sábado, 3 de fevereiro de 2007

147 - Como tudo se mantém muito actual...




















Aos sócios da “Nova Arcádia”]

Vós, ó Franças, Semedos, Quintanilhas,
Macedos e outras pestes condenadas;
Vós, de cujas buzinas penduradas
Tremem de Jove as melindrosas filhas;

Vós, néscios, que mamais das vis quadrilhas
Do baixo vulgo insossas gargalhadas,
Por versos maus, por trovas aleijadas,
De quem engenhais as vossas maravilhas,

Deixai Elmano, que inocente e honrado
Nunca de vós se lembra, meditando
Em coisas sérias, de mais alto estado;

E se quereis, os olhos alongando,
Ei-lo! Vede-o no Pindo recostado,
De perna erguida sobre vós mijando!



A Academia literária Nova Arcádia foi fundada no ano de 1790 e logo que a fama de improvisador de Bocage lhe chegou ao conhecimento, a Academia convidou-o para sócio. As sessões, presididas pelo padre mulato Domingos Caldas Barbosa (o "Lereno"), cantor de lânguidas modinhas brasileiras acompanhadas à guitarra ou à viola, muito em voga nos salões da época, realizavam-se em casa do Conde de Pombeiro (o "fofo conde", segundo a irónica expressão de Bocage) ou do Conde de Vimioso, outro aristocrático mecenas.
Eram essas as famosas "quartas feiras de Lereno", preenchidas com chá, torradas e bolinhos, canto, recitação e doses maciças de elogio mútuo, no meio de muita mesquinhez e artifício. Bocage, que adoptara o sobrenome poético de Elmano Sadino, retratou essas reuniões insípidas com a ironia e a graça de que tão bem conhecia o segredo e foi implacável nos seus ataques aos sócios da Arcádia.
Membro desta associação durante três anos, Elmano acabou por se saturar daquela atmosfera de mediocridade e devido às suas sátiras mordazes aos membros da Arcádia, acabou por dela ser expulso. A guerra verbal, de enorme violência, continuou impiedosa por algum tempo, para grande gáudio do público, ávido de sensacionalismo. Entretanto a Arcádia, coberta de ridículo e de sarcasmo acabou por sucumbir, enquanto por seu lado, Bocage publicava em 1791 o 1º volume das suas Rimas.

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