segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

303 - Dedicado a amigos especiais...

O último post deste ano tem uma dedicatória especial.
Um amigo de já longa data, mandou-me estas fotos de 2 passaros que visitaram o seu jardim.
Como uma imagem para além de valer por mil palavras também pode estar carregada de poesia, faz todo o sentido

fotos tiradas por Peter Milford














Prenúncio de Primavera
De novas vidas
De novos voos
Lentamente
Timidamente
A Primavera virá
Virá

domingo, 30 de dezembro de 2007

302 - Era inevitável...















É um "cliché" quase inevitável, por estas alturas do ano, fazer um balanço do dito!
Quem sou eu para fugir à regra, numa coisa que até gosto de fazer?

Vamos então a isso.

Aspectos positivos:
- experiências muito positivas e gratificantes na Gronelândia e Irlanda. Afinal o reconhecimento do valor daquilo que vamos fazendo é sempre algo que nos faz bem ouvir e sentir.
- As férias grandes - tempo de relax e de carregar baterias. As idas a Paris e praia pelos Algarves.
- As formações que orientei em Bibliotecas Escolares (Loures, Olivais, Azambuja, Benavente, Alcochete, DGIDC, ...) Foram experiências muito gratificantes de troca de experiências e de reflexão em conjunto sobre algo que me é querido. Penso que correram muito bem.
- Algumas das tarefas realizadas no Gabinete
- Amizades que se foram mantendo e outras que foram nascendo

Aspectos negativos:

Bom, como dizia Camões
"do mal ficam as mágoas na lembrança"
---
Aditamento (1 hora depois da publicação)
Não posso deixar de referir como negativo todas as mudanças na educação que não têm feito nenhum sentido nem garantem um melhor ensino nem melhores aprendizagens. No topo do fundo está o concurso de professor titular e tudo o que isso implicou.
---

A propósito de balanços de ano e de esperanças num futuro, fica muito bem este poema do qual só hoje tomei conhecimento a propósito da bonita foto de uma cigana tirada há 50 anos...


poema social

quero o orgulho desta criança
para enfrentar a vida,
o seu ar de desafio, o sabor
das tristezas que transporta
no olhar penetrante
por entre as farripas dos cabelos.
quero o seu aprumo sem família
contra o mundo.

talvez amanhã seja puta, drogada ou mesmo milionária
coberta de esmeraldas,
batedora de records de atletismo
ou simplesmente secretária,
empregada de balcão
a sonhar-se miss qualquer coisa
e a desprezar quem na esqueceu.
talvez dê em mulher-polícia, persiga irmãos e primos,

ou venda bugigangas pelas feiras
e cortes de fazenda , talvez me leia a sina
com um criança ranhosa nos braços
e a fala estropiada. ou talvez saiba os nomes das estrelas,
se doutore em física quântica no instituto max planck,
seja médica anestesista, actriz numa novela de subúrbio,
revolucionária de metralhadora em punho,
bailarina de cabaret a esvoaçar.
seja o que for, eu quero.
quero o seu brilho nos olhos,
a sua boca firme, o seu
cabelo em desalinho, os seus
andrajos, o todo mendicante às três pancadas,
a intimidar-me com a terrível experiência
da vida que já tem, da infância que nunca teve,
dos silêncios medidos de ter brincar aos adultos.

quero, just in case. não sei se muda o mundo.


Vasco Graça Moura, giraldomachias, onze poemas e um labirinto sobre fotografias de gérard castello-lopes

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

301 - Ou tudo ou nada













Amar ou Odiar

Amar ou odiar
Ou tudo ou nada
O meio termo é que não pode ser
A alma tem de estar sobressaltada
Para o nosso barro sentir, viver
Não é uma Cruz que não se queira pesada
Metade de um prazer, não é um prazer!
E quem quiser a vida sossegada
Fuja da vida e deixe-se morrer!
Vive-se tanto mais quanto se sente
Todo o valor está no que sofremos
Que nenhum homem seja indiferente!
Amemos muito como odiamos já!
A verdade está sempre nos extremos
Pois é no sentimento que ela está.

Fausto Guedes Teixeira

sábado, 22 de dezembro de 2007

299 - fantasia





















"Nella Fantasia"

Nella fantasia io vedo un mondo giusto,
Li tutti vivono in pace e in onestà.
Io sogno d'anime che sono sempre libere,
Come le nuvole che volano,
Pien' d'umanità in fondo all'anima.

Nella fantasia io vedo un mondo chiaro,
Li anche la notte è meno oscura.
Io sogno d'anime che sono sempre libere,
Come le nuvole che volano.

