segunda-feira, 26 de março de 2007
174 - Parabéns Teresa Marques
Redacção sobre a Primavera
Teresa Marques
Eu gosto da Primavera.
Gosto do gosto a flores que tem por dentro. Sempre gostei.
Quando recebemos os alunos pela primeira vez é assim uma espécie de Inverno escuro, um desconhecido à espeas cores de que se faz a luz de cada um de nós. Quanto mais nos entrelaçamos, mais botões prometidos se abrem, mais aromas se distinguem, mais percebemos os cuidados a ter com cada um.
Eles depressa ficam a saber ra de se iluminar. À medida que o ano avança, a transparência aumenta e é bom ir descobrindo que fruto oferece cada professor, nós demoramos mais tempo a entender o sabor que tem cada aluno.
Nunca gostei muito de multidões. Gosto de conhecer rostos, nomes. Adivinhar olhos. Gosto de saber que borboleta sigo, que flor cheiro. Gosto de um ensino artesanal. A Primavera faz sentido tocada, percebida, sentida, conhecida. É na essência desse mútuo cativar que todas as flores desejam abrir-se ao novo e experimentar voar.
Mas a escola é campo a querer dispersar-se. A querer deixar-se caminhar sem tempo para ver, escutar, cheirar a rosa.
Acrescentam-se muitos nomes temporários à lista habitual dos seres que nos são confiados (quantas vezes já longa) e espera-se o milagre. Um qualquer. Acredita-se que bom. Mas essa crença sem sentido só revela o desconhecimento profundo da essência deste fértil terreno. É crença de quem ignora o pulsar da escola. E crença assim nada planta. É semente morta.
Cuidar de muitas flores alheias rouba algo ao jardim que é o nosso. Há um limite para a água que sai de nós, para o alimento paciente que partilhamos e podemos receber em troca. A escola não é indústria, máquina acelerada, baixo custo, padrão repetido, cadeia de montagem, produção sem fim, números sem rosto. Ela é agricultura biológica, campo de sementes onde o tempo tem de ter o seu tempo, cada fruto seu tamanho e seu nome, onde a mão toca e sente, os olhos se cruzam, o risco se arrisca, a paciência é virtude e conhecer, plantar, saber, esperar, colher, amar, cuidar, está no centro, na margem, no fim de cada gesto preciso e lento, que acompanha o ritmo das estações sem estufas enganando a vida.
Eu gosto da Primavera. Sempre gostei.
Porque lembra o Amor em gestação que me/nos colocou neste caminho. Amor que se renova em cada ano, que constrói, que acolhe, que floresce.
Não quero acreditar que a escola passe a viver de Inverno em Inverno, cheia de pressa, sem florescer a meio. Não quero.
Não quero ter saudades da Primavera e depois não a ver chegar.
Parabéns Teresa Marques
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