terça-feira, 29 de junho de 2010

1139 - O caçador


















O caçador

Agora sei que sou um caçador. Nada mais
que um caçador.
cacei de salto e de batida e de largada
sobretudo de espera. Palavras
imagens
rimas
combinações de sons e de sinais.
Tentei muitas vezes acertar no alvo
alguns amores saíram largos
outros perto demais
armadilha fatal
caçador caçado.
A história passou baixo e aos ziguezagues
Entre sombras e arbustos à beira de água
a história como a galinhola.
Ouvi o grito da narceja ao, levantar
mas era o bater da ilusão lírica
era o tempo a fugir
ou talvez Deus o sentido sem sentido.

Agora sei que não fiz senão caçar
o poema o sopro os anjos que passavam
a peça solitária
os olhos da corça à noite
as aves dos milagres os teus braços
eternidade de passagem lebre corredora.

Agora sei que sou um caçador
e que por mais que acerte haverá sempre
um tiro um pouco lento
ou demasiado à frente
uma perdiz que escapa mesmo ferida
uma perdiz ao vento
uma perdiz. Ou talvez o tempo. Ou talvez a vida.


Manuel Alegre

Sete fôlegos de um combatente

O livro lê-se num ápice, sobretudo para quem teve o privilégio de ter vivido os tempos da revolução de Abril e do PREC.



O livro apresenta a visão muito pessoal de um companheiro de Álvaro Cunhal sobre o que foi a sua luta e estratégias, avanços e recuos ao longo de três décadas de história.

É sempre interessante confirmar/refutar algumas ideias pré-concebidas do PREC e da posição/actuação do PCP nessa altura crítica agora explicadas por quem as viveu dentro do PCP

É, por fim, também um relato de uma grande amizade entre dois homens

domingo, 27 de junho de 2010

1138 - Isto anda outra vez mal...



Os meus pensamentos andavam noutras realidades mais inócuas e até me preaprava para postar um "let it be" dos saudosos Beatles, mas o telejornal de hoje (RTP1 e RTPN) despertou-me para uma realidade bem complicada

1 - Educação

O governo prepara-se para encerrar escolas com menos de 21 alunos. Parecia bem...
Mas a questão é: Mas isso vale para todas as escolas e em todos os contextos?
Imagine-se que aos miúdos de Lisboa se dizia para irem estudar para Óbidos ou vive versa? Ou aos meninos de Almada para estudarem em Setúbal? Ou aos do Porto para estudarem em Braga ou Estarreja?

Ah, é longe? Ah é preciso acordá-los uma hora mais cedo? Ah, é todos os dias? Ah, a desertificação do interior

Faz sentido? Veja-se em Mértola



2 - A Saúde

Por estes dias não há dinheiro para os hospitais que já encerraram nem para as Ambulâncias 112 (os tais VMER que eram topo de gama) - não há nada! imagine-se o sentimento de pânico das populações de determinadas regiões. Hoje era o fecho dos ex-SAP numa pequena aldeia do interior perto de Mértola

Ah, e onde fica o hospital mais próximo? Ah e quem me socorre? Ah e a médica que falta mais do que vem? Ah e não sai mais barato pagar um transporte a uma médica que os táxis aos doentes? ah, a desertificação do interior

3 - A justiça...

---

É duro ser português hoje! fazem sentido estas opções do governo?

Ah, a paz, o pão, habitação, saúde, educação

sexta-feira, 25 de junho de 2010

1137 - Eu tenho um ninho...
















Descoberto ontem por mero acaso... E já estão tão grandes! são 4.
ESpero que a gata não dê por eles



Eu Tenho um Melro
Deolinda
Composição: Pedro da Silva Martins

Eu tenho um melro
que é um achado.
De dia dorme,
à noite come
e canta o fado.

E, lá no prédio,
ouvem cantar...
E já desconfiam
que escondo alguém
para não mostrar.

Eu tenho um melro,
lá no meu quarto.
Não anda à solta,
porque, se ele voa,
cai sobre os gatos.

Cortei-lhe as asas
para não voar.
E ele faz das penas
lindos poemas
para me embalar.

Melro, melrinho,
e se acaso alguém te agarrar,
diz que não andas sozinho
que és esperado no teu lar.

