quinta-feira, 29 de junho de 2006
39 - Auto-retrato II
(imagem retirada daqui)
O Lázaro
O Lázaro sou eu, não foi o Outro,
O das migalhas e das chagas podres.
O Lázaro sou eu, aqui sentado
À mesa do Vice-Rei
A mastigar com nojo estes faizões!...
Sou eu, vestido de holanda,
A pregar a nudez que sempre usei
Nas grandes ocasiões!...
Sou eu, nado e criado para amar,
e que não sei amar!
Sou eu, que disse não e me perdi!
Que vi Deus e nunca acreditei!
Que vi a estrada impedida
E passei!...
Sou eu, que não sou feliz no Céu nem no Inferno,
porque no Céu há paz, e no Inferno há guerra,
e a minha Paz é outra, e a minha Guerra é outra...
Sou eu, tão Grande e Pequeno
que nem sirvo para grão
da parábola da mostarda!
Sou eu, que há vinte e sete anos
Vivo sem Anjo da Guarda!
Sou eu, que ou tudo ou nada, ou Vida ou Morte,
E acerto sempre na Morte!
Que espeto sempre o punhal
Onde não quero ferir!...
Que sou assim, às cegas e às golfadas,
como as dores abençoadas
de parir!
Sou eu, que me disse adeus
E fiquei à minha espera!...
E que naquela manhã de ano bissexto
- que podia ter sol e teve chuva –
recebi nestes meus braços
o esqueleto verdadeiro
da saudade amargurada
de quem não tem ausentes nem distâncias!
Sou eu, o louco sem asas
Que se lança aos abismos a cantar
A Canção do Inocente...
E que do fundo desse sonho novo
Atira a praga
Que o traga
àquela redentora incompreensão
do seu povo!...
Sou eu, o Alfa e o Omega
e os sentidos singulares
que o Anjo-Satanaz me prometeu!...
Sou este Nobre-Vilão descalço e de gravata,
sou este jornal sem data
que traz a infausta notícia
que ninguém leu!...
Sou eu – e mostro-me todo!
Quem puder, arranque os olhos
e venha cheio de Fé
ver o Lázaro real
que não vem nos Evangelhos,
mas é!...
Miguel Torga
in “O outro Livro de Job”
quarta-feira, 28 de junho de 2006
38 - Poema do alegre desespero II
Perguntas de um Operário Letrado
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu?
Em que casas da Lima Dourada
moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China
para onde foram os seus pedreiros?
A grande Roma está cheia de arcos de triunfo.
Quem os ergueu?
Sobre quem
Triunfaram os Césares?
A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios para os seus habitantes?
Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas
Bertold Brecht
terça-feira, 27 de junho de 2006
37 - Fora de contexto?
Não sei se está fora de contexto, mas que faz sentido faz!
Some kids wish their parents were animals
36 - Poema do alegre desespero
Imagem retirada daqui
Poema do alegre desespero
António Gedeão
Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,
ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.
Compreende-se.
E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,
e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.
Compreende-se.
Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.
Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.
E o nosso sofrimento para que serviu afinal?
35 - Portugal vs Holanda
Para mais tarde recordar...
Foi muita emoção.
Caro Jorge Prestrelo:
Que pena não estares junto de nós.
Decerto terias dito: "Aguenta coração"
segunda-feira, 26 de junho de 2006
34 - La solitude
Tantos anos depois, de ouvir a primeira vez, aqui fica a homengem a Léo Ferré
Je suis d'un autre pays que le vôtre, d'une autre quartier, d'une autre solitude. Je m'invente aujourd'hui des chemins de traverse. Je ne suis plus de chez vous. J'attends des mutants. Biologiquement je m'arrange avec l'idée que je me fais de la biologie: je pisse, j'éjacule, je pleure. Il est de toute première instance que nous façonnions nos idées comme s'il s'agissait d'objets manufacturés. Je suis prêt à vous procurer les moules. Mais...
la solitude...
