segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Pontos de vista - Eduardo Galeano



Desde el punto de vista del sur, el verano del norte es invierno.
Desde el punto de vista de una lombriz, un plato de espaguetis es una orgía.
Donde los hindúes ven una vaca sagrada, otros ven una gran hamburguesa.
Desde el punto de vista de Hipocrates, Galeno, Maimonides y Paracelso,
existía una enfermedad llamada indigestión, pero no existía una enfermedad llamada hambre.
Desde el punto de vista de sus vecinos del pueblo de Cardona, el Toto Zaugg, que andaba con la misma ropa en verano y en invierno, era un hombre admirable:
-El Toto nunca tiene frío -decían.
El no decía nada. Frío tenia, pero no tenia abrigo.
Desde el punto de vista del búho, del murciélago, del bohemio y del ladrón, el crepúsculo es la hora del desayuno.
La lluvia es una maldición para el turista y una buena noticia para el campesino.
Desde el punto de vista del nativo, el pintoresco es el turista.
Desde el punto de vista de los indios de las islas del mar Caribe, Cristóbal Colon, con su sombrero de plumas y su capa de terciopelo rojo, era un papagayo de dimensiones jamás vistas.
Desde el punto de vista del oriente del mundo, el día del occidente es noche.
En la India, quienes llevan luto visten de blanco.
En la Europa antigua, el negro, color de la tierra fecunda, era el color de la vida, y el blanco, color de los huesos, era el color de la muerte.

Según los viejos sabios de la región colombiana del Choco, Adán y Eva eran negros y negros eran sus hijos Cain y Abel. Cuando Cain mato a su hermano de un garrotazo, tronaron las iras de Dios. Ante las furias del señor, el asesino palideció de culpa y miedo, y tanto palideció que blanco quedo hasta el fin de sus días. Los blancos somos, todos, hijos de Cain.

Si Eva hubiera escrito el Génesis, ?como seria la primera noche de amor del genero humano? Eva hubiera empezado por aclarar que ella no nació de ninguna costilla, ni conoció a ninguna serpiente, ni ofreció manzanas a nadie, y que Dios nunca le dijo que parirás con dolor y tu marido te dominara. Que todas esas son puras mentiras que Adán contó a la prensa.

Si las Santas Apostolas hubieran escrito los Evangelios, ¿como seria la primera noche de la era cristiana?

San José, contarían las Apostalas, estaba de mal humor. El era el único que tenia cara larga en aquel pesebre donde el niño Jesús, recién nacido, resplandecía en su cuna de paja. Todos sonreían: la Virgen María, los angelitos, los pastores, las ovejas, el buey, el asno, los magos venidos del Oriente y la estrella que los había conducido hasta Belén de Judea.

Todos sonreían, menos uno. San José, sombrío, murmuro:

-Yo quería una nena.

En la selva, ¿llaman ley de la ciudad a la costumbre de devorar al mas débil?

Desde el punto de vista de un pueblo enfermo, ¿que significa la moneda sana?

La venta de armas es una buena noticia para la economía, pero no es tan buena para sus difuntos.

Desde el punto de vista del presidente Fujimori, esta muy bien asaltar al Poder Legislativo y al Poder Judicial, delitos que fueron premiados con su reelección, pero esta muy mal asaltar una embajada, delito que fue castigado con una aplaudida carnicería.

domingo, 29 de novembro de 2009

965 - Onde se fala de um fim de semana que o foi verdadeiramente



Deve ser do buraco do Ozono e das alterações climáticas...
Já há muitos anos que, em tempo de aulas, não tinha dois fins de semana consequtivos sem tarefas a cumprir. Quero isto dizer que tenho tido,excepcionalmente, a possibilidade de gozar o fim de semana como a maoiria das pessoas o têm! para usufruir e descansar (na medida do possível, pois há sempre tarefas domésticas a desempenhar)

O meu começou na 6ª à tarde com um passeio pela baixa que se vai tornando rotineiro. Voltei para o pé do meu amigo Fernando e comecei a ler "o Processo" de Franz Kafka. Tem-me prendido a atenção desde a primeira página parecendo-me, infelizmente, (até agora) um argumento muito plausível.