Melro, melrinho
e se, por acaso, alguém te prender,
não cantes mais o fadinho,
não me queiras ver sofrer.

E não voltes mais,
que estas janelas não as abro nunca mais.

Eu tenho um melro
que é um prodígio.
Não faz a barba,
não faz a cama,
descuida o ninho...

Mas canta o fado
como ninguém.
Até me gabo
que tenho um melro
que ninguém tem.

Eu tenho um melro...
(-Que é um homem!)
Não é um homem...
(-E quem há-de ser?!)
É das canoras aves
aquela que mais me quer.

(-Deve ser homem!)
Ah, pois que não!
(Então mulher…)
Há de lá ser!?
É só um melro
com quem dá gosto adormecer.

Melro, melrinho...[refrão]

E não voltes mais,
que a tua gaiola serve a outros animais.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

1136 - Morreu um dos ícones do dia do fim da guerra

Notícia do el mundo

La enfermera que se hizo famosa al ser retratada 1945 mientras la besaba un marino estadounidense en Times Square, Nueva York, para celeberar el final de la Segunda Guerra Mundial ha muerto a los 91 años.

La fotografía del Día de la Victoria en la que Edith Shain aparece vestida de blanco fue capturada por Alfred Eisenstaedt en un momento épico de la historia de Estados Unidos y se convirtió en un ícono de la celebración del fin de la guerra en todo el mundo luego de que fue publicada en la revista 'Life'.

La identidad de la enfermera en la fotografía permaneció inédito hasta fines de la década de 1970, cuando Shain le escribió al fotógrafo diciendo que ella era la mujer de la imagen tomada el 14 de agosto. La identidad del marino no se ha esclarecido todavía.

La imagen también marcó la vida de Shain, la fama llegó a su vida. Se convirtió en un reclamo para para participar en eventos relacionados con la guerra, como ofrendas florales, desfiles y otros actos conmemorativos. "Mi madre siempre estuvo dispuesta a aceptar nuevos desafíos y su preocupación por los veteranos de la Segunda Guerra Mundial le dio energías para buscar ser diferente", ha dicho su hijo Justin Decker en un comunicado.

1135 - Final de ano lectivo

















Todos os anos é a mesma coisa, embora ache que este ano é pior.

Mal terminam as aulas surgem uma avalanche de tarefas para realizar que até assusta só de pensar (e serão todas necessárias meu Deus?)

- Relatórios,
- Reuniões de Conselhos de Turma,
- Conselhos pedagógicos,
- Formação,
- Reuniões,
- Papéis
- Prazos
- ...

Confesso andar sem tempo para nada, nem para pensar um pouco. Cada dia é apenas um pensar nas tarefas do dia seguinte e na necessidade de as cumprir e não falhar nenhuma importante
Escrevo num papelucho algumas das urgentes para não me esquecer. Risco uma e logo surgem mais duas...

Poesia?
Escrita?
Leituras?
Jardim?

Só aos domingos e é para não ficar com má consciência de não ligar nenhuma aos que me são próximos

Bom, quem me lesse parecia que até aqui nada era feito... Não é bem assim, o que releva aqui é que havia horários pré-estabelecidos e sabia com o que contar para a semana. Por estes dias há dead-lines e a obrigação de não falhar

E o sentido das coisas? esse é, decerto o de não terem sentido que também é um sentido. Que mania!

Bolas que até me esqueci do verão. Parece que nem para o visível há tempo


Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!

Alberto Caeiro

domingo, 20 de junho de 2010

1133 - Abraça-me bem



Abraça-me bem, cobre meu corpo enfim nesse agasalho
São os teus braços sim, cuida de mim
Basta-me um gesto, porém, abraça-me bem
Bem no teu colo
Chega-me mais a ti, um pouco mais...
Suavemente assim tudo por fim são mágoas que eu consolo bem no teu colo

Todo este céu de pássaros e tons muito assombrados traz o teu ser tão bom, todo este som, descerras o meu véu...todo este céu

Lançado à Terra sob restingas e ilhéus, nas sombras de asas... Lembram a ausência de um beijo, um último adeus
Só teu afago me espera lançado à Terra

E qualquer coisa acontece no mais alto dos céus
Qualquer coisa no fundo do meu coração,mas não sei das trevas nem da luz
Pois sem ti não há nem céu nem chão
E se a noite já ronda a minha cruz luz nas trevas, minha paixão

Abraça-me bem,Cobre meu corpo enfim nesse agasalho
São os teus braços sim, cuida de mim
Basta-me um gesto, porém, abraça-me bem
Chega-me mais a ti, um pouco mais...
Suavemente assim tudo por fim são mágoas que eu consolo bem no teu colo
Bem no teu colo...