33 - Viva Portugal
Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar
In Teatro do Mundo, 1958
António Gedeão
domingo, 25 de junho de 2006
32 - Homeless
Homeless, homeless
Moonlight sleeping on a midnight lake
Homeless, homeless
Moonlight sleeping on a midnight lake
We are homeless, we are homeless
The moonlight sleeping on a midnight lake
And we are homeless, homeless, homeless
The moonlight sleeping on a midnight lake
Strong wind destroy our home
Many dead, tonight it could be you
Strong wind, strong wind
Many dead, tonight it could be you
And we are homeless, homeless
Moonlight sleeping on a midnight lake
Homeless, homeless
Moonlight sleeping on a midnight lake
Homeless, homeless
Moonlight sleeping on a midnight lake
Somebody say ih hih ih hih ih
Somebody sing hello, hello, hello
Somebody say ih hih ih hih ih
Somebody cry why, why, why?
Somebody say ih hih ih hih ih
Somebody sing hello, hello, hello
Somebody say ih hih ih hih ih
Somebody cry why, why, why?
Somebody say ih hih ih hih ih
sábado, 24 de junho de 2006
31- Album de memórias/sonhos -1
sexta-feira, 23 de junho de 2006
utopia
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
Afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria
Braço que dormes
Nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos
Que não negas
o sorriso a palavra forte e justa
Homem para quem
O nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro rumo deverei seguir
na minha rota?"
in José Afonso: textos e canções, Assírio e Alvim, 1983
29 - É possível
É possível falar sem um nó na garganta
É possível amar sem que venham proibir
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.
É possível andar sem olhar para o chão
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
Se te apetece dizer não grita comigo: não.
É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.
Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.
Manuel ALEGRE
in “ O Canto e as armas “
Hoje vivo na (da) utopia. O que é que se pode fazer?
(dêm-lhe férias que isso passa...)
Será que existe mesmo esta cidade? que outro rumo deverei seguir?
quinta-feira, 22 de junho de 2006
28 - Vivendo e aprendendo - 1
- Then everything is important.
If everything is important,
- Then you try to do everything.
If you are attempting to do everything,
- Then people expect you to do everything.
And in trying to please everyone,
- You don’t have enough time to find out what’s important.”
27 - Em jeito de homenagem ao S
Chico Buarque
Vou
uma vez mais
correr atrás
de todo o meu tempo perdido
quem sabe, está guardado
num relógio escondido por quem
nem avalia o tempo que tem
Ou
alguém o achou
examinou
julgou um tempo sem sentido
quem sabe, foi usado
e está arrependido o ladrão
que andou vivendo com meu quinhão
Ou dorme num arquivo
um pedaço de vida
a vida, a vida que eu não gozei
eu não respirei
eu não existia
Mas eu estava vivo
vivo, vivo
o tempo escorreu
o tempo era meu
e apenas queria
haver de volta
cada minuto que passou sem mim
Sim
encontro enfim
iguais a mim
outras pessoas aturdidas
descubro que são muitas
as horas dessas vidas que estão
talvez postas em grande leilão
São
mais de um milhão
uma legião
um carrilhão de horas vivas
quem sabe, dobram juntas
as dores colectivas, quiçá
no canto mais pungente que há
Ou dançam numa torre
as nossas sobrevidas
vidas, vidas
a se encantar
a se combinarem vidas futuras
Enquanto o vinho corre, corre, corre
morrem de rir
mas morrem de rir
naquelas alturas
pois sabem que não volta jamais
um tempo que passou
(Ou dançam numa torre...)
(Enquanto o vinho corre, corre, corre...)
quarta-feira, 21 de junho de 2006
26 - Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela!
A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.
Vinícius de Morais
P.S. Tenho que tomar isto como lema
terça-feira, 20 de junho de 2006
25 - todo cambia / Tudo muda
TODO CAMBIA - el autor es Julio Numhauser
Cambia lo superficial
Cambia el mas fino brillante
segunda-feira, 19 de junho de 2006
Em memória do dia 19 de Junho
Será que?
Quem sabe...
Talvez um dia...
Trovante - Saudade
by Trovante
Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ah, saudade…
Chegou hoje no correio a notícia
É preciso avisar por esses povos
Que turbulências e ventos se aproximam
Ah, cuidado…
Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ah, saudade…
Foi chão que deu uvas, alguém disse
Umas porém colhe-se o trigo, faz-se o pão
E se ouvimos os contos de um tinto velho
Ah, bebemos a saudade…
Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ah, saudade…
E vem o dia em que dobramos os nossos cabos
Da roca a S. Vicente em boa esperança
E de poder vaguear com as ondas
Ah, saudades do futuro…
Ainda a propósito do auto-retrato 1
Arte difícil esta.
domingo, 18 de junho de 2006
Auto-retrato 1
Caetano Veloso
Onde queres revólver, sou coqueiro / E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo / E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta / E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta / E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco / E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco / E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez / E onde vês eu, não vislumbro razão
Onde queres o lobo, eu sou o irmão / E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! Bruta flor do querer / Ah! Bruta flor, bruta flor...
