quinta-feira, 31 de março de 2011

Semana da leitura - um relato pessoal

 
Na semana passada tive a grata oportunidade de participar nas actividades da semana de leitura em duas escolas. Na minha, a EBI da Charneca de Caparica   e em Braga no agrupamento de Escolas do Carandá . As escolas fizeram propostas diferentes... Na minha a proposta teve como público alvo os professores. Estes foram convidados a ir bebver um chá à biblioteca e disfrutar da leitura de um livro. Foi uma excelente oportunidade para redescobrir a colecção da Biblioteca e ver as novidades. Saí de lá satisfeito pelo chá, pela companhia, pelas leituras e com três requisições domiciliárias!  

No Agrupamento de escolas do Carandá em Braga a proposta dirigia-se a toda a comunidade educativa e realizou-se após o jantar. Fiquei deveras impressionado com a adesão de pais, alunos, professores a uma 6ª feira à noite. A casa estava cheia e foi comovente ver e ouvir alunos, pais, professores e auxiliares de acção educativa dizer poesia...
Ficaram na memória a participação de algumas crianças emigrantes dos países de leste a direzem poesia na sua língua de origem (faz todo o sentido! experimente-se ser emigrante e perceber-se-á o sentido que as palavras ditas na nossa língua têm) e de um Auxiliar de Acção Educativa que disse "sonho" de Eugénio de Castro. Que belo, há poemas feitos mesmo para serem DITOS. Que força têm as palavras

Eugénio de Castro


Um Sonho

Na messe , que enlourece, estremece a quermesse...
O sol, celestial girasol, esmorece...
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas,cítaras,sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em Suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves
Suaves...

Flor! enquanto na messe estremece a quermesse
E o sol,o celestial girasol,esmorece,
Deixemos estes sons tão serenos e amenos,
Fujamos,Flor!à flor destes floridos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Como aqui se está bem!Além freme a quermesse...
- Não sentes um gemer dolente que esmorece?
São os amantes delirantes que em amenos
Beijos se beijam,Flor!à flor dos frescos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas,cítaras,sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em Suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Esmaiece na messe o rumor da quermesse...
- Não ouves este ai que esmaiece e esmorece?
É um noivo a quem fugiu a Flor de olhos amenos,
E chora a sua morta,absorto,à flor dos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Penumbra de veludo . Esmorece a quermesse...
Sob o meu braço lasso o meu Lírio esmorece...
Beijo-lhe os boreais belos lábios amenos,
Beijo que freme e foge à flor dos flóreos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos ,
Cítolas,cítaras,sistros ,
Soam suaves , sonolentos ,
Sonolentos e suaves ,
Em Suaves ,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Teus lábios de cinábrio,entreabre-os!Da quermesse
O rumor amolece,esmaiece,esmorece...
Dê-me que eu beije os teus morenos e amenos
Peitos!Rolemos,Flor!à flor dos flóreos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Ah! não resista mais a meus ais!Da quermesse
O atroador clangor,o rumor esmorece...
Rolemos,ó morena!em contactos amenos!
- Vibram três tiros à florida flor dos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas,cítaras,sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em Suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Três da manhã.Desperto incerto...E essa quermesse?
E a Flor que sonho? e o sonho? Ah!tudo isso esmorece!
No meu quarto uma luz,luz com lumes amenos,
Chora o vento lá fora,à flor dos flóreos fenos...

Arcachon,12 de julho de 1889.

quinta-feira, 24 de março de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

1308 - Para escrever o poema

























PARA ESCREVER O POEMA


O poeta quer escrever sobre um pássaro:
e o pássaro foge-lhe do verso.

O poeta quer escrever sobre a maçã:
e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.

O poeta quer escrever sobre uma flor:
e a flor murcha no jarro da estrofe.

Então, o poeta faz uma gaiola de palavras
para o pássaro não fugir.

Então, o poeta chama pela serpente
para que ela convença Eva a morder a maçã.

Então, o poeta põe água na estrofe para que a flor não murche.
Mas um pássaro não canta quando o fecham na gaiola.

A serpente não sai da terra
porque Eva tem medo de serpentes.

E a água que devia manter viva a flor
escorre por entre os versos.