Mais tarde foi tempo de ir até à escola receber uma formação sobre quadros interactivos!

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O sábado e domingo passaram-se a saborear a casa e a tratar de pequenitas coisas: jardim, arrumos, limpesas...
Apesar de todo o esforço feito na conquista da jovem da fotografia esta mantém-se fiel ao ditado: "Os cães têm donos, os gatos escolhem quem os sirva..."
Enquando desbastava as roseiras ela esteve sempre de olho em mim (qual vizinha bisbolheteira que recolhe informações para depois as contar).
Agora deixar-se tocar é que não... acede a passar todo o dia por aqui, a dar as suas voltas mas mantendo a distância que considera de segurança. Nem oquentinho da casa a demove (e logo agora que as noites estão frias e a lareira aberta pela primeira vez no sábado é uma tentação)

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Merece registo a visita do meu sobrinho no sábado. O rapaz deliciou-se com os novos livros do tio (e este ficou maravilhado com os olhos brilhantes do sobrinho ao saborear as histórias, as ilustrações, ... dos livros). Valeu a pena a compra! (os livros infantis estão muito melhores mesmo! Tornam tão simples a abordagem dos temas copmuns e incomuns da vida)

refiro-me a:
1 - "Onda" é apenas ilustrado. A Autora é Suzy Lee e narra esta ou outras histórias

Um dia cheio de sol
Uma menina curiosa
Uma onda brincalhona

(por acaso, quando o desfolhei, ouvi outra história e no sábado ainda outra diferente. Porque será?)

















2 - O principezinho em versão Pop-Up (que até levou os adultos a esquecerem o futebol durante 5 minutos...)

A promoção da leitura na Nova Zelândia

Neste aspecto, não sou miserabilista e até acho que muito já fez o P.N.L. em apenbas três anos de existência num país em que o analfabetismo ainda existe(!)

Este é um dos vídeos institucionais produzidos pela Nova Zelândia a propósito da promoção da leitura.

964 - Pensamento do dia III
























Um poema é uma pintura feita com palavras

João P.
Nov 09

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

962 - Pensamento do dia II



























"Fazer de cada página um barquinho de papel e deixá-la navegar na esperança de que outra mão o receba"

António Lobo Antunes

963 - Vemos, ouvimos e lemos... (não podemos ignorar)



Já me tinha referido a este assunto, faz agora um ano nos post 604 e 605.
Infelizmente pouca coisa mudou (se mudou alguma coisa) e o assunto continua muitíssimo actual.

O Público de dia 24 volta ao tema devido aos últimos acontecimentos e ao aumento das vítimas.

Desde Janeiro a violência de ex-companheiros, maridos ou namorados já matou mais de duas dezenas de mulheres

E vejam-se os nomes, idades e causas! impressionante tudo isto...

Maria Graça Fonseca, 82 anos
Na Quinta da Atalaia, Covilhã, um homem de 77 anos matou a sua companheira à facada.

Conceição Cardoso, 47 anos
Baleada mortalmente pelo marido em Alvélos, Barcelos, no seguimento de discussões de ordem profissional.

Tânia Moreira, 30 anos
Morta a tiro pelo companheiro, um guarda prisional, de 44 anos, com a sua arma de serviço, em São Julião do Total, Loures. Foi também vítima o ex-marido da mulher baleada. Tudo terá acontecido quando o homicida chegou a casa e viu a companheira com o ex-marido.

Maria Manuela Reis Antunes Margarido, 49 anos
Esfaqueada até à morte pelo ex-marido, de 53 anos, dentro do seu carro, quando se preparava para ir trabalhar. O crime teve lugar em Casais de Arega, Figueiró dos Vinhos.

Sandra Neves, 36 anos
Esfaqueada mortalmente em Pouco do Mouro, Setúbal, pelo companheiro de 43 anos. Ciúmes doentios poderão ter estado na origem do crime.