Onde queres o ato, eu sou espírito / E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo / E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói / Onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução / E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te e amar o amor / Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação / Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés / E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero e não queres como sou / Não te quero e não queres como és
Ah! Bruta flor do querer / Ah! Bruta flor, bruta flor...
Onde queres comício, flipper-vídeo / E onde queres romance, rock'n'roll
Onde queres a lua, eu sou o sol / E onde queres a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz / E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro / E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim / Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal / Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal / E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total / Do querer que há e do que não há em mim
(imagem retirada daqui)
sábado, 17 de junho de 2006
Ao Vinicius de Morais
(imagem retirada daqui)
Soneto da separação
(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
sexta-feira, 16 de junho de 2006
Após uma tarde de chuva
rayando por ti
esta pena, me duele, me quema sin tu amor
no me has llamado, estoy desesperado
son muchas lunas las que te he llorado.
Rayando el sol, oeooo desesperación
es más fácil llegar al sol que a tu corazón
me muero por ti oeooo viviendo sin ti
y no aguanto, me duele tanto estar así
rayando el sol.
A tu casa yo fui
y no te encontré
en el parque, en la plaza, en el cine te busqué,
te tengo atrapada entre mi piel y mi alma
más ya no puedo tanto y quiero estar junto a ti.
Rayando el sol oeooo desesperación
es más fácil llegar al sol que a tu corazón
oh me muero por ti oeooo viviendo sin ti
y no aguanto me duele tanto estar así
rayando el sol.
Rayando el sol oeooo desesperación
es más fácil llegar al sol que a tu corazón.
Rayando por ti
rayando
rayando
uuuh, rayando, rayando el sol
rayando ay, ay, ay, ay, rayando el sol
rayando
rayando
rayando por ti
rayando
Artista: Mana
Album: Luna
(imagem retirada daqui)
Ainda a greve
A propósito desta questão,lembrei-me de um e-mail de alguém que muito estimo, o Carlos, me enviou. Acho que a história relata bem a nossa situação.
Avaliação do desempenho...
O dono de um talho foi surpreendido pela entrada dum cão dentro da loja.
Ele enxotou-o mas o cão voltou logo de seguida. Novamente ele tentou espantá-lo mas reparou que o cão trazia um bilhete na boca. Ele pegou o bilhete e leu:
- Pode mandar-me 12 salsichas e uma perna de carneiro, por favor?
O cão trazia também dinheiro na boca, uma nota de 50 euros.
Ele pegou no dinheiro, pôs as salsichas e a perna de carneiro num saco e colocou-o na
boca do cão.
O talhante ficou realmente impressionado e como já estava na hora, decidiu fechar a loja e seguir o cão. Este começou a descer a rua e quando chegou ao cruzamento depositou o saco no chão, pulou e carregou no botão para fechar o sinal.
Esperou pacientemente com o saco na boca que o sinal fechasse e pudesse atravessar.
Atravessou a rua e caminhou até uma paragem de autocarro, sempre com o
talhante a segui-lo.
Na paragem, o cão olhou para o painel dos horários e sentou-se no banco, Esperando o autocarro.
Quando um autocarro chegou o cão foi até à frente para conferir o número e voltou para o seu lugar.
Outro autocarro chegou e ele tornou a olhar, viu que aquele era o número certo e entrou.
O talhante, boquiaberto, seguiu o cão. Mais adiante o cão levantou-se, ficou em pé nas duas patas traseiras e carregou no botão para mandar parar o Autocarro, tudo isso com as compras ainda na boca.
O talhante e o cão foram caminhando pela rua quando o cão parou à porta de uma casa e pôs as compras no passeio. Então virou-se um pouco, correu e atirou-se contra a porta. Tornou a fazer o Mesmo mas ninguém respondeu.
Então contornou a casa, pulou um muro baixo, foi até à janela e começou a bater com a cabeça no vidro várias vezes. Caminhou de volta para a porta e, de repente, um tipo enorme; abriu a porta e começou a espancar o bicho.
