"A
arte é, provavelmente, uma experiência inútil; como a «paixão inútil» em que
cristaliza o homem. Mas inútil apenas como tragédia de que a humanidade
beneficie; porque a arte é a menos trágica das ocupações, porque isso não
envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante
umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de música,
fazia-se um deserto extraordinário. Acreditem que os teares paravam, também, e
as fábricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A
arte é, no entanto, uma coisa explosiva. […]. Se os poetas se calassem
subitamente e só ficasse no ar o ruído dos motores, porque até o vento se
calava no fundo dos vales, penso que até as guerras se iam extinguindo, sem
derrota e sem vitória, com a mansidão das coisas estéreis. O laço da ficção,
que gera a expectativa, é mais forte do que todas as realidades acumuláveis. Se
ele se quebra, o equilíbrio entre os seres sofre grave prejuízo. "
Augustina Bessa Luís
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