Sara Tavares, 26 anos
Morta em Portimão pelo marido, de 24 anos, com uma faca. O crime terá sido provocado por um desentendimento entre marido e mulher, quando esta não quis ir passar o dia a casa da sogra.

Laura Jorge Andrade, 42 anos
Morta a tiro pelo marido em Frazão, Paços de Ferreira. Desavenças conjugais que já vinham a agravar-se devem ter estado na origem do crime.

Marília Madeira, 36 anos
Baleada mortalmente pelo companheiro de 36 anos em A do Neves, Almodôvar. Uma espingarda terá sido a arma usada neste crime de natureza passional.

Deolinda Rodrigues, 36 anos
Morta com uma caçadeira de canos serrados pelo companheiro de 47 anos em Silves, Faro. Estavam separados há duas semanas.

Vítima desconhecida, 41 anos
Uma mulher de 41 anos foi mortalmente estrangulada em Raposeira, Chaves, pelo marido, de origem senegalesa. Por detrás deste crime terão estado razões passionais.

Maria Alice S., 61 anos
Vivia em Moitelas, Sobral de Monte Agraço e foi vítima de um tiro de caçadeira disparado pelo marido de 63 anos que se enforcou após o crime.

Cláudia Barreira, 37 anos
Tinha-se separado há cinco meses quando foi alvo de três tiros disparados pelo marido. O crime ocorreu em Vila Pouca de Aguiar.

Liliana, 36 anos
Não conseguiu evitar que o seu ex-companheiro a encontrasse e a assassinasse na casa dos pais, em Donelo, Sabrosa. A vítima foi morta a tiro e deixou órfãs quatro crianças.

Otília Farinha, 45 anos
Já tinha apresentado várias queixas contra o marido, quando o mesmo a assassinou com uma arma de fogo e se suicidou. O processo de divórcio terá estado na origem deste crime em Arco da Calheta, na ilha da Madeira.

Sandra Pereira, 23 anos
Foi assassinada no posto de trabalho com um machado pelo ex-companheiro, de 26 anos, em Chão Duro, na Moita. O que terá causado o crime foi a discordância pela custódia dos filhos.

Vítima desconhecida, 21 anos
Morreu ao ser atingida por vários golpes com uma arma branca, pelo namorado de 22 anos, na ilha de São Miguel, nos Açores.

Vítima desconhecida, 21 anos
Jovem foi degolada pelo ex-namorado em Ponta Delgada. O assassino "ajudou a procurar a vítima" após efectuar o crime.

Linda Cossa, 37 anos
Já tinha apresentado várias queixas contra o seu ex-companheiro, mas não foram suficientes para evitar que o homem, de 50 anos, a assassinasse com um machado na Rua da Cidade de Almada, no Seixal.

Helena Preto, 42 anos
Vivia em Lardosa, no concelho de Castelo Branco, quando o marido, guarda nacional republicano, a assassinou com uma pistola e suicidou-se.

Sandra Ruela, 39 anos
Foi morta com um tiro na cabeça pelo companheiro, de 42 anos, agente da PSP. A relação conflituosa entre o casal era conhecida dos vizinhos, em Belas, Sintra.

Margarida Sá Marques, 36 anos
Esfaqueada pelo companheiro de 50 anos. A esquadra de Mirandela conhecia os relatos de violência doméstica entre o casal.

Sandra Pontes, 23 anos
Violada e esfaqueada até à morte juntamente com a amiga Marinela Virgínio, em Rio de Mouro, Sintra. O autor do crime foi o ex-companheiro de Sandra Pontes.

Carla Martins, 28 anos
Assassinada à facada pelo ex-namorado, em Juncal do Campo, no concelho de Castelo Branco. O ex-namorado já a tinha ameaçado e agredido.

Joana Fulgêncio, 20 anos
Encontrada morta no carro do namorado de 22 anos, com um saco de plástico na cabeça. O rapaz terá simulado um sequestro para encobrir o assassinato.

