Há mais de vinte anos que entro no anfiteatro 1, da Fundação Calouste Gulbenkian e procuro sentar-me, aproximadamente, no mesmo lugar, junto à janela. O olhar repousa sobre o jardim — esse território de harmonia onde a natureza e a cidade se encontram em diálogo. As árvores firmes, mesmo em dias de vento, as aves inquietas, os gatos sempre com a mesma rotina diária, os transeuntes apressados ou distraídos compõem um cenário que nunca se repete, mesmo quando parece igual.
Dentro da sala, a vida tem outro ritmo. Ao longo de mais de duas
décadas, escutei vozes notáveis, ideias luminosas e debates que deixaram rasto
e muitas outras mais comuns, como a vida. A cada conferência sim e sempre, o
pensamento sempre a em diálogo com o que via lá fora: a serenidade das árvores,
o rumor das folhas, a vida que se chega a nós e nem sabe que é observada.
Este auditório é um território de pertença, onde o exterior
e o interior, o visível e o pensado, o espanto, se fundem.
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