1132 - A minha terra



Até há alguns anos tinha uma certa inveja das pessoas que tinham uma "terra" ou que iam à "terra". Eu, como filho da margem sul e vivendo sempre nela (excepto durante um ano de estudos em Coimbra) sentia-me sem terra.

Esses tinham identidade. Eu tinha uma cidade de casas e mais casas com um ou outro espaço com alguma beleza.

De há uns tempos para cá, sobretudo a partir das comemorações do 25 de Abril comecei a sentir-me identificado com a minha terra, embora essa identificação ainda não fosse racionalizada ou tivesse consciencializado isso.

Ao ver este vídeo que a Teresa me enviou consciencializei e verbalizei que tenho, de facto, uma terra.
Sinto orgulho dela! sinto-me identificado com alguma marginalidade, com uma certa urbanidade, com um viver de outra forma, identificado com o mundo do trabalho e do operariado.
Gosto da poesia urbana dos UHF, Da Wiesel, oquestrada...

Não pensem que me ofendem com certos estereótipos, antes pelo contrário. Identifico-me com eles

Eu sou português
aqui
em terra e fome talhado
feito de barro e carvão
rasgado pelo vento norte
amante certo da morte
no silêncio da agressão.

Eu sou português
aqui
mas nascido deste lado
do lado de cá da vida
do lado do sofrimento
da miséria repetida
do pé descalço
do vento.

Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.

Eu sou português
aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil
no gozo
no sorriso doloroso
no gingar dum marinheiro.

Nasci
deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura
da anedota
do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.

Eu sou português
aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.

Nasci
aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.

Nasci
aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.
Eu sou a festa
inacabada
quase ausente
eu sou a briga
a luta antiga
renovada
ainda urgente.

Eu sou português
aqui
o português sem mestre
mas com jeito.
Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito.

Et voilá!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

1130 - feelings
















O barco vai de saída
Adeus ao cais de Alfama
Se agora ou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P'ra lá da loucura
P'ra lá do Equador

Gingão de roda batida
corsário sem cruzado
ao som do baile mandado
em terra de pimenta e maravilha
com sonhos de prata e fantasia
com sonhos da cor do arco-íris
desvaira se os vires
desvairas magias

Já tenho a vela enfunada
marrano sem vergonha
judeu sem coisa nem fronha
vou de viagem ai que largada
só vejo cores ai que alegria
só vejo piratas e tesouros
são pratas, são ouros,
são noites, são dias

1129 - Últimos dias de aulas




Estamos mesmo no fim do ano lectivo... Os alunos e professores almoçam em conjunto e os miúdos preparam um texto e oferecem um caderno embelezado à D.T.

No fim, comovido, digo-lhes qualquer coisa que não consigo reproduzir mas que tinha esta ideia: "São estes momentos que nos fazem sentir que vale a pena ser professor e ter abraçado esta profissão. Obrigado"

Fica aqui o texto dito por eles

Almoço final de ano

28Conhecemos os nossos professores
Eles são os nossos saberes e sabores
É com eles que aprendemos
E conhecemos

27Obrigado por fazerem da aprendizagem,não um trabalho, mas um contentamento.
Por fazerem com que nos sentíssemos pessoas de valor; por nos ajudarem a descobrir o que fazer de melhor e assim, fazê-lo cada vez melhor.
Obrigado por afastarem o medo das coisas que pudéssemos não compreender; levando-nos, por fim, a compreendê-las...Por resolverem o que achávamos complicados...
Por serem pessoas dignas de nossa total confiança e a quem podemos recorrer quando a vida se mostrar difícil...
Obrigado por nos convencerem de que éramos melhores do que suspeitávamos.
21Obrigada por me terem ajudado a ultrapassar todas as dificuldades que senti ao longo do ano. Tiveram um papel muito importante na minha vida!
25 Vocês ensinaram-me muitas coisas(inglês, a escrever sem erros, matemática a fazer cálculos, HGP, a história do nosso país e muito mais) sem vocês não sei o que seria. foram severos(as) comigo quando foi preciso, mas hoje, para vos agradecer estamos juntos neste delicioso almoço!