Nella fantasia esiste un vento caldo,
Che soffia sulle città, come amico.
Io sogno d'anime che sono sempre libere,
Come le nuvole che volano,
Pien' d'umanità in fondo all'anima.

[English translation:]

In my fantasy I see a just world
Where everyone lives in peace and honesty
I dream of a place to live that is always free
Like a cloud that floats
Full of humanity in the depths of the soul

In my fantasy I see a bright world
Where each night there is less darkness
I dream of souls that are always free
Like the cloud that floats

In my fantasy exists a warm wind
That breathes into the city, like a friend
I dream of souls that are always free
Like the cloud that floats

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

298 - Nunca mais é sábado














Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acbou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Chico Buarque
Consstrução

domingo, 16 de dezembro de 2007

297 - Pátria longínqua















Que mundo estranho é este
Em que me vejo e ouço?
Ou, que estranho sou eu
Que não o reconheço?
Que mundo estranho sou eu,
Que não me reconheço?

Que estranho sou eu?
Que não me encontro
Neste estranho mundo,
Que não conheço
Nem reconheço
Mas permaneço?

Que estranho mundo é este
Em que não me reconheço?
Ou que estranho sou eu
Que não me conheço?
Que estranho mundo sou eu,
E nele permaneço?

Que estranho eu sou este
Em que não me vejo nem me ouço?
Neste mundo que conheço
E no qual permaneço
Reconheço?
Não me reconheço?

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

296 - E por vezes



















E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão Ferreira

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

295 - Espírito Natalício III



















No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mão. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece")
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.

Fernando Pessoa

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

294 - Espírito Natalício II




The universal soldier
He's five feet two and he's six feet four
He fights with missiles and with spears
He's all of 31 and he's only 17
He's been a soldier for a thousand years

He's a Catholic, a Hindu, an atheist, a Jain,
a Buddhist and a Baptist and a Jew
and he knows he shouldn't kill
and he knows he always will
kill you for me my friend and me for you

And he's fighting for Canada,
he's fighting for France,
he's fighting for the USA,
and he's fighting for the Russians
and he's fighting for Japan,
and he thinks we'll put an end to war this way

And he's fighting for Democracy
and fighting for the Reds
He says it's for the peace of all
He's the one who must decide
who's to live and who's to die
and he never sees the writing on the walls

But without him how would Hitler have
condemned him at Dachau
Without him Caesar would have stood alone
He's the one who gives his body
as a weapon to a war
and without him all this killing can't go on

He's the universal soldier and he
really is to blame
His orders come from far away no more
They come from him, and you, and me
and brothers can't you see
this is not the way we put an end to war.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

293 - Espírito Natalício I



The Unknown soldier

Wait until the war is over
And were both a little older
The unknown soldier
Breakfast where the news is read
Television children fed
Unborn living, living, dead
Bullet strikes the helmets head
And its all over
For the unknown soldier
Its all over
For the unknown soldier
Hut
Hut
Hut ho hee up
Hut
Hut
Hut ho hee up
Hut
Hut
Hut ho hee up
Compnee
Halt
Preeee-zent!
Arms!
Make a grave for the unknown soldier
Nestled in your hollow shoulder
The unknown soldier
Breakfast where the news is read
Television children fed
Bullet strikes the helmets head
And, its all over
The war is over
Its all over
The war is over
Well, all over, baby
All over, baby
Oh, over, yeah
All over, baby
Wooooo, hah-hah
All over
All over, baby
Oh, woa-yeah
All over
All over
Heeeeyyyy

Jim Morrison

domingo, 9 de dezembro de 2007

292 - encontro / desencontro



















Síntese deste fim de semana:
"a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida"
Vinícius de Moraes

sábado, 8 de dezembro de 2007

291 - 25 anos (eu vim de longe)



















25 anos se passaram...
vistas as fotos fica-se mesmo com a noção de que é uma vida inteira. Muito se andou para aqui chegar. Mais fortes, mais serenos, tantos caminhos cruzados e muitos outros que não se fizeram...
No entanto um caminho se foi fazendo

Pena é já faltarem alguns

Venham os próximos 25


Eu vim de longe
de muito longe
o que eu andei p'ra'qui chegar
Eu vou p'ra longe
p'ra muito longe
onde nos vamos encontrar
com o que temos p'ra nos dar

E então olhei à minha volta
vi tanta esperança andar à solta
que não exitei
e os hinos cantei
foram feitos do meu coração
feitos de alegria e de paixão

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

290 - A escura noite...











