quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

351 - Quando faltam as palavras



















Quando faltam as palavras
Quando faltam as ...
Quando faltam ...
Quando ...

E se fossem as palavras que estivessem a mais?
E se passou a ser proibido falar?

domingo, 24 de fevereiro de 2008

350 - My little game















Deus não tem unidade,
Como a terei eu?
Fernando Pessoa)





Not to touch the earth
Not to see the sun
Nothing left to do, but
Run, run, run
Let's run
Let's run

House upon the hill
Moon is lying still
Shadows of the trees
Witnessing the wild breeze
C'mon baby run with me
Let's run

Run with me
Run with me
Run with me
Let's run

Once I had a little game
I liked to crawl back in my brain
I think you know the game I mean
I mean the game called go insane
Now you should try this little game
Just close your eyes forget your name
Forget the world, forget the people
And well erect a different steeple.

This little game is fun to do.
Just close your eyes, no way to lose.
And Im right here, Im going too.
Release control, were breaking through.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

335 - O tejo é mais belo















O problema é que, hoje, me refiro ao mesmo rio (imagem do Tejo tirada em Escaroupim a 2 de Fev 08)


poema XX, Alberto Caeiro

O Tejo é mais belo que o rio que corre na minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre na minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêm em tudo o que lá não está,
A memória das Naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.

Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior que o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

313 - As palavras V


















"Escrever não é um processo límpido. A maior parte das vezes tenho a sensação de entrar num labirinto levado por um ritmo, de perseguir qualquer coisa que me foge e amo desesperadamente, e desesperadamente quero possuir, numa luta corpo a corpo, em que o ser se joga inteiro... Vou às cegas para o poema, como certos animais por instinto caminham para a morte. As palavras aí estão, amorfas, ainda. A mão, com infinita paciência, vai-as aproximando, criam-se tensões entre algumas, outras fundem-se para a eternidade, e assim vai nascendo o poema. Ritmo, palavras, imagens, e a ordem dos factores não é arbitrária. Um pequeno organismo começa por respirar, a exigir atenção."


In "do silêncio à palavra" Eugénio de Andrade

domingo, 13 de janeiro de 2008

311- As palavras IV














"sim. Conheço as palavras. Tenho um vocabulário próprio... A minha vida passou para o dicionário que sou... Algúem que me procure tem de começar - e de se ficar pelas palavras"

sábado, 12 de janeiro de 2008

310 - As palavras III
















“Conheço as palavras pelo dorso. Outro, no meu lugar, diria que eu sou um domador de palavras. Mas só eu - eu e os meus irmãos - sei em que medida sou eu que sou domado por elas. A iniciativa pertence-lhes. São elas que conduzem o meu trenó sem chicote, nem rédeas, nem caminho determinado antes da grande aventura.
Sim. Conheço as palavras. Tenho um vocabulário próprio. O que sofri, o que vim a saber com muito esforço fez inchar, rolar umas sobre as outras as palavras. As palavras são seixos que rolo na boca antes de as soletrar. São pesadas e caem. São o contrário dos pássaros, embora “pássaro” seja uma das palavras. A minha vida passou para o dicionário que sou. A vida não interessa. Alguém que me procure tem de começar - e de se ficar pelas palavras. Através das várias relações de vizinhança, entre elas estabelecidas no poema, talvez venha a saber alguma coisa. Até não saber nada, como eu não sei.”

Ruy Belo

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

309 - As palavras II















As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes. Algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são como carraças: vêm nos livros, nos jornais,
nos “slogans” publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o que fazem.

In Deste mundo e o outro
José Saramago

1903 - (da Resiliência) Crónica de um dia de praia

Decidi ir à praia à tarde. Chego à Costa de Caparica e ao parque de estacionamento. Vejo muitos carros a sair; fico satisfeito por pensar ...