quinta-feira, 19 de novembro de 2009

OTEXTO QUE NÃO FOI ESCRITO A TEMPO...


O tempo avançou e já era tarde. A exposição de Isidro Ferrer tem de seguir viagem. Para França, dizem-nos. Não se foi a tempo de divulgar o seu trabalho no Público, como se pretendia. Deixa-se aqui uma versão possível do que poderia ter sido impresso e assim ter levado (hipoteticamente) mais pessoas à Biblioteca de São Domingos de Rana e à Bedeteca de Lisboa.

(Letra pequena online agradece ao Farol de Sonhos e ao Isidro Ferrer a disponibilidade e os meios para a notícia que não aconteceu... E ao Vítor Gaspar pela maior parte das fotos. Aos leitores/visitantes, pede-se que se apropriem do que se segue e divulguem em blogues, sites e onde quer que seja. Ele é mesmo especial e deve ser conhecido.)

Aqui vai:


Exposição de Isidro Ferrer: Das Mãos à Obra
Muito mais que ilustrações


Um editor pediu-lhe que ilustrasse o Libro de las Preguntas de Pablo Neruda. E Isidro Ferrer pôs-se a ler a obra toda do poeta. Mas não lhe bastou. Fez-se ao caminho e visitou todas as casas de Pablo. Por algum tempo, um foi o outro. O resultado pode ser visto em Cascais, na Biblioteca de São Domingos de Rana. Originais a três dimensões e sem respostas.



Pablo Neruda escrevia muito e sobre todas as coisas. Entre os textos encontrados e publicados depois da sua morte, está o Libro de las Preguntas, editado pela primeira vez em 1974 na Argentina. Em 2003, a editora Media Vaca quis publicá-lo e chamou o designer gráfico e ilustrador Isidro Ferrer. Fez bem. Mas teve de esperar três anos para o pôr nas bancas. Não fez mal. Os trabalhos de Isidro Ferrer são muito mais que ilustrações e estão expostos na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana até amanhã (20 de Novembro). Na Bedeteca de Lisboa, mostrou-se outra faceta de Ferrer: cartazes para espectáculos de teatro.

Para o Libro de las Preguntas, Isidro Ferrer leu toda a obra do poeta e visitou as suas várias casas. “Para o conhecer, saber por onde andara, o que vira, o que coleccionara”, explicou o ilustrador enquanto guiava a exposição durante o encontro Farol de Sonhos, em Cascais. “Não se pode pôr tudo num livro. Há que fazer um trabalho de depuração. Para condensar muita informação num só desenho, preciso de lhe procurar a essência”, disse ao Letra pequena. Por isso, socorre-se de palavras-chave dos textos propostos e só depois as materializa. Mas pode enganar-se: “Abandonei dois caminhos antes de chegar a este.” “Este” foi o de transformar o livro de Neruda num teatro de fantoches. Onde o próprio ilustrador aparece.



“Eu quero ser sempre os outros. Retiro deles tudo o que posso” e nunca deixa de revelar os artistas que o influenciam e inspiram em cada trabalho. Também gosta de enigmas, de criar ambientes de mistério, “não é só a beleza plástica que me interessa”. Neste caso, “não podia dar respostas às perguntas, para não matar o texto, nem ficar colado a elas, numa redundância, sem lhes acrescentar nada”.


Quando um trabalho acaba, sente “uma espécie de depressão pós-parto, mas cada projecto é um momento único. Não penso nunca em retomá-lo nem fico a cismar que deveria ter feito de outra maneira. Se o mesmo pedido acontecesse depois, já era outra coisa, outro trabalho. Os momentos não se repetem. Se o livro acabou, acabou.”

Atleta na adolescência e actor na juventude, agora é o quê? “Sou designer, pai, ilustrador, faço cartazes, desenho em cadernos, sou amigo, curioso, artesão.” Mas não lhe chamem artista. “Eu não crio nada, recrio.” E lembra: “A palavra ‘recriar’ em espanhol remete para ‘brincadeira’ [recreio, em português]. É isso que eu faço, brinco. Deus é que cria.” Mas não acredita nele. “Os princípios religiosos são bons. Levam-nos a pensar no bem, no mal. Isso é positivo. Gosto de acreditar numa força dentro de nós, nunca acima.”



Pensa (e diz) que é muito importante recuperar-se a alegria e o optimismo. “Estamos muito derrotados. A surpresa e a descoberta que a emoção proporciona foram anuladas pela informação. É preciso retomar a pausa e a calma e voltar a observar as coisas e desfrutar delas. A emoção está a ser esmagada pela informação. Conhecemos muito e não sentimos nada.”



Isidro Ferrer licenciou-se em Teatro em Saragoça e a cenografia interessou-o por ser diferente da arquitectura, mas realizou “só” três obras cenográficas. Durante um ano viveu em Paris para aprender mimo. Depois afastou-se do teatro. “Foi uma renúncia terapêutica, digamos assim.” E explica: “O teatro usa a mentira e a sedução em benefício próprio. Depois de algum tempo, já não és a pessoa nem a personagem. Não quero isso para mim.” No entanto, o teatro é recorrente na sua obra, quando não mesmo o cliente que lhe encomenda um cartaz. Ainda bem.

1 comentário:

  1. Margarida:

    Receio bem que o título se torne verdadeiro "o texto que não escrito a tempo"

    Resta-me amanhã (6ª para ir a Cascais...)

    Hum... ...

    Parece fabuloso... Faz-me lembrar a exposição de artefactos de leituras que vimos em Pombal

    E logo eu que também já li o "livro das perguntas"

    De qualquer modo obrigado

    João

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