Carregando o vento às costas
Carregando ovento
às costas
abri portas
fechei portas
derrubei a urgência juvenil
sobre os destroços
de uma cidade cercada.
Atravessei com doçura
o ovo estilhaçado da infância.
Tacteei a frescura
dos cadernos novos.
Enjoei
o gasóleo no banco
de trás dos autocarros,
o gosto do cefé com leite
requentado,
os casacos grossos
nas manhãs de Inverno.
Fui crescendo
como cresce o mineral
bruto e duro
e distraído
no ventre sujo
de uma cidade adiada.
Percorri os corredores sombrios
dos cinemas de reprise
a cheirar a crinolina
Acordei 24 vezes por segundo
La Nobia
no palco
Gary Cooper
onde o Tsar Ivan
Humphrey Bogart
passeia Marylin
o cometa da loucura.
Fui um pouro triste arremetado
em busca de uma sombra
ou de um caminho.
Mordi o desespero.
Ardi espontânreamente
sem saber ainda
como é bela e transitória
a combustão.
E agora que cheguei
como costuma dizer-se
à idade madura
vejo como o mundo
se estreitou
e os caminhos se alargaram
com lágrimas de musgo
e de cristal.
Agora que cheguei
como costuma dizer-se
à idade madura
abro portas
fecho portas
carregsando sempre
o vento
às costas.
José Fanha
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