terça-feira, 26 de junho de 2007

225 - a idade dos porquês



















A Idade dos Porquês

Professor, diz-me porquê?
Porque voa o papagaio que solto no ar
que vejo voar tão alto no vento
que o meu pensamento não pode alcançar?
Professor, diz-me porquê?
Porque roda o meu pião
ele não tem nenhuma roda
e roda, gira, rodopia, e cai morto no chão.
Tenho nove anos, professor
e há tanto mistério à minha volta
que eu queria desvendar…
porque é que o céu é azul?
Porque é que marulha o mar? Porquê?
Tanto porquê que eu queria saber
e tu que não me queres responder!
Tu falas, falas, professor,
daquilo que te interessa
e que a mim não me interessa
tu obrigas-me a ouvir, quando eu quero falar
tu obrigas-me a dizer, quando eu quero escutar
se eu vou a descobrir, fazes-me decorar
é a luta, professor,
a luta, em vez do amor.
Eu sou uma criança
Tu és mais forte, mais alto, mais poderoso
E a minha lança quebra-se de encontro à tua muralha.
Mas enquanto a tua voz zangada ralha, tu sabes, professor,
eu fecho-me por dentro
faço uma cara resignada e finjo,
finjo que não penso em nada
mas penso, penso em como era engraçada
aquela rã que de manhã ouvi coaxar
que graça tinha aquela andorinha
que ontem à tarde vi passar
e quando tu depois vens definir
o que são conjunções e proposições
quando me fazes repetir que os corações
têm duas aurículas e dois ventrículos
e tantas, tantas mais definições,
o meu coração, o meu coração,
que não sei como é feito, nem quero saber
cresce, cresce, dentro do peito,
a querer saltar cá para fora, professor
a ver se tu assim compreenderias
e me farias mais belos os dias.

Alice Gomes

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