sexta-feira, 6 de novembro de 2009

944 - De volta a Lisboa

Após dois meses de trabalho intenssíssimo as coisas voltam lentamente às rotinas. Continua um ritmo louco mas, pelo menos, já há paciência e lucidez para conceber um pause, ainda que pequena.

Retomei os passeios de sexta à tarde.

A tarde começou com a saída na estação do metro do terreiro do paço e com uma bica no Martinho da Arcada


Depois foi começar a subir a Mouraria. A próxima paragem foi na Sé e com o espanto da descoberta dos claustros da Sé. Simplesmente fabuloso! aquelas escavações que pôem a descoberto a Lisboa medieval, A Lisboa árabe, a Lisboa romana é, simplemente, impressionante. A quantidade de civilizações e gentes de aqui veveram antes de mim. Quantos sonhos e vidas por aqui passaram.



Depois, pela primeira, vez uma visita ao teatro romano! Conceber como teria sido a Lisboa de outras era é uma tarefa intressantíssima. Que surpresas nos reservará ainda a Lisboa subterrânea?


A paragem seguinte foi à porta da casa onde viveu Ary dos Santos. Daqui se entende todo o seu amor por Lisboa e a poesia que escreveu sobre ela. Como poderia ser outra coisa com a poesia a entrar pela janela dentro?



Por fim a chegada ao castelo e a maravilha das vistas e dos telhados vermelhos.



Dei de caras com o Ricardo Reis a abrir a janela de sua casa no Miradouro de Santa Catarina: " Ricardo Reis aproximou-se duma janela, através da vidraça sem cortina viu as palmeiras do largo, o Adamastor, os velhos sentados no banco, e o rio sujo de barro lá adiante, os barcos de guerra com a proa virada para terra, por eles não se sabe se a maré está a encher ou a vazar, demorando aqui um pouco logo veremos,[...] Ricardo Reis percorreu de novo toda a casa, não pensava, olhava apenas, depois foi à janela, a proa dos barcos estava virada para cima, para montante, sinal de que a maré descia. Os velhos continuavam sentados no mesmo banco."
(José Saramago: O ano da Morte de Ricardo Reis)

Então meu caro Ricardo Reis... Com que então fugiste do Hotel Bragança? Arranjaste-a bonita! algo andaste a tramar... Sim, vejo-te à janela da tua nova casa e imagino-te... não tens fuga. Razão tinha o Pimenta... Chamado à PVDE, boa rez não podes ser...
Eu vejo-te daqui, aceno-te. Será que me estás a ver?

Mais tarde, dei de caras com a Sophia num banco...

LISBOA

Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver

E não é que, mais tarde, na rádio se falava do nonagésimo aniversário de Sophia e se a ouvia em gravações antigas?

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