E quando o poeta pousou a caneta,
o pássaro começou a voar,
Eva correu por entre as macieiras
e todas as flores nasceram da terra.

O poeta voltou a pegar na caneta,
escreveu o que tinha visto,
e o poema ficou feito.

Nuno Júdice, in A matéria do poema

segunda-feira, 21 de março de 2011

1307 - Dia mundial da Poesia

Dia mundial da palavra
Dia mundial da Primavera
Dia mundial do belo
Dia mundial da poesia

Aqui fica a minha homenagem

domingo, 20 de março de 2011

livros que todos deveríamos ler

Roubei a imagem daqui



















Bom, não é que os conheça todos mas é uma forma fabulosa de promoção da leitura e que daria um belíssimo cartaz!
A existir seria assim como uma lista de livros a não esquecer de adquirir e de ler!
Da minha parte vou ver se já os tenho todos e acrescentar alguns na minha lista de compras. já que me aconselham, devem ser bons!

1306 - Quando vier a Primavera





















Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Alberto Caeiro

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Nada melhor que um dia de sol e de calor para introduzir o dia da Poesia e o início da Primavera

quinta-feira, 17 de março de 2011

1305 - primeiros esboços





















Na sequência do post 1303...

Bom, considerando que:
a) O artista não tem e nunca teve formação e lhe falm conceitos básicos de gestão de espaço e perspectiva
b) O papel é de má qualidade
c) O artista não tem lápis de cor em condições
d) O artista não tem diversidade de cores que lhe permitam os tons


hum... uma caminhada começa com os primeiros passos

quarta-feira, 16 de março de 2011

1304 - Finalmente o cheiro da primavera

Finalmente vieram os dias de sol
Pelo jardim há cheiros e cores intensas
Intensíssimos

Vale pela vida parar 5 minutos para ver, sentir, tocar, respirar, cheirar, saborear


terça-feira, 15 de março de 2011

1303 - Resoluções (de ano novo)



















Então pois, o ano novo é quando um homem quiser! (o que é o 31 de Dezembro senão uma mera convenção?)

Decidi investir na pintura! começarei a dar os passos para aprender. Veremos...

Se tiveres de escolher um reino
escolhe o relento
a noite tem a brancura do alabastro
ou mais extraordinario ainda

Ao que vem depois de ti
cede o instante
sem pronunciar
seu nome

J. Tolentino Mendonça
A noite abre meus olhos

Estafeta dos contos passa hoje por Santo EsTtêvão das Galés


segunda-feira, 14 de março de 2011

Leituras nascidas na rádio

Desta vez, venho escrever sobre dois livros que acabei de ler. Ambos tiveram origem em programas de rádio dos anos 80 do século passado.

Este primeiro livro reúne um conjunto de conversas aos microfones da TSF entre o médico psiquiatra e psicanalista Carlos Amaral Dias e Ana Bravo, que tinha por título "O Inferno Somos Nós" e estas conversas cativam-nos. Discutem-se ali questões como a sexualidade infantil, a violência ( "não me espanta que (...) as crianças aprendam comportamentos de violência no interior da violência da própria família e em comportamentos que são fortemente desagregados no interior da família"), a anorexia, o primeiro amor, o divórcio. Para além das questões que coloca, CAD também esclarece dúvidas e sobretudo faz-nos pensar



Este livro circulou pelo país muito antes de ser editado, pelas casas e pelas vidas de algumas pessoas. Nasceu de uma extensa conversa radiofónica entre Carlos Amaral Dias e João Sousa Monteiro. Da Rádio Comercial chegou à letra.
De que se trata? Da vida das pessoas. Propõe um sentido poético, a reflexão, "dar forma aos sonhos" contra a normalização e apatia que abafam a vida. O diálogo, as hesitações, os silêncios, as divergências pontuais,...