Cuando se cierran mis ojos
Lloro mi vida perdida
La noche se quedó
La suerte me olvidó

Pasan los días, las noches
Puede la muerte levarme
E nada cambiará
Amor no volverá

Voy por la calle tan sola
Habo un camino infinito
Desoxida de amor
Me alejo in mí dolor

Pasan los días las noches
Puede la muerte levarme
E nada cambiará
Amor no volverá

Rodrigo Leão
Noche

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

289 - Tem lógica




















Num tempo em que os horários dos professores estão superpreenchidos com horas para isto e horas para aquilo que em nada contribuem para o sucesso dos alunos, nem para que os porfessores sejam melhores professores, mas apenas para calar certa opinião pública e publicada, faz todo o sentido o texto abaixo.
Ainda para mais quando se vê que apesar de todo o tempo dispendido na escola, o professor tem que chegar a casa e, à noite, preparar as suas aulas até às tantas...

Onde está o prémio para o melhor professor?


O Não Professor do Ano

By Pata Negra



Faço projectos, planos, planificações;
Sou membro de assembleias, conselhos, reuniões;
Escrevo actas, relatórios e relações;
Faço inventários, requerimentos e requisições;
Escrevo actas, faço contactos e comunicações;
Consulto ordens de serviço, circulares, normativos e legislações;
Preencho impressos, grelhas, fichas e observações;
Faço regimentos, regulamentos, projectos, planos, planificações;
Faço cópias de tudo, dossiers, arquivos e encadernações;
Participo em actividades, eventos, festividades e acções;
Faço balanços, balancetes e tiro conclusões;
Apresento, relato, critico e envolvo-me em auto-avaliações;
Defino estratégias, critérios, objectivos e consecuções;
Leio, corrijo, aprovo, releio múltiplas redacções;
Informo-me, investigo, estudo, frequento formações;
Redijo ordens, participações e autorizações;
Lavro actas, escrevo, participo em reuniões;
E mais actas, planos, projectos e avaliações;
E reuniões e reuniões e mais reuniões!...

E depois ouço,
alunos, pais, coordenadores, directores, inspectores,
observadores, secretários de estado, a ministra
e, como se não bastasse, outros professores,
e a ministra!...

Elaboro, verifico, analiso, avalio, aprovo;
Assino, rubrico, sumario, sintetizo, informo;
Averiguo, estudo, consulto, concluo,
Coisas curriculares, disciplinares, departamentais,
Educativas, pedagógicas, comportamentais,
De comunidade, de grupo, de turma, individuais,
Particulares, sigilosas, públicas, gerais,
Internas, externas, locais, nacionais,
Anuais, mensais, semanais, diárias e ainda querem mais?
- Que eu dê aulas!?...


---
Ah, o texto chegou-me por mail... não posso citar melhor o(a) autor(a)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

288 - balada do amor militante (3 de Dezembro)



















Balada do Amor Militante

O nosso amor é de combate. De coragem.
O nosso amor é de saudade. De cidade.
Amor sem casa amor sempre em viagem
o nosso amor é esta eternidade
de passagem.

O nosso amor é um rocinauta que não pára.
O nosso amor é de partido. De partidas.
Amor rebelde amor guerrilha amor Guevara
O nosso amor é de contínuas despedidas.

Deixa-me cantar uma canção de viajante
o nosso amor é sem rotina sem torpor
amor de todo o tempo num instante
amor por vezes sem amor
este amor militante.

(pp.228, Manuel Alegre, 30 Anos de Poesia, 1995, Lisboa: Dom Quixote)

domingo, 2 de dezembro de 2007

287 - ponto de fuga



















Foge comigo Maria
Para longe desta terra
Meu amor, p´ra toda a vida
É a paixão que nos leva

Se tu fosses girassol,
Eu seria beija-flor
Nesta cama sem lençol,
Se repete o nosso amor

Foge comigo Maria
Morre comigo Maria

Deita fora esse lenço,
Não te quero a chorar
Se o teu pai é burro-velho,
Só nos resta não voltar

De quem são estas palavras
Que me escreves meu amor
Se o vento seca as lágrimas
Não me cala esta dor...

Foge comigo Maria
Morre comigo Maria
Foge comigo Maria, já

António Manuel Ribeiro

1902 (da resiliência) - Do que um homem é capaz

Do que um homem é capaz? As coisas que ele faz Pra chegar aonde quer É capaz de dar a vida Pra levar de vencida Uma razão de viver A vida é ...