Maria Duarte, 36 anos
Abatida a tiro ontem pelo ex-companheiro, em Santarém.

Pensamento do dia



























"Fazer de cada página um barquinho de papel e deixá-la navegar na esperança de que outra mão o receba"

António Lobo Antunes

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Onda

Ainda estou nas nuvens...

Pela minha escola decorre uma feira do livro. Fui lá espreitar e dei de caras com ele (e com alguns outros que me fizeram gastar mais do que esperava. Que posso eu fazer?, a Margarida meteu-me o bichinho...)

O livro em causa chama-se "Onda" e é apenas ilustrado. A Autora é Suzy Lee e narra esta ou outras histórias

Um dia cheio de sol
Uma menina curiosa
Uma onda brincalhona

(por acaso, quando o desfolhei, ouvi outra história. Porque será?)




961 - Dia mundial da ciência



Comemorou-se ontem (24.11.)o Dia mundial da ciência...
Aqui fica o meu contributo para a reflexão.

Quantas e quantas vezes desperdiçamos bons momentos de reflexão e aprendizagem por estarmos focados no nosso umbigo e/ou focos particulares, esquecendo de lançar um olhar mais abrangente. Vem muito a propósito a metáfora da árvore e da floresta ou da análise e síntese. Os dois momentos são necessários para que o conhecimento progrida.

Agora o que não vale é estar tão focado em planificações muito certinhas e deixar passar a pergunta inteligente (ou estúpida) que poderia ser ocasião de reflexão e de fomento de uma atitue científica.

Não sei se houve maçã ou não no caso do Newton, mas sei que, de certeza houve a vontade de saber alguns porquês. Felizmente que ele não se deixou castrar pelo pensamento único, uniformizador e pelas falinhas mansas do sempre foi assim! porquê questionar....

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ilusão (ou o que quiserem)



Desta vez arrisco e venho falar de um livro que não li. Refiro-me ao último romance de Luísa Costa Gomes - Ilusão (ou o que quiserem).
Ouso fazer esta proposta após ler a entrevista da autora que saíu no último número do Jornal de Letras. A entrevista é belíssima e a autora acaba por nos abrir o apetite ao referir que, pela primeira vez, se tenta pôr na pele de um homem (jorge) um dos protagonistas da obra.
























Deixo-vos com a sinopse do livro e com o convite a ler a entrevista no Jornal de Letras


"Jorge é uma espécie de actor que vive de expedientes (anúncios, dobragens, figuração), à espera da sua oportunidade; o grupo de teatro a que pertence não se entende sobre o próximo projecto. Quando a mulher, uma professora de Português profundamente deprimida, entra em furor pedagógico, abre espaço e põe em marcha uma série de acontecimentos que terão para Jorge a importância de uma única, ténue revelação.

Esta é a história de uma separação, mas também de uma paixão obsessiva, de uma viagem patética, de um projecto que corre bem demais, e de outras peripécias.

Ilusão (ou o que quiserem) é um romance satírico sobre um homem à procura da realidade, no meio de tantos, tantos fantasmas, vozes sem corpo, corpos sem voz, e da multidão de desconhecidos que faz parte da nossa vida de todos os dias. "
-
Edição: Dom Quixote
Autor: Luísa Costa Gomes
ISBN: 978-972-20-3893-5
Páginas: 192
Dimensões: 15,5 x 23,5 cm

960 - Existência



- Como é que é? Ficas? Eu tenho que ir andando.
Bom, antes de te deixar quero-te dizer que foi um prazer conversar contigo ao longo destes dias.

- Fica bem. Não penses que tu partes e que eu fico. Lembra-te que tu és tão real como eu- Lembra-te do meu poema...


