quarta-feira, 16 de setembro de 2015

18 - (da condição humana) O que a vida me deu

O que a vida me deu

Ó Mar
Leva tudo o que a vida me deu
Tudo aquilo que o tempo esqueceu
Leva que eu vou voltar
Ó Mar
Como quem vem
E regressa ao fundo
Do ventre da mãe

Tão indiferente
Consumiste na força bravia
Todo o encanto das coisas que havia
E lançaste na praia ardente
Náuseas e pragas
Despojos de almas
As carnes em chagas
As mágoas
Condenaste-me à noite
De sangue e fogo
E vento e sombras
Ao teu quebranto
Mas deixa-me ao menos
O corpo despido
Em descanso


Ó Mar
Lago imenso de oceanos salgados
Onde os rios também naufragados
Vão por fim descansar
Ó Mar
Tecem murmúrios
Sensuais
Como os amantes
Depois
Repousam em paz
No teu ciúme
Ó sereia do braço da ira
Seduziste na tua mentira
E arrastaste contigo o mundo
Todos os sonhos
Os meus desejos
Os suaves Outonos
E o Tejo
São saudades que eu tenho
Leve memória
Do que já fui
Que já não sou
Mas se tudo levaste
Leva enfim esta dor
Que ficou

Fausto Bordalo Dias

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