor senão o amor ferido
de tanto te encontrar e te perder.
Não sei de amor senão o não ter tido
teu corpo que não cesso de perder
nem de outro modo sei se tem sentido
este amor que só vive de não ter
o teu corpo que é meu porque perdido
não sei de amor senão esse doer.
Não sei de amor senão esse perder
teu corpo tão sem ti e nunca tido
para sempre só meu de nunca o ter
teu corpo que me dói no corpo ferido
onde nunca deixou nunca de doer
não sei de amor senão o amor perdido.
Não sei de amor senão o sem sentido
deste amor que não morre por morrer
o teu corpo tão nu nunca despido
o teu corpo tão vivo de o perder
neste amor que só é de não ter sido
não sei de amor senão esse não ter.
Não sei de amor senão o não haver
amor que dure mais do que o nunca tido.
Há um corpo que não para de doer
só esse é que não morre de tão perdido
só esse é sempre meu de nunca o ser
não sei de amor senão o amor ferido.
Não sei de amor senão o tempo ido
em que amor era amor de puro arder
tudo passa mas não o não ter tido
o teu corpo de ser e de não ser
só esse meu por nunca ter ardido
não sei de amor senão esse perder.
Cintilante na noite um corpo ferido
só nele de o não ter tido eu hei-de arder
não sei de amor senão amor perdido.
Manuel Alegre
sexta-feira, 3 de junho de 2016
64 (do indizível) - Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
quinta-feira, 2 de junho de 2016
64 (da condição humana) - Espuma
Não se chega por trás ao infinito
nem pela frente ou pelos lados mas por onde
nenhum nome pode ser dito ou escrito
e ninguém sabe ao certo o que se esconde.
Não pela palavra Nada (a tão terrível)
nem pela paplvra Tudo (a tão perigosa)
mas aquém do visível e do dizível
ou da palavra rosa antes de ser rosa.
Ou talvez onde um vento ignoto sopre
entre a pedra e o vitral o dentro e o fora
lá onde cheira a incenso e cheira a enxofre
e Deus não cabe na palavra agora.
Entre aquém e além ser e não ser
tantas portas abertas ou talvez nenhuma.
Não há senão um verso para escrever
e sobre a areia branca a breve espuma.
Manuel Alegre
quarta-feira, 1 de junho de 2016
62 (da condição humana) - Não há um ponto de vista certo
convencional ou
popular.
Há um ponto de vista
pessoal.
Há um ponto de vista
geral, que a maioria
partilha.
Há um ponto de vista
restrito, que só alguns
partilham.
Mas não há um ponto
de vista certo.
Você está sempre certo.
Você está sempre errado.
Depende apenas da
perspectiva a partir da
qual olham para si.
...
Paul Arden
terça-feira, 31 de maio de 2016
61 (da nossa identidade) Mar Absoluto
Em português o vento vem do mar
vem a doce vogal e o silvo agreste
o ritmo e o tom da escrita e do falar
e o poema onde bate o vento oeste.
Auroras e crepúsculos e a linha
onde a curva da terra se pressente
e certas tarde mágicas na minha
língua virada a sul e a ocidente.
Mar invisível sobre o mar visível
mar que me bate em todos os meus músculos
e às vezes traz às praias do dizível
a música e a melancolia dos crepúsculos.
Mar que brame na tristeza
fica por dentro a flor da espuma
e a vela branca a envolver a mesa
onde um poeta escreve entre uma ode e a bruma.
Azul e branco de Melville. Deus e o Diabo.
Em cada página a baleia. A festa e o luto.
E depois do canal outro canal. Dobrar o cabo
ao sol do mar absoluto.
Venha até mim o mar venha até mim
o mar que foi e o que há-de ser e é pai e mãe
venha até mim o mar princípio e fim
o mar que mesmo aqui é mais além.
E de repente tudo fica incerto
tocaram à campainha e a letra está tremida
agora a página é um areal deserto
e vem do mar uma canção perdida.
É então que o mar bate mais forte: o mar de dentro
sobre o plexo solar a onda treme
navegador da alma eu estou no centro
de um navio fantasma sem ninguém ao leme
E agora mais atento uns versos adiante
eu vejo as doze naus de Ulisses ou talvez
a vida toda nesse breve instante
em que disseste mar pela primeira vez.
Doze proas pintadas de vermelho
no meio das negras naus do Almirante
Aquiles sentado as mãos sobre o joelho
não tardará não tardará que se levante.
Não me venham dizer que o mar não dá sinal
no mar já navegado há um mar que ninguém leu
mesmo que a página seja um areal
onde um rei está caído. Ou um país. Ou talvez eu.
Um peso em mim: a História foi demais.
País do mar. Agora outrora.
E todos os navios a sair do cais
para outro espaço outro crepúsculo outra aurora.
Por isso diz-se mar e é um destino.
Ou memória que dói. O Mundo. Este que sou.
O marinheiro volta a ser menino
mas o que ele buscava naufragou
Ainda que haja mar e sete mares
e um outro azul no espaço onde disponho
o mapa de outro longe e outros lugares
e o poema de outro sul e de outro sonho
E eis que de súbito há uma nau capitana
pela página dentro. E sou Bartolomeu
sou a índia perdida e a saga lusitana.
Um barco na memória. Esse barco sou eu.
Sou aquele que partiu e o que não foi.
Sou o que lembra e o que se esquece. Um rastro
no caminho. Um rastro. E mar que dói.
Sou o último gajeiro no topo do mastro.
Sou o que busca a palavra onde se esconde
uma pergunta sem resposta. Sou esse navegar.
Sou o que procura mesmo se ninguém responde
e sou o que pergunta pelo mar.
Lisboa, 1 a 4 de Setembro de 2002
Manuel Alegre
1902 (da resiliência) - Do que um homem é capaz
Do que um homem é capaz? As coisas que ele faz Pra chegar aonde quer É capaz de dar a vida Pra levar de vencida Uma razão de viver A vida é ...
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