Ah, perante esta única realidade


Ah, perante esta única realidade, que é o mistério,
Perante esta única realidade terrível - a de haver uma realidade.
Perante este horrível ser que é haver ser.
Perante este abismo de existir um abismo,
Este abismo de a existência de tudo ser um abismo,
Ser um abismo por simplesmente ser,
Por poder ser,
Por haver ser!
- Perante isto tudo como tudo o que os homens fazem,
Tudo o que os homens dizem,
Tudo quanto constroem, desfazem ou se constrói ou desfaz através deles,
Se empequena!
Não, não se empequena... se transforma em outra coisa -
Numa só coisa tremenda e negra e impossível.
Uma coisa que está para além dos deuses, de Deus, do Destino -
Aquilo que faz que haja deuses e Deus e Destino,
Aquilo que faz que haja ser para que possa haver seres,
Aquilo que subsiste através de todas as formas,
De todas as vidas, abstratas ou concretas,
Eternas ou contingentes,
Verdadeiras ou falsas!
Aquilo que, quando se abrangeu tudo, ainda ficou fora,
Porque quando se abrangeu tudo não se abrangeu explicar por que é um tudo,
Por que há qualquer coisa, por que há qualquer coisa, por que há qualquer coisa!

Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor,
E é com minhas idéias que tremo, com a minha consciência de mim.
Com a substância essencial do meu ser abstrato
Que sufoco de incompreensível,
Que me esmago de ultratranscendente,
E deste medo, desta angústia, deste perigo do ultra-ser,
Não se pode fugir, não se pode fugir, não se pode fugir!

Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?

Ah, não, nenhuma - nem morte, nem vida, nem Deus!
Nós, irmãos gêmeos do Destino em ambos existirmos,
Nós, irmãos gêmeos dos Deuses todos, de toda a espécie,
Em sermos o mesmo abismo, em sermos a mesma sombra,
Sombra sejamos, ou sejamos luz, sempre a mesma noite.
Ah, se afronto confiado a vida, a incerteza da sorte,
Sorridente, impensando, a possibilidade quotidiana de todos os males,
Inconsciente do mistério de todas as coisas e de todos os gestos,
Por que não afrontarei sorridente, inconsciente, a Morte?
Ignoro-a? Mas que é que eu não ignoro?
A pena em que pego, a letra que escrevo, o papel em que escrevo,
São mistérios menores que a Morte? Como, se tudo é o mesmo mistério?
E eu escrevo, estou escrevendo, por uma necessidade sem nada.
Ah, afronte eu como um bicho a morte que ele não sabe que existe!
Tenho eu a inconsciência profunda de todas as coisas naturais,
Pois, por mais consciência que tenha, tudo é inconsciência,
Porque é preciso existir para se criar tudo,
E existir é ser inconsciente, porque existir é ser possível haver ser,
E ser possível haver ser é maior que todos os Deuses.

Álvaro de Campos

domingo, 22 de novembro de 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

A Vida em Surdina




David Logde é um dos meus autores favoritos. Este Verão deliciei-me com a leitura de mais um livro deste autor britânico.

David Lodge, nas suas obras, descreve, de forma notável, as dores mais comuns dos seres humanos - a solidão, a perda, a incompreensão, a velhice, o desespero – nunca esquecendo de contrapor sentimentos mais positivos como o amor. A arte da narrativa de Lodge conduz-nos a um misto entre realidade e ficção, nunca sabendo onde está a fronteira.Descreve os ambientes de uma forma pormenorizada, as paisagens, as ruas, as mobilias, até os cortinados ....ou seja conseguimos facilmente “entrar” dentro dos livros dele, como quem está a participar na acção.

A Vida em Surdina conta-nos a história do professor universitário Desmond Bates que se reformou antecipadamente por problemas auditivos. Desmond Bates conta-nos as conversas que tem, ou tenta ter, as suas relações com a mulher, com o pai, com os filhos, colegas e também com uma jovem aluna da universidade. É um relato que nos obriga a reflectir sobre a condição humana e principalmente sobre a velhice…

Tal como David Lodge nos habitou, A Vida em Surdina, é uma história recheada de humor e que a maioria de nós, pensa que a surdez é cómica, enquanto a cegueira é trágica, mas isso é apenas um pequeno pormenor.
Recomendo!