O talhante correu até ao homem e impediu-o dizendo:
"Deus do céu homem, o que é que você está a fazer? O seu cão é um génio!"
O homem respondeu: "Um génio??? Esta já é a segunda vez esta semana que este cão estúpido se esquece da chave!".
Moral da história:
Podes continuar a exceder as expectativas mas, aos olhos daqueles que te avaliam, isso estará sempre abaixo do esperado...
quinta-feira, 15 de junho de 2006
Subi uma escada, imaginda
(Madredeus)
Subi a escada de papelão
Há outra entrada no paraíso
quarta-feira, 14 de junho de 2006
Só para dizer que já estou noutra...
Ouvindo esta lindíssima música, acalmei.
(imagem retirada daqui)
Porto de mágoas
Esperar como quem sonha
um rio a correr,
um lírio aberto a ser na alvorada,
um caminho, uma estrada
para além-mundo.
Querer no silêncio do nada
o sentimento fundo.
Mas no sentimento fundo do som
o mesmo riso, o mesmo pranto,
meu ser em alvoroço
vai navegando as horas, uma a uma...
E as rotas que se perdem sem querer,
se o mar não o quiser,
há sempre o espanto e a espuma.
E as mãos como gazelas, como pombas,
dedilhando a guitarra
com a benção da água.
E o tempo a envolver-se em minhas sombras,
neste amor que me amarra
ao teu porto de mágoas,
ao meu porto de mágoas
Dulce Pontes
14 de Junho - dia de greve de professores
Para que fique BEM claro. Eu sou professor e fiz greve! (pronto já disse - estão separadas as águas).
Após dois dias de avaliação e de ter lido muita coisa que se foi escrevendo sobre os professores e seus comentários, ouvindo fóruns da TSF e Antena 1, dou os parabéns a todos aqueles que têm denegrido a minha profissão.
Conseguiram-no! Parabéns! Os professores são a escumalha da sociedade, uma párias, uns parasitas. Está dito!
E eu, que já dou aulas há 20 anos (imagine-se) sinto-me humilhado, rebaixado, ultrajado... Sempre dei o "litro", noite livres nos últimos anos contam-se pelos dedos, cada vez trabalho mais e cada vez me tratam pior... Ah, vidas de professor...
Perdoa-me, caro Alberto Caeiro, por tratar mal mal a tua poesia
Excertos de: “O Guardador de Rebanhos - Poema V
(Alberto Caeiro)
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
[…]
Que ideias tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
[…]
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas)
O mistério das coisas? Sei lá o que é o mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
[…]
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas,
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
[…]
"Constituição íntima das coisas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em coisas dessas.
[…]
O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
terça-feira, 13 de junho de 2006
A propósito de certa TV que nos entra casa dentro
António Gedeão
Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio
e um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
para ver como é;
enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
e correr pelos interstícios das pedras,
pressuroso e vivo como vermelhas minhocas despertas;
enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas
órfãs de pais e de mães,
andarem acossadas pelas ruas
como matilhas de cães;
enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
num silêncio de espanto
rasgado pelo grito da sereia estridente;
enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio
cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
amassando na mesma lama de extermínio
os ossos dos homens e as traves das suas casas;
enquanto tudo isto acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade,
enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,
o poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:
ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA
Imagem retirada daqui
segunda-feira, 12 de junho de 2006
Pois, este é um daqueles dias...
Estátua,
domingo, 11 de junho de 2006
Pode-se escrever... Ou como nascem as coisas
Afinal a tão falada angústia do escritor em frente da página em branco, é simples de resolver… ainda estamos na linha de (re) lembrar percursos e histórias antigas...
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Actuação escrita
Pedro Oom
Pode-se escrever
sábado, 10 de junho de 2006
Se se cala o cantor...
Si se calla el cantor, calla la vida
porque la vida, la vida misma es todo un canto
si se calla el cantor, muere de espanto
la esperanza, la luz y la alegría
Si se calla el cantor se quedaran solos
los humildes gorriones de los diarios
los obreros del puerto se persignan
quien habrá de luchar por sus salarios.
Que ha de ser de la vida si el que canta
no levanta su voz en las tribunas
por el que sufre, por el que no hay ninguna razón
que lo condene a andar si manta.
