terça-feira, 27 de junho de 2017

1488 (do amor) - Endechas a Barbara escrava

Endechas a Barbara escrava 

A üa cativa com quem andava d´amores na Índia chamada bárbora

Aquela cativa,
que me tem cativo,
porque nela vivo,
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa,
 que em suaves molhos,
que para meus olhos,
 fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
nem no céu estrelas,
me parecem belas,
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
 mas não de matar.

üa graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora,
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
 onde o povo vão
perde opinião,
que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura,
que trocara a cor.
Leda mansidão,
que o siso acompanha:
bem parece estranha,
mas bárbara não.

Presença serena,
que a tormenta amansa:
nela enfim descansa,
toda a minha pena.
Esta é a cativa,
que me tem cativo,
e, pois nela vivo,
é força que viva

Luís de Camões 

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