Para quem é educador, estas leituras são imprescindíveis

1302 - Não desistas de mim



Não Desistas de Mim
Pedro Abrunhosa

A porta fechou-se contigo
Levaste na noite o meu chão
E agora neste quarto vazio
Não sei que outras sombras virão
E alguém ao longe me diz

Há um perfume que ficou na escada
E na TV o teu canal está aberto
Desenhos de corpos na cama fechada
São um mapa de um passado deserto
Eu sei que houve um tempo em que tu e eu
Fomos dois pássaros loucos
Voamos pelas ruas que fizemos céu
Somos a pele um do outro

Não desistas de mim
Não te percas agora
Não desistas de mim
A noite ainda demora

Ainda sei de cor o teu ventre
E o vestido rasgado de encanto
A luz da manhã e o teu corpo por dentro
E a pele na pele de quem se quer tanto

Não tenho mais segredos
Escondi-me nos teus dedos
Somos metades iguais
Mas hoje só hoje
Leva-me para onde vais
Que eu quero dizer-te

Não desistas de mim
Não te percas agora
Não desistas de mim
A noite ainda demora

E não desistas de mim
Não te percas agora


Pedro Abrunhosa

sábado, 12 de março de 2011

1300 - O que nos faz ser como somos...


Foi um momento absolutamente fantástico! reencontrei uma pessoa que já não via há mais de 25 anos e que era dos meus tempos de estudante em Coimbra!

Tivemos uma conversa absolutamente emotiva mas que me soube tão bem... foi como um reencontro de raízes...

A memória atraiçoa-nos quando olhamos sozinhos para trás ao fazer o balanço de perdas e ganhos, pensamos que mudámos muito e que há coisas que fazemos que podem ter razões espúrias. Fugas para a frente, sei lá. Levamos tantos anos a ser "julgados", "avaliados" a ser observados pelos outros que nos convencemos que as suas verdades sobre nós são mesmo verdades. E se fossem, perguntamos nós? e vamos interiorizando que mudámos, que já não somos fiéis ao que éramos, que isto e que isto aquilo...

Foi muito bom este momento arqueológico que nos fez consciencializar que somos o que já éramos e que o nosso percurso de vida é coerente com o que buscávamos

Já escrevi sobre isso e tenho memória duma conversa absolutamente banal que tive com a mãe de uma colega quando tinha os meus 13, 14 anos: "Voa alto! não deixes que a mediocridade seja a tua praia! voa!"

E bati as asas, procurei o belo, o amor, a perfeição e a pureza! em Coimbra ainda a procurava. Já era como sou agora. Bem me parecia mas já não me lembrava!

Tenho passado a vida a procurar esse ideal. Nunca o encontrei e já caí muitas vezes do "cavalo". Desilusões, dúvidas (muitas, muitíssimas)


"Quando um amigo pretende explicar o nosso carácter e destrinçar as nossa intenções, quando reduz todos os nossos actos a princípios, preconceitos, crenças, a uma concepção do mundo que, segundo ele, nos são próprios, ouvimo-lo, pouco à vontade, sem poder negar o que diz, nem aceitá-lo completamente.
Talvez a construção seja verdadeira,mas qual é a verdade? falta o calor íntimo, a vida, o imprevisível que somos sempre para nós próprios e a familiaridade cansada que somos também, e a decisão de nos acomodarmos a nós próprios ou de fugir a nós, e as deliberações perpétuas, e a invenção perpétua do que somos, e o juramento de sermos aquilo e não outra coisa, em suma, a Liberdade"

J.Paul Sartre in Ensaios

E se fosse verdade o que dizem de nós? que já não somos o que pensamos que somos? que é tudo agitação e fuga?

Procurei a verdade, a beleza, ... não a encontrei?
Sim há momentos em que a encontro!

Mas deste encontro com o passado fica uma reconciliação comigo próprio. Eu sempre fui assim! (quer dizer, isto não é argumento para não polir as arestas e melhorar, porra! não vivo sozinho) mas "pode alguém ser quem não é?"
Que bom consciencializar que tenho sido fiel a um ideal! que procurei, que tentei manter-me firme e decidido!

"Podes ter uma luta que é só tua
Ou então ir e vir com as marés
Se perderes a direcção da lua
Olha a sombra que...
tens colada aos pés"

Que bom saber que nunca perdi a sombra que tenho colada aos pés! que bom!
"after changes upon changes we are more or less the same" Com tudo o que bom pode ter esta frase! fidelidade, coerência!