Si se calla el cantor muere la rosa
de que sirve la rosa sin el canto
debe el canto ser luz sobre los campos
iluminando siempre a los de abajo.
Que no calle el cantor porque el silencio
cobarde apaña la maldad que oprime
no saben los cantores de agachadas
no callarán jamás de frente al crimen.
Que se levanten todas las banderas
cuando el cantor se plante con su grito
que mil guitarras desangren en la noche
una inmortal canción al infinito.
Si se calla el cantor...
calla la vida..
Imagem retirada daqui
sexta-feira, 9 de junho de 2006
10 - Gosto/não gosto - a propósito de uma colónia de férias...
Gosto/não gosto
Não gosto de pintar as bandeiras
Gosto de estar com os amigos
Não gosto da praia ter peixes mortos
Gosto das canções que também canto na escola
Não gosto de tomar banhos de mangueira
Gosto de ir à praia
Não gosto da comida
Gosto de nos poderem deixar sair sem hora marcada
Não gosto de algumas canções que nos fazem cantar
Gosto de jogar futebol
Não gosto de estar no quadrado
Vai/não vai?
Não há bela sem senão…
Zé P/João P
quinta-feira, 8 de junho de 2006
Deixem jogar o Mantorras
MONANGABÉ
Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações;
Naquela roça grande tem café maduro e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem as aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? Quem vai a tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
Monangambé...
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
Monangambé
António Jacinto(Poemas, 1961)
No, no , no nos moveran
PABLO NERUDA (1904–1973)
Tradução de José Jeronymo Rivera
Sobe a nascer comigo, irmão
E tua mão estende-me da funda
zona de tua dor disseminada.
Não voltarás do fundo dos rochedos.
Não voltarás do tempo subterrâneo.
Não voltará tua voz endurecida.
Não voltarão teus olhos perfurados.
Vem me fitar da profundez da terra,
lavrador, tecedor, pastor calado:
domador de guanacos tutelares:
pedreiro por andaimes desafiado:
aguadeiro de lágrimas andinas:
joalheiro dos dedos machucados:
agricultor tremendo na semente:
oleiro em tua argila derramado:
trazei ao cálix desta nova vida
as vossas velhas dores enterradas.
Mostrai-me vosso sangue e vosso corte,
dizei-me: aqui fui castigado,
porque a jóia não rebrilhou, ou a terra
não entregou a tempo a pedra ou o grão:
assinalai-me a terra em que caístes
e o madeiro em que vos crucificaram,
acendei-me as antigas pederneiras,
as velhas lâmpadas, os látegos gravados
por séculos e séculos nas chagas
e os machados de brilho ensangüentado.
Venho falar por vossa boca morta.
Na vastidão da terra juntai todos
os silenciosos lábios derramados
e do fundo falai-me toda esta longa noite
como se eu estivesse ancorado convosco,
contai-me tudo, cadeia a cadeia,
contai elo por elo, e passo a passo,
afiai os facões que conservastes,
ponde-os em meu peito e em minha mão,
como um rio de raios amarelos,
como um rio de tigres enterrados,
e deixai-me chorar, horas, dias, anos,
idades cegas, séculos estelares.
Dai-me o silêncio, e a água, e a esperança.
Dai-me o combate, dai-me o aço e os vulcões.
Trazei a mim os corpos como ímãs.
Acudi minha boca e minhas veias.
Falai pelo meu verbo e por meu sangue.
Deixai-me chorar, horas, dias, anos, idades cegas, séculos estelares.
Dai-me o silêncio, a água, a esperança, a luz, a paz
Dai-me o combate, dai-me o aço, a força dos vulcões, o fogo e a revolta.
Acudi minha boca e minhas veias.
No, no, no nos moveran
Falai pelo meu verbo e por meu sangue. Nao deixes que me domem.
Nas minhas costas não!
no, no, non nos moveran
sobe a nascer comigo
terça-feira, 6 de junho de 2006
Era uma vez um menino... não, era uma vez um papagaio...
O Brinquedo
Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ía subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel,
E o menino ao vê- la assim, sorriu
E cortou- lhe o cordel.
MIGUEL TORGA “Diário”
Tinhas mesmo de ser tu, Oh Miguel...
segunda-feira, 5 de junho de 2006
Isto já parece o regresso ao passado, mas...