Feira dos Livros Gulbenkian

Clique para descobrir. Eu não vou lá desde os tempos da faculdade....ui...onde é que eles já vão :-)

Sabia que a primeira máquina de aluguer de livros é portuguesa?

Parece que é verdade. Descubra aqui.

O ano da morte de Ricardo Reis



















Devo a leitura de José Saramago à Jacky . Conversando, há uns anos atrás sobre leituras, ela falou-me do "ensaio sobre a cegueira". Comecei por esse e fiquei logo fã (embora o tema da obra seja duro...)

Já li muitas obras dele, mas o livro sobre o qual hoje quero falar é de "O ano da morte de Ricardo Reis" do qual me faltam poucas páginas para acabar a leitura.

Não é um dos livros de José Saramago cujo enredo seja o que mais nos faça sorrir ou com que empatizemos mais, no entanto, parece-me ser um dos livros em que José Saramago tenha mais investigado para o escrever ( para além do memorial do Convento, claro)

A História anda à volta do regresso de Ricardo Reis (um dos heterónimos de Fernando Pessoa) do Brasil para assistir ao funeral de Fernando Pessoa. Depois descreve-se uma possível vida do médico Ricardo Reis em Lisboa nos duros anos 30 em Portugal.
Uma vez ou outra são-nos apresentados diálogos imaginários entre Ricardo Reis e Fernando Pessoa e somos introduzidos a um ou outro poema de Ricardo Reis.

Porque recomendo a leitura da obra (e porque ela me fascinou?)

1 - Pelo realismo e plausibilidade do retrato que Saramago faz da vida de Ricardo Reis em Lisboa. A sua vida pelo Chiado e pelo Miradouro de Santa Catarina faz-nos imaginar que Ricardo Reis ainda lá viva hoje e abra agorinha mesmo a janela da sua casa...

Cito

" Ricardo Reis aproximou-se duma janela, através da vidraça sem cortina viu as palmeiras do largo, o Adamastor, os velhos sentados no banco, e o rio sujo de barro lá adiante, os barcos de guerra com a proa virada para terra, por eles não se sabe se a maré está a encher ou a vazar, demorando aqui um pouco logo veremos,[...] Ricardo Reis percorreu de novo toda a casa, não pensava, olhava apenas, depois foi à janela, a proa dos barcos estava virada para cima, para montante, sinal de que a maré descia. Os velhos continuavam sentados no mesmo banco."
(José Saramago: O ano da Morte de Ricardo Reis)

Até nos dá vontade de conversar com ele ...

Então meu caro Ricardo Reis... Com que então fugiste do Hotel Bragança? Arranjaste-a bonita! algo andaste a tramar... Sim, vejo-te à janela da tua nova casa e imagino-te... não tens fuga. Razão tinha o Pimenta... Chamado à PVDE, boa rez não podes ser...
Eu vejo-te daqui, aceno-te. Será que me estás a ver?

2 - Pela investigação séria que José Saramago fez da obra de Fernando Pessoa. As características do personagem construído condizem com os traços psicológicos que Pessoa construiu para Ricardo Reis

RICARDO REIS – O POETA DA RAZÃO

Heterónimo de Fernando Pessoa


A partir da carta a Adolfo Casais Monteiro

nasceu no Porto (1887);
foi educado num colégio de jesuítas ;
”É latinista por educação alheia e semi-helenista por educação própria”;
médico;
viveu no Brasil, expatriou-se voluntariamente por ser monárquico;
Interesse pela cultura Clássica, Romana (latina) e Grega (helénica);

Fisicamente:
”Um pouco mais baixo, mas forte, mais seco” do que Caeiro;
” de um vago moreno”; cara rapada;

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.

A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.

Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:

- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
- Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
- Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
- Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).

Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos teus e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.

A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.

A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.

- A concepção dos deuses como um ideal humano
- As referências aos deuses da Antiguidade (neo-paganismo) greco-latina são uma forma de referir a primazia do corpo, das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da subjectividade ou da interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos
- A recusa de envolvimento nas coisas do mundo e dos homens

3 - Pela descrição da Lisboa e de Portugal dos anos 30. Mais uma vez o relato é sério, rigoroso e cuidado


4 - Quem escreve?
não sou eu, foi um impostor... alguém que dita...)


