sábado, 11 de dezembro de 2010

1233 - A minha playlist

Para esta não são necessárias muitas palavras. Acompanha(ou)-me há muitos anos. Passou já a fase do ritmo intenso e adoro esta versão mais calma, mas muito cúmplice, e ternurenta da Rita Lee e do Milton Nascimento

Encontro de corpos claro, mas encontro de pessoas e de afinidades/cumplicidades e esta versão é tão cúmplice!

Tentando imaginar loucuras
A gente faz amor por telepatia
No chão, no ar, na lua, na melodia
Mania de você
Imaginar
Na melodia
Nada melhor que não fazer nada


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

1232 - Como em frente a um espelho



Perante um espelho

Eis-me perante um espelho
Quem vejo?
O que vejo?
Como me vejo?

Que imagem fica gravada?
Tu quem vês?
O que vês?
Como vês?

Eis-me perante um espelho
Vejo?
Sou eu?
Revejo-me?

Um espelho vê?
Um espelho julga?
Uma espelho sabe o que vê?
Um espelho?

Quem perante um espelho
Se vê?
Se julga?
Se revê?

Imagens?
Miragens?
Instantes?
Juízos?

O que se vê diante de um espelho?

...
Um espelho tem o direito de fazer juízos?
Um espelho tem o direito de...
Um espelho...

Espelhos
Imagens
Miragens

Pois
É puro narcicismo
espelho espelho meu, existe alguém?...
É isso

João P.
Dez 10

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(Felizmente que já vou compreendendo o que me põe fora de mim em certas alturas... identifico claramente, Agora só falta saber o como lidar...
Come chocolates pequena, come chocolates!)

Não, a música não é deprimente! é uma das músicas da minha infância que guardo muito cá dentro... Recorda-me bons momentos

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

1231 - Humores

Hoje foi um daqueles dias 4 estações

Pela manhã andei deprimidissimo às voltas com a minha auto-estima e com a imagem que os outros têm ou não de mim

Pela tarde não me saía da cabeça a construção do Chico Buarque

Pelas 9 da noite uma entrevista no jornal das 9 que não consegui continuar a ver a propósito de políticas educativas (como o magalhães, ou o inglês do 1º Ciclo ou os agrupamentos deste ano) a implicar o sucesso dos alunos do 9º ano nos teste do Pisa do ano passado!

Pela noite ofereci-me a mim próprio uma noite de cinema (com o DVD - Cabaret). Mas que filme fabuloso, actualismo. Belo

E a mensagem final então... Life is a Cabaret... Let's take profite of it!
Não me apetece ser como a Elsie da canção...



What good is sitting alone in your room?
Come hear the music play.
Life is a Cabaret, old chum,
Come to the Cabaret.

Put down the knitting,
The book and the broom.
Time for a holiday.
Life is Cabaret, old chum,
Come to the Cabaret.

Come taste the wine,
Come hear the band.
Come blow your horn,
Start celebrating;
Right this way,
Your table's waiting

No use permitting
soem prophet of doom
To wipe every smile away.
Come hear the music play.
Life is a Cabaret, old chum,
Come to the Cabaret!

I used to have a girlfriend
known as Elsie
With whom I shared
Four sordid rooms in Chelsea

She wasn't what you'd call
A blushing flower...
As a matter of fact
She rented by the hour.

The day she died the neighbors
came to snicker:
"Well, thats what comes
from to much pills and liquor."

But when I saw her laid out like a Queen
She was the happiest...corpse...
I'd ever seen.

I think of Elsie to this very day.
I'd remember how'd she turn to me and say:
"What good is sitting alone in your room?
Come hear the music play.
Life is a Cabaret, old chum,
Come to the Cabaret."

And as for me,
I made up my mind back in Chelsea,
When I go, I'm going like Elsie.