Skybird
Written by: Neil Diamond
Skybird
Make your soul
And every heart will know
Of the tale
Skybird
Make your tune
For none may sing it
Just as you do
Look at the way I glide
Caught on the wind?s laxy tide
Sweetly how it sings
Rally each heart at the sight
Of your silver wings
Skybird, skybird
Nightbird
Find your way
For none may know it
Just as you may
domingo, 4 de junho de 2006
Semana em cheio
Foi a semana do livro: o AMR e o "Contador de Histórias"; foi descobrir alguém (T.) que estava, afinal, tão próxima e parecia tão longe... Foi rever velhos amigos a troco de nada, só pela gratuidade... é bom estar vivo assim.
Obrigado a todos
São tantas já vividas
São momentos que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver (chorar) sorrir, fingindo
Eu sei, já sofri
Mas não deixo de amar
Se chorei ou se sofri
O importante é que emoções eu vivi
Mas eu estou aqui
Vivendo esse momento lindo
E as emoções se repetindo
Em paz com a vida
E o que ela me traz
A fé (ingenuidade) que me faz
Optimista demais
Se chorei ou se sorri (ou se sofri)
O importante é que emoções eu (vivi) vivo
sábado, 3 de junho de 2006
Como tudo começou...
Voa... Voa alto... não te deixes prender!
O papão do anão
O papão do anão
É o anão do próprio anão
O pior p'rò anão
É ter um irmão menor
É ter um irmão maior
É ter um irmão...
Só de costas o anão é parecido
Com o menino que pode ter sido
Os anões não se medem aos palmos
Eu sou o melhor
Eu sou o maior
Quero ser
Hei-de ser sempre o mais pequenino
Estreitinho
Maneirinho
Que há-de haver
Propriamente ser anão não custa puto
O que custa é manter esse estatuto
O papão do anão
É o anão do próprio anão
O pior p'rò anão
É ter um irmão menor
É ter um irmão maior
É ter um irmão melhor
O pior p'rò anão
É ter um irmão...
Ser anão não é coisa do corpo
É forma do espírito morto
São anões p’ra quem tudo são palmos
Eu sou o melhor
Eu sou o maior
Quero ser sempre o mais pequenino
Estreitinho
Mirradinho
Que há-de haver
Propriamente ser anão não é defeito
É gostar de ser pequeno sem proveito
José Mário Branco, in "Resistir é vencer"
Sarajevo (versão 92)
A propósito da visita do António Manuel Ribeiro à minha Escola (foi no dia 1), a páginas tantas, falou-se do Iraque e lembrei-me de uma das suas canções que me marcaram... Andei, hoje, todo o dia com a música na cabeça. Substitua-se Sarajevo por Iraque e...
Sarajevo (versão 92)
Diz-me que este verão foi mentira
Nada disto está a acontecer
Sarajevo, um alvo nas miras
E os polícias do mundo estão a ver
Jugoslávia bonita
Filha da Europa
Fronteiras malditas
Que o ódio devora
Sarajevo, Sarajevo.
É no centro do velho continente
Que a matança das raças se consome
Esse homem de pé deve morrer
No terreiro da caça só o medo se move.
Jugoslávia bonita
Filha da Europa
Fronteiras malditas
Que o ódio devora
Sarajevo, Sarajevo.
Sarajevo não tem fim
A vergonha está isenta
Assim apodrece um país
No palco deste planeta.
Jugoslávia bonita
Filha da Europa
Fronteiras malditas
Que o ódio devora
Sarajevo, Sarajevo.
O pior dos animais anda à solta
A vingança nos olhos ancestrais
Solução final que se retoma
Hitler à mesa dos chacais.
Jugoslávia bonita
Filha da Europa
Fronteiras malditas
Que o ódio devora
Sarajevo, Sarajevo.
sexta-feira, 2 de junho de 2006
Emoções e Poesia
Escolhi este, sem pensar muito.... E o engraçado é que nem é um poema, ou pelo menos não tem a métrica, nem a rima... Fica como homenagem.
Se não podes ser uma árvore sobre a colina,
que sejas um arbusto no vale.
Mas que sejas o melhor arbusto de todas as léguas ao seu redor.
Se não podes ser como uma estrada, sejas uma vereda.
Se não podes ser o sol, sejas uma estrela.
O valor não se mede pelas dimensões.
Sejas o que fores...
que o sejas profundamente...
(Martin Luther King)
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