Tenho Mais Almas que Uma

Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.

Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo.

Ricardo Reis, in "Odes"

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Uma das minhas descobertas do Verão passado


Estava mortinha por descobrir se Chico Buarque escritor teria tanto potencial quanto Chico Buarque compositor e cantor. E não é que tem?! Não é a sua primeira obra e, talvez por isso, nota-se a segurança na forma narrativa adoptada. A perspectiva é interessantíssima. Deixo-vos a sinopse da própria editora, a "D. Quixote":

"Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história da sua linhagem, desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até ao tetraneto, um jovem do Rio de Janeiro actual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e económica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos."

sexta-feira, 20 de novembro de 2009



Este Verão descobri Juan José Millás... Ao folhear uma revista sobre livros li:

" Este é um livro imprescidível, belo e assombroso sobre o inevitável ofício de crescer"

Tinha acabado de ser publicado O Mundo , comprei! Li ou melhor devorei-o!! e a seguir dirigi-me às livrarias procurando mais livros do autor madrileno.

O Mundo conduz-nos à infância, à adolescênciade Millás, um cenário que nos transporta para um ambiente do pós-guerra, desvendando-se os segredos, as aventuras, os desejos e as esperanças do protagonista. Um amigo condenado a morrer, o primeiro amor, um vizinho espião,o pai e a mãe, naquela rua tudo ganha uma dimensão diferente, as coisas adquirem uma qualidade mágica.

As memórias, os sentimentos, os pensamentos, os desejos, a ficção e a realidade são uma só realidade que resulta num belo e assombroso livro sobre a arte de crescer.

A não perder!!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

956 - Soube bem



Hoje tirei um tempinho para almoçar com a ... (desculpa ... por publicar aqui a nossa conversa mas, só nós os dois é que sabemos que eras tu e eu, por isso o anonimato está garantido!)

Disseste-me uma coisa que me soube a elogio e isso fez-me muito bem! obrigado
Dizias então que eu devia ser um coordenador muito chaaaato! mas que entendias que só assim é que se podia progredir pessoal e profissionalmente e não ficar estagnado. Não havia outra forma que obrigasse alguém a sair de algum marasmo... (ou dito de outro modo, para se alargar horizontes é preciso ter alguém nos nos faça sair da cómoda situação de estar parado a ver o que acontece...)

Se assim é, ainda bem que sou chato!


Uma nêspera estava na cama
deitada, muito calada, a ver o que acontecia.

Chegou a Velha e disse:
olha uma nêspera e zás comeu-a !

É o que acontece às nêsperas
que ficam deitadas, caladas, a esperar o que acontece!

Adaptado de Mário Henrique Leiria, "Novos contos do Gin Tonic", 1974

OTEXTO QUE NÃO FOI ESCRITO A TEMPO...


O tempo avançou e já era tarde. A exposição de Isidro Ferrer tem de seguir viagem. Para França, dizem-nos. Não se foi a tempo de divulgar o seu trabalho no Público, como se pretendia. Deixa-se aqui uma versão possível do que poderia ter sido impresso e assim ter levado (hipoteticamente) mais pessoas à Biblioteca de São Domingos de Rana e à Bedeteca de Lisboa.

(Letra pequena online agradece ao Farol de Sonhos e ao Isidro Ferrer a disponibilidade e os meios para a notícia que não aconteceu... E ao Vítor Gaspar pela maior parte das fotos. Aos leitores/visitantes, pede-se que se apropriem do que se segue e divulguem em blogues, sites e onde quer que seja. Ele é mesmo especial e deve ser conhecido.)

Aqui vai:


Exposição de Isidro Ferrer: Das Mãos à Obra
Muito mais que ilustrações


Um editor pediu-lhe que ilustrasse o Libro de las Preguntas de Pablo Neruda. E Isidro Ferrer pôs-se a ler a obra toda do poeta. Mas não lhe bastou. Fez-se ao caminho e visitou todas as casas de Pablo. Por algum tempo, um foi o outro. O resultado pode ser visto em Cascais, na Biblioteca de São Domingos de Rana. Originais a três dimensões e sem respostas.



