sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

1893 (da consciência de si) - António: ou esse gajo e eu

António: ou esse gajo e eu

Para que estou eu aqui a faalr sobre este gajo
que ninguém sabe quem foi
perdeu uma batalha em Alcântara
(embora eu que estive lá ache que não)
Um gajo que já vinha de Alcácer Quibir
filho de filho de rei e de uma judia
um gajo que o pvo queria e que por isso
ninguém denunciou durante os meses
em que andou escondido de casa em casa
um gajo que partou para o exílio
rei e não rei
levando anéis para comprar apoios
até ficar só com os dedos.
Um gajo que foi símbolo de um país que já não era
tão azarado que depois de tanto esforço
ao chegar a Peniche em uma armada
viu Drake piratear os portugueses
a peste matar um terço dos soldads
e depois ao seguir para Lisboa
não teve povo levantado
teve sorrisos acenos caras fechadas.
O povo já não é o mesmo
disse alguém.
Era e não era. Queria e não queria
um dia pronto a morrer no outro nem por isso.
Um gajo que mesmo assim não desistiu
nem deixou de ser o rei que só não tinha
Estado
e se calhar ainda bem
assim ao menos pode ser poema.
Porque estou a falar de tudo isto?
Talvez sem querer esteja a falar de mim
e dos que sonharam como Sena
outro país
exilados de fora
exilados de dentro
a si mesmo se pondo em causa
porque só desse modo pode amar-se a pátria
como a si mesmo talvez se interrogasse o gajo
que só a sós consigo foi António Rei
quase poder quase tudo quase ninguém
como o país que dentro dele se perdeu .
Escrebo porque esse gajo
também sou eu.

Manuel Alegre

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