HOUVE UM TEMPO
Houve uma vez
um momento
um dia em que fui feliz
e não estava lá.
Havia cores
borboletas
arco-íris.
Havia metáforas concretas
mãos despidas
de outra literatura que não fosse pão
cebola
sorriso de menino
ou barco a subir no ar.
Houve uma vez
um momento
um dia em que fui feliz
e não estava lá.
Caminhei exaustivamente
por dentro do coração.
Na margem que acolheu a minha idade em fogo
fui beber as doces águas
de todo o peregrino.
Mas nunca estive ali
no epicentro
da perfeita perfeição
de algumas flores.
Caminhei em busca
do misterioso sentido das noites de Natal
do cheiro a cera dos soalhos de infância
do amor tal qual se diz.
Quando lá cheguei
foi a outro lugar que cheguei.
Não sei se bom ou mau
mas outro.
Foi sempre a outro lugar que cheguei
de cada vez que fui feliz.
José Fanha, Tempo Azul
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