Pablo Neruda escrevia muito e sobre todas as coisas. Entre os textos encontrados e publicados depois da sua morte, está o Libro de las Preguntas, editado pela primeira vez em 1974 na Argentina. Em 2003, a editora Media Vaca quis publicá-lo e chamou o designer gráfico e ilustrador Isidro Ferrer. Fez bem. Mas teve de esperar três anos para o pôr nas bancas. Não fez mal. Os trabalhos de Isidro Ferrer são muito mais que ilustrações e estão expostos na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana até amanhã (20 de Novembro). Na Bedeteca de Lisboa, mostrou-se outra faceta de Ferrer: cartazes para espectáculos de teatro.

Para o Libro de las Preguntas, Isidro Ferrer leu toda a obra do poeta e visitou as suas várias casas. “Para o conhecer, saber por onde andara, o que vira, o que coleccionara”, explicou o ilustrador enquanto guiava a exposição durante o encontro Farol de Sonhos, em Cascais. “Não se pode pôr tudo num livro. Há que fazer um trabalho de depuração. Para condensar muita informação num só desenho, preciso de lhe procurar a essência”, disse ao Letra pequena. Por isso, socorre-se de palavras-chave dos textos propostos e só depois as materializa. Mas pode enganar-se: “Abandonei dois caminhos antes de chegar a este.” “Este” foi o de transformar o livro de Neruda num teatro de fantoches. Onde o próprio ilustrador aparece.



“Eu quero ser sempre os outros. Retiro deles tudo o que posso” e nunca deixa de revelar os artistas que o influenciam e inspiram em cada trabalho. Também gosta de enigmas, de criar ambientes de mistério, “não é só a beleza plástica que me interessa”. Neste caso, “não podia dar respostas às perguntas, para não matar o texto, nem ficar colado a elas, numa redundância, sem lhes acrescentar nada”.


Quando um trabalho acaba, sente “uma espécie de depressão pós-parto, mas cada projecto é um momento único. Não penso nunca em retomá-lo nem fico a cismar que deveria ter feito de outra maneira. Se o mesmo pedido acontecesse depois, já era outra coisa, outro trabalho. Os momentos não se repetem. Se o livro acabou, acabou.”

Atleta na adolescência e actor na juventude, agora é o quê? “Sou designer, pai, ilustrador, faço cartazes, desenho em cadernos, sou amigo, curioso, artesão.” Mas não lhe chamem artista. “Eu não crio nada, recrio.” E lembra: “A palavra ‘recriar’ em espanhol remete para ‘brincadeira’ [recreio, em português]. É isso que eu faço, brinco. Deus é que cria.” Mas não acredita nele. “Os princípios religiosos são bons. Levam-nos a pensar no bem, no mal. Isso é positivo. Gosto de acreditar numa força dentro de nós, nunca acima.”



Pensa (e diz) que é muito importante recuperar-se a alegria e o optimismo. “Estamos muito derrotados. A surpresa e a descoberta que a emoção proporciona foram anuladas pela informação. É preciso retomar a pausa e a calma e voltar a observar as coisas e desfrutar delas. A emoção está a ser esmagada pela informação. Conhecemos muito e não sentimos nada.”



Isidro Ferrer licenciou-se em Teatro em Saragoça e a cenografia interessou-o por ser diferente da arquitectura, mas realizou “só” três obras cenográficas. Durante um ano viveu em Paris para aprender mimo. Depois afastou-se do teatro. “Foi uma renúncia terapêutica, digamos assim.” E explica: “O teatro usa a mentira e a sedução em benefício próprio. Depois de algum tempo, já não és a pessoa nem a personagem. Não quero isso para mim.” No entanto, o teatro é recorrente na sua obra, quando não mesmo o cliente que lhe encomenda um cartaz. Ainda bem.

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