Tempo de chuva tempo de Adriano tempo de luta tempo de Alegre tempo de chuva tempo de Mendes tempor de chuva tempo de Adriano tempo de luta tempo de Adriano tempo de Abril Adriano, Ary, Zeca tempo de Maio Zeca, Adriano, Ary tempo de chuva Tempo de LUTA!!!!!!
Maria (a propósito de uma chuva de Abril, metáfora do muito que a esperança de Abril tem para cumprir)
II
Que o poema seja microfone e fale uma noite destas de repente às três e tal para que a lua estoire e o sono estale e a gente acorde finalmente em Portugal.
Hoje está sol e vejo-te bela, como todos os dias. És verde em movimento.És azul água que reflecte o céu. És imensa na tua harmonia desconcertada. És rotação e translacção. És construção. És desconstrução. E os homens querem-te na mão. Fazem-te agitar, rolar, desregular... (porque tudo querem controlar!) Como lhes foges? como te escondes? só as mães sabem de certos mistérios!) Deixa-me espreitar! És redonda de terra e grávida de vida. És minha mãe,mas eu gosto de te levar ao colo. Aconchegar-te a mim.Usar de todo o cuidado... Adormecer contigo num abraço apertado... Porque és minha e eu pertenço-te.Porque nos amamos!
P.S. às vezes porto-me mal, eu sei. Mas estou a ganhar mais juízo! Também sei que as mães perdoam. E tu és mãe!
Reconheço que me "passo" com determinado tipo de gente que nunca se engana e raramente tem dúvidas, que afirma nunca terem precisado de ajuda, que são auto-suficientes e pouco humildes... É tudo "doutores" e "engenheiros" que pouca paciência têm para ver o outro lado...
Por isso me acalma a música do Rui Veloso do Cavaleiro Andante... Tantas e tantas vezes também preciso do meu...
Mas também sei que quando a ouço é um novo dia de sol que nasce...
Poema em Linha Reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Quando parece que tudo deixa de fazer sentido Há um fazer sentido que o outro te dá Basta estar atento Basta estar de coração à escuta Quando menos esperas e já desesperas Eis que algo de novo sempre te surpreende
É isto o ser humano A capacidade de ser Outro A capacidade de ser sempre diferente e de te surpreender
Que bom estar vivo! Que bom existirem os outros!
João P. Abril 09
--- Contexto: afogado em papéis pago caro a folga que me dei a semana passada. Fui surpreendido com gestos profundamente humanos e gratuitos.
Os amigos amei despido de ternura fatigada; uns iam, outros vinham, a nenhum perguntava porque partia, porque ficava; era pouco o que tinha, pouco o que dava, mas também só queria partilhar a sede de alegria — por mais amarga.
Eugénio de Andrade, in "Coração do Dia"
(Obrigado Clotilde pela sugestão involuntária(?) do post)
A tarde de hoje foi dedicada à ida ao Aquário Vasco da Gama. Há imensos anos que não ia lá...
Foi dia de relembrar outros tempos....
A primeira fez que lá fui (que me recorde) foi pela mão dos meus pais e lembro-me bem de me ter apavorado com a visão de um peixe (terá sido a enguia eléctrica que já não existe? terá sido pela visão de outros peixes que me pareceram enormes na altura?). Devia ser bem pequeno. Voltei lá algumas vezes com a escola e durante a adolescência. Quantos e quantos miúdos como eu se maravilharam com as focas (ou otárias) e com as tartarugas? Elas (ou outras novas) continuam lá a fazer as delícias dos pequenos (e maiores). Hoje fixei a atenção também na parte museológica e com a actividade científica do Rei D. Carlos. Claro que hoje exageros por parte da Monarquia ao viver com luxos e opulência numa altura em que grande parte da população se "matava" para sobreviver,mas há que lhe reconhecer o mérito de ter posto Portugal na rota diplomática e de promover a ciência neste país... Gostei de ver a preocupação ambiental do Aquário. Parar era morrer e o Aquário não parou (apesar da grande concorrência do oceanário). Vêm-se lá painéis e salas novas (as dos anfíbios, o auditório...)Parabéns pelo dinamismo. Mas o que gostei mais de ver foram os avós e netos a saborearem o aquário... Nesta pausa de Páscoa, foi muito enternecedor ver crianças pelas mãos dos avós a visitarem o aquário e a verem um espaço que lhes deve parecer enooooorme, com peixes enooormes e a escutarem todas as explicações que os avós (pacientemente)lhes dão... Abençoadas pausas que permitem estes tempos de qualidade. Foi também muito bonito ver os trabalhos das escolas expostos no auditório Outras crianças como eu fui se deslumbram com as focas e as tartarugas e descrevem a seu modo toda a aprendizagem de um dia de visita... É fantástico observar os desenhos e a forma como as crianças descrevem os peixes e os tamanhos que lhes dão. Também não é de desprezar a forma como elas representam os adultos que lhes são significativos...
Como diziaa canção: "são os putos deste povo a aprenderem a ser gente"
A visita terminou no café do Aquário (com vista para o Tejo) e com um tempo de leitura da "ética para um jovem" do Savater .