A partir do sítio ofícial da efeméride
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Quando “nasce” uma língua? Como determiná-lo, tratando-se da língua portuguesa? Qual é o documento mais antigo escrito em língua portuguesa?
Embora os historiadores da língua não sejam unânimes, o Testamento de D. Afonso II, datado de 27 de junho de 1214, surge como o primeiro, senão um dos primeiros documentos escritos em português.
Esta data mereceu a nossa atenção, no sentido de promovermos as Comemorações dos 8 Séculos da Língua Portuguesa, designação abrangente passível de englobar quer o Testamento de D. Afonso II quer outros documentos, como a Notícia dos Fiadores, de 1175.
As Comemorações dos 8 Séculos da Língua Portuguesapermitem-nos realçar o valor de um património comum das nossas culturas, a língua. Celebrar a língua nas suas mais diversas vertentes e geografias é o nosso objetivo. Para o efeito, elegemos como referencial para estas Comemoraçõeso Testamento de D. Afonso II que perfaz 800 anos e que avulta entre os mais antigos documentos escritos em português.
As Comemorações dos 8 Séculos da Língua Portuguesainiciar-se-ão, no próximo ano, a 5 de maio, por ser o dia que a CPLP instituiu como o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP, tendo o seu término a 10 de junho de 2015.
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No passado dia 16 de janeiro tive o grato prazer de participar numa das primeiras iniciativas deste evento que se realizou no Teatro Municipal Joaquim Benite, tendo sido (muito bem) organizado em parceria com o Agrupamento de Escola Anselmo de Andrade de Almada.
Foi-me concedida a oportunidade de dirigir umas palavras aos presentes.
Durante o período de preparação do texto que iria apresentar, lembrei-me de uma excelente canção do Caetano Veloso. E lembrei-me porquê? porque é mesmo necessário ter uma grande cultura geral e um profundo conhecimento da língua portuguesa para se fazer uma música como esta: Língua" em que se consegue jogar com momentos, autores, textos escritos por várias gerações de falante da língua portuguesa, contrapondo
-a com o domínio e fascínio que a língua inglesa exerce atualmente nos nossos jovens.
-a com o domínio e fascínio que a língua inglesa exerce atualmente nos nossos jovens.
Língua
Caetano Veloso
Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(- Será que ele está no Pão de Açúcar?
- Tá craude brô
- Você e tu
- Lhe amo
- Qué queu te faço, nego?
- Bote ligeiro!
- Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
- Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
- I like to spend some time in Mozambique
- Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem.
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