Start by admitting
From cradle to tomb
Isn't that long a stay.
Life is a Cabaret, old chum,
Only a Cabaret, old chum,
And I love a Cabaret!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

1229 - Noite de temporal

















É Noite
É noite. A noite é muito escura. Numa casa a uma grande distância
Brilha a luz duma janela.
Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabeça.
É curioso que toda a vida do indivíduo que ali mora, e que não sei quem é,
Atrai-me só por essa luz vista de longe.
Sem dúvida que a vida dele é real e ele tem cara, gestos, família e profissão. Mas agora só me importa a luz da janela dele.
Apesar de a luz estar ali por ele a ter acendido,
A luz é a realidade imediata para mim.
Eu nunca passo para além da realidade imediata.
Para além da realidade imediata não há nada.
Se eu, de onde estou, só veio aquela luz,
Em relação à distância onde estou há só aquela luz.
O homem e a família dele são reais do lado de lá da janela.
Eu estou do lado de cá, a uma grande distância.
A luz apagou-se.
Que me importa que o homem continue a existir?

Alberto Caeiro

domingo, 5 de dezembro de 2010

1228 - Afinal há excepções à austeridade II












Saber viver é vender a alma ao diabo

Gosto dos que não sabem viver,
dos que se esquecem de comer a sopa
((Allez-vous bientôt manger votre soupe,
s... b... de marchand de nuages?»)
e embarcam na primeira nuvem
para um reino sem pressa e sem dever.

Gosto dos que sonham enquanto o leite sobe,
transborda e escorre, já rio no chão,
e gosto de quem lhes segue o sonho
e lhes margina o rio com árvores de papel.

Gosto de Ofélia ao sabor da corrente.
Contigo é que me entendo,
piquena que te matas por amor
a cada novo e infeliz amor
e um dia morres mesmo
em «grande parva, que ele há tanto homem!»

(Dá Veloso-o-Frecheiro um grande grito?..)

Gosto do Napoleão-dos-Manicómios,
da Julieta-das-Trapeiras,
do Tenório-dos-Bairros
que passa fomeca mas não perde proa e parlapié...

Passarinheiros, também gosto de vocês!
Será isso viver, vender canários
que mais parecem sabonetes de limão,
vender fuliginosos passarocos implumes?

Não é viver.
É arte, lazeira, briol, poesia pura!

Não faço (quem é parvo?) a apologia do mendigo;
não me bandeio (que eu já vi esse filme...)
com gerações perdidas.

Mas senta aqui, mendigo:
vamos fazer um esparguete dos teus atacadores
e comê-lo como as pessoas educadas,
que não levantam o esparguete acima da cabeça
nem o chupam como você, seu irrecuperável!

E tu, derradeira geração perdida,
confia-me os teus sonhos de pureza
e cai de borco, que eu chamo-te ao meio-dia...

Por que não põem cifrões em vez de cruzes
nos túmulos desses rapazes desembarcados p'ra
[morrer?

Gosto deles assim, tão sem futuro,
enquanto se anunciam boas perspectivas
para o franco frrrrançais
e os politichiens si habiles, si rusés,
evitam mesmo a tempo a cornada fatal!

Les portugueux...
não pensam noutra coisa
senão no arame, nos carcanhóis, na estilha,
nos pintores, nas aflitas,
no tojé, na grana, no tempero,
nos marcolinos, nas fanfas, no balúrdio e
... sont toujours gueux,
mas gosto deles só porque não querem
apanhar as nozes...

Dize tu: - Já começou, porém, a racionalização do
[trabalho.
Direi eu: - Todavia o manguito será por muito tempo
o mais económico dos gestos!

*

Saber viver é vender a alma ao diabo,
a um diabo humanal, sem qualquer transcendência,
a um diabo que não espreita a alma, mas o furo,
a um satanazim que se dá por contente
de te levar a ti, de escarnecer de mim...



Alexandre O´Neill
Poesias Completas
1951/1981

1903 - (da Resiliência) Crónica de um dia de praia

Decidi ir à praia à tarde. Chego à Costa de Caparica e ao parque de estacionamento. Vejo muitos carros a sair; fico satisfeito por pensar ...