Não!!!! felizmente que nunca poderei fazer minhas as palavras do Álvaro de Campos:

"Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?"

Não, não falhei! tenho sido coerente a um ideal. chega? chega pois! posso olhar-me ao espelho!

---
(não consigo escrever mais... se calhar a catarse não está ainda toda feita!)
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- Senhora de preto
diga o que lhe dói
é dor ou saudade
que o peito lhe rói
o que tem, o que foi
o que dói no peito?
- É que o meu homem partiu

Disse-me na praia
frente ao paredão
“tira a tua saia
dá-me a tua mão
o teu corpo, o teu mar
teu andar, teu passo
que vai sobre as ondas, vem”

Pode alguém ser quem não é?
Pode alguém ser quem não é?
Pode alguém ser quem não é?

Seja um bom agoiro
ou seja um mau presságio
sonhei com o choro
de alguém num naufrágio
não tenho confiança
já cansa este esperar
por uma carta em vão

“por cá me governo”
escreveu-me então
“aqui é quase Inverno
aí quase Verão
mês d'Abril, águas mil
no Brasil também tem
noites de S. João e mar”

Pode alguém ser quem não é?

É estranho no ventre
ser de outro lugar
e tão confusamente
ver desmoronar
um a um sonhos sãos
duas mãos
passando da alegria ao desamor

Pode alguém ser livre
se outro alguém não é
a algema dum outro
serve-me no pé
nas duas mãos,
sonhos vãos, pesadelos
diz-me:
Pode alguém ser quem não é?


1299 - Momentos Zen II




sexta-feira, 11 de março de 2011

Semana da leitura



Agora que se aproxima a semana da leitura não seria altura de pensar em ser CRIATIVO?
Quer dizer, não é que valha tudo, mas fazer diferente, inovar, fazer qualquer coisa que marque e/ou que deixe memória não fará isto sentido?

1298 - Que momento fantástico!



Este post era para ser sobre os momento zen do Carnaval, mas... há sortes que se fazem e esta noite foi uma delas. Que fantástico! há de facto, momentos inesquecíveis que devem ser guardados com muito cuidado para nos aquecerem naquelas alturas em que nada faz sentido

de facto a vida é um continuo de momentos, mas há, de facto, momentos qualitativos no meio de outros que os preparam

I met my old lover
On the street last night
She seemed so glad to see me
I just smiled
And we talked about some old times
And we drank ourselves some beers
Still crazy afler all these years
Oh, still crazy after all these years

I'm not the kind of man
Who tends to socialize
I seem to lean on
Old familiar ways
And I ain't no fool for love songs
That whisper in my ears
Still crazy afler all these years
Oh, still crazy after all these years

Four in the morning
Crapped out, yawning
Longing my life a--way
I'll never worry
Why should i?
It's all gonna fade

Now I sit by my window
And I watch the cars
I fear I'll do some damage
One fine day
But I would not be convicted
By a jury of my peers
Still crazy after all these years
Oh, still crazy
Still crazy
Still crazy after all these years


domingo, 6 de março de 2011

1294 - Cio da Terra




















































A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;

De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.

quarta-feira, 2 de março de 2011

terça-feira, 1 de março de 2011

Se não sabe porque é que pergunta?

Esta foi a minha leitura (por acaso é uma releitura) nos últimos dias. "Se não sabe porque é que pergunta?" é um dos dois livros que passaram a escrito os diálogos de João dos Santos com João Sousa Monteiro num programa de rádio que passou na rádio comercial nos anos 80 do século passado.
São conversas interessantíssimas sobre educação, psicologia do desenvolvimento, entrada na escola, dificuldades na leitura, relações entre pais e filhos.

É extraordinária  a forma simples como são debatidas estas temáticas e criam alguma sensibilidade no leitor para abordar questões muito comuns quando se é professor ou se tem filhos.

Não, não é eduquês! é muito bom senso aliado a uma grande experiência pessoal e profissional. É sobretudo muita atenção ao outro!

Sinto-me muito mais rico

1902 (da resiliência) - Do que um homem é capaz

Do que um homem é capaz? As coisas que ele faz Pra chegar aonde quer É capaz de dar a vida Pra levar de vencida Uma razão de viver A vida é ...