24" Obrigada por tudo o que fizeram por nós. Foram todos vocês que nos ensinaram muita coisa"
7Obrigada pelas vossas colaborações durante o ano lectivo.
Aprendi muito com o ensino que me proporcionaram
23 Quando nos ensinavam , era com prazer e nós ouvíamos, por vezes distraídos
4Neste ano aprendi muitos novos conhecimentos e conheci novos professores e amigos.
Cresci um pouco e vivi emoções fantásticas não só com os amigos mas também com os professores.
Rimos, trabalhámos e sorrimos todos juntos
Queria agradecer a todos os professores por terem puxado por mim e passarem horas de muito trabalho só para nos darem uma aula em várias.
Foi o fim do ano lectivo e estou muito contente por estar ainda uns momentos convosco e ainda continuar a vê – los para o ano.

6Os meus professores
Que muito amei,
Ensinaram-me tanto
Do que agora eu sei!

22 Nestes períodos
Estivemos a aprender
Com estes professores
Tornámo-nos crianças a valer!

Brincadeira
É o que não falta,
No intervalo
Estamos na ribalta

Nas aulas
Aprendemos coisas importantes
Tivemos que estudar muito,
Não era como antes!!!

10Matemática e Português
São as disciplinas mais importantes,
Mas é na de Inglês
Que os meus progressos são constantes.

Agora que vamos de férias
Partimos para a brincadeira
Para estarmos uns com os outros
Havemos de arranjar maneira

1Mas ,com tudo isto, queremos dizer que foram muito importantes para nós neste ano lectivo , ensinaram-nos, repreenderam-nos, enfim marcaram-nos na nossa vida …
É por isso , que não há outra palavra para vos dizer sem ser um grande OBRIGADA .

16 de Junho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

1128 - beber do cálice



















Pode ajudar-se alguém a beber do cálice?
O cálice de alguém pode ser bebido por outro?
Que se pode fazer por alguém que quer beber um cálice?

Se alguém deve percorrer um caminho esse alguém deve ser impedido?
Se alguém bebe um cálice no caminho bebemos com ele?
Se um caminho impedido for percorrido, como evitar o cálice?

Um alguém, um cálice, um caminho
Um observador, um cálice, um alguém
Um caminho a percorrer
Um cálice a ser bebido

Deixa-o ir
Um caminho deve ser percorrido

João P.
Jun 10

1127 - Cenas (semi- campestres) citadinas

Dois dias engraçados...

Ontem cheguei a casa e a gata passeava-se no jardim gozando alguma liberdade. Veio ter comigo dar-me as boas vindas...

Hoje foi dia de colheita no damasqueiro... Bem melhor do que a cerejeira e ainda ficaram muitos na árvore!


terça-feira, 15 de junho de 2010

1126 - Mas eu conheço algumas...



RETRATO DE MÓNICA

Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da «Liga Internacional das Mulheres Inúteis», ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, ir a muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, coleccionar colheres do séc. XVII, jogar golfe, deitar-se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstracta, ser sócia de todas as sociedades musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria.

Tenho conhecido na vida muitas pessoas parecidas com a Mónica. Mas são só a sua caricatura. Esquecem-se sempre ou do ioga ou da pintura abstracta.

Por trás de tudo isto há um trabalho severo e sem tréguas e uma disciplina rigorosa e constante. Pode-se dizer que Mónica trabalha de sol a sol.

De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.

A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.

Isto obriga Mónica a observar uma disciplina severa. Como se diz no circo, «qualquer distracção pode causar a morte do artista». Mónica nunca tem uma distracção. Todos os seus vestidos são bem escolhidos e todos os seus amigos são úteis. Como um instrumento de precisão, ela mede o grau de utilidade de todas as situações e de todas as pessoas. E como um cavalo bem ensinado, ela salta sem tocar os obstáculos e limpa todos os percursos. Por isso tudo lhe corre bem, até os desgostos.

Os jantares de Mónica também correm sempre muito bem. Cada lugar é um emprego de capital. A comida é óptima e na conversa toda a gente está sempre de acordo, porque Mónica nunca convida pessoas que possam ter opiniões inoportunas. Ela põe a sua inteligência ao serviço da estupidez. Ou, mais exactamente: a sua inteligência é feita da estupidez dos outros. Esta é a forma de inteligência que garante o domínio. Por isso o reino de Mónica é sólido e grande.

Ela é íntima de mandarins e de banqueiros e é também íntima de manicuras, caixeiros e cabeleireiros. Quando ela chega a um cabeleireiro ou a uma loja, fala sempre com a voz num tom mais elevado para que todos compreendam que ela chegou. E precipitam-se manicuras e caixeiros. A chegada de Mónica é, em toda a parte, sempre um sucesso. Quando ela está na praia, o próprio Sol se enerva.

O marido de Mónica é um pobre diabo que Mónica transformou num homem importantíssimo. Deste marido maçador Mónica tem tirado o máximo rendimento. Ela ajuda-o, aconselha-o, governa-o. Quando ele é nomeado administrador de mais alguma coisa, é Mónica que é nomeada. Eles não são o homem e a mulher. Não são o casamento. São, antes, dois sócios trabalhando para o triunfo da mesma firma. O contrato que os une é indissolúvel, pois o divórcio arruína as situações mundanas. O mundo dos negócios é bem-pensante.

É por isso que Mónica, tendo renunciado à santidade, se dedica com grande dinamismo a obras de caridade. Ela faz casacos de tricot para as crianças que os seus amigos condenam à fome. Às vezes, quando os casacos estão prontos, as crianças já morreram de fome. Mas a vida continua. E o sucesso de Mónica também. Ela todos os anos parece mais nova. A miséria, a humilhação, a ruína não roçam sequer a fímbria dos seus vestidos. Entre ela e os humilhados e ofendidos não há nada de comum.

E por isso Mónica está nas melhores relações com o Príncipe deste Mundo. Ela é sua partidária fiel, cantora das suas virtudes, admiradora de seus silêncios e de seus discursos. Admiradora da sua obra, que está ao serviço dela, admiradora do seu espírito, que ela serve.

Pode-se dizer que em cada edifício construído neste tempo houve sempre uma pedra trazida por Mónica.

Há vários meses que não vejo Mónica. Ultimamente contaram-me que em certa festa ela estivera muito tempo conversando com o Príncipe deste Mundo. Falavam os dois com grande intimidade. Nisto não há evidentemente, nenhum mal. Toda a gente sabe que Mónica é seriíssima toda a gente sabe que o Príncipe deste Mundo é um homem austero e casto.

Não é o desejo do amor que os une. O que os une e justamente uma vontade sem amor.

E é natural que ele mostre publicamente a sua gratidão por Mónica. Todos sabemos que ela é o seu maior apoio; mais firme fundamento do seu poder.


Sophia de Mello Breyner Andresen
Contos Exemplares
Porto, Figueirinhas, 1996 (29ª ed.).

sábado, 12 de junho de 2010

1125 - Quem vem e atravessa o rio...

Quem vem e atravessa o rio...

Fica fascinado com o que viu!

(Por estes dias em Gaia numa formação de formadores)



sexta-feira, 11 de junho de 2010

1124 - Não ainda não cheguei a um estado zen

Não ainda não cheguei a um estado Zen (ver texto abaixo), mas também não quero chegar a um estado de absoluta paranóia, fechado num mundo do diz-que-diz e numa análise do significado de pequenas coisas que podem querer dizer isto ou aquilo.

Definitivamente não quero isto para mim!
Paranóia... Nunca!


De há uns meses para cá fui percebendo que um ciclo se fechou e que estava à espera de algo que NUNCA (N u n c a ) viria.
Como dizia o outro, ninguém se banha duas vezes na mesma água de um rio e eu esperava que a água viesse de novo de modo a poder nela banhar-me.

Basta!

Quero partir para outra... Estou a partir para outra!

Investi muito? Sonhei grande? paciência. Como costumava dizer a muitos: não olhes para o que perdeste nem para as opções que não fizeste... Lembra-te que o melhor ainda está para vir e que quem sabe faz a hora

Novos projectos, novas metas, novos desafios e um mestrado que retomei!
Não sei para onde vou! mas sei que nenhum vento é favorável para quem não sabe para onde vai e, sobretudo, para quem está amarrado a terra. O caminho faz-se, fazendo e partindo

Partirei pois (aliás, já parti!) não esperarei mais


Quanto à fúria da história abaixo, se calhar, foi o que tentei fazer durante alguns tempo. Confesso que perdi a paciência!


"A Lição da Paciência


Um mandarim que se preparava para desempenhar um importante cargo oficial recebeu a visita de um amigo que lhe foi apresentar as despedidas. Abraçaram-se e o amigo recomendou-lhe:
— Acima de tudo, no desempenho das tuas importantes funções, nunca percas a paciência.

Prometeu o mandarim que nunca esqueceria este precioso conselho.
Três vezes repetiu o amigo a mesma recomendação, provocando o enfado do mandarim. Quando se preparava para o fazer pela quarta vez, o mandarim exaltou-se e gritou:
— Basta, eu não sou surdo e muito menos sou um imbecil!

Então o amigo, acalmando-o com a mão posta sobre o seu ombro, fez este comentário:
— Podes assim ver como é importante ser paciente. Três vezes ouviste o meu conselho, já não conseguindo dissimular o enfado. À quarta vez não conseguiste controlar a fúria. O que acontecerá quando, no desempenho do teu cargo, tiveres de ser verdadeiramente paciente?

O amigo baixou os olhos para o chão e limitou-se a suspirar.


J. J. Letria
Contos da China antiga
Porto, Ambar, 2002"

quarta-feira, 9 de junho de 2010

1123- Cúmplices



Cúmplices
Mafalda Veiga

A noite vem às vezes tão perdida
E quase nada parece bater certo
Há qualquer coisa em nos inquieta e ferida
E tudo que era fundo fica perto

Nem sempre o chão da alma é seguro
Nem sempre o tempo cura qualquer dor
E o sabor a fim do mar que vem do escuro
É tantas vezes o que resta do calor

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Trocamos as palavras mais escondidas
E só a noite arranca sem doer
Seremos cúmplices o resto da vida
Ou talvez só até amanhecer

Fica tão fácil entregar a alma
A quem nos traga um sopro do deserto
Olhar onde a distância nunca acalma
Esperando o que vier de peito aberto

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

terça-feira, 8 de junho de 2010

1122 - Dia de colheita (!)

Hoje foi dia de colheita
A minha cerejeira tinha...

...

1 cereja!

Mas ao menos é grande

(maldita chuva de inverno. O ano passado teve umas vinte (acho eu) e como a árvore é nova, esperava este ano muito mais)

Já tenho fruta para o jantar!


1121 - Quando se fala de um trabalhador eficiente




Nem sei como comentar!
Como a minha secretária está sempre desarrumada... Mais um bom exemplo de algo que não se enquadra nos padrões pré-estabelecidos!

domingo, 6 de junho de 2010

1120 - Qual é a coisa que faz mais sentido?

























E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

Obrigado Maria pela inspiração. Hoje faz muito sentido!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Papa Please Get The Moon For Me

já tinha desfolhado o livro umas 3 vezes na FNAC mas deixava-o ficar por falta de dinheiro na altura.

Descobri-lo no Youtube foi um espanto. É liiindo

(penso que ganhou um prémio de ilustração)


wiki sobre livros e leituras

Na página abaixo podem ser encontrados uma série de recursos sobre livros, leituras, leitores...

Vale a pena...

http://bookleads.wikispaces.com/

1902 (da resiliência) - Do que um homem é capaz

Do que um homem é capaz? As coisas que ele faz Pra chegar aonde quer É capaz de dar a vida Pra levar de vencida Uma